quinta-feira, 26 de abril de 2018

Já se paga 12 meses à cabeça para conseguir arrendar casa



Já se paga 12 meses à cabeça para conseguir arrendar casa
Ana Margarida Pinheiro 20.04.2018 / 08:00

Escassez de casas no mercado já gera 70 ofertas por dia e por apartamento.
Cativar o proprietário requer imaginação
Os fiadores eram a salvaguarda e as cauções a almofada para alguma eventualidade, mas o congestionamento do mercado veio mudar tudo. Aos candidatos a arrendamento já não basta mostrar que têm capacidade financeira para pagar o valor pedido pelo proprietário; hoje em dia é preciso apelar à imaginação. O objetivo é simples: cativar o dono da casa e ultrapassar dezenas de interessados em arrendar o mesmo imóvel. “As propostas são cada vez mais floreadas porque os candidatos a arrendamento sentem que não basta oferecer o que é pedido, é necessário reforçar a proposta”, conta Nuno Gomes, da Remax Prestige, ao Dinheiro Vivo. “Enquanto no mercado de compra e venda, quando mediado por um profissional, o comprador não passa necessariamente pela escolha do dono da casa, no arrendamento o proprietário tem uma escolha a fazer, que sabemos que tanto se pode basear em questões raciais, nacionalidade, duração do contrato, como também com os plus oferecidos”, realça. A grande tendência, conta Marta C., mediadora na área de Lisboa, Cascais, Sintra e Oeiras, é adiantar rendas. E longe vão os tempos em que dois ou três meses bastavam. “Cada vez mais são oferecidos valores à cabeça que variam entre meio ano e um ano de renda”, conta a comercial, acrescentando que “fazem-no portugueses e estrangeiros para passar a concorrência, mas também para mostrar a sua disponibilidade para ocupar o imóvel por vários meses, e atestar uma idoneidade financeira que, no caso dos estrangeiros, é fundamental quando não existe um histórico contributivo em Portugal”. Não é só. “Também juntam aos contratos, por exemplo, opções de compra do imóvel após fim do contrato para mostrarem que estão comprometidos com o imóvel”, acrescenta Nuno Gomes, detalhando que esta necessidade de obter vantagem face a outros é nova e começa a ganhar contornos quase divertidos por escassez de casas para arrendar. “Neste momento posso dizer que tenho uma base de clientes em espera tão grande que basta libertar um imóvel para arrendamento de manhã, que à tarde já tem ocupante”, reforça o comercial, admitindo que num único dia chegam a chover mais de 70 propostas. Marta, que trabalha com outra agência imobiliária, confirma o fenómeno. “No momento em que disponibilizamos um imóvel tenho de avisar a minha secretária para estar preparada. O telefone explode durante aquele dia e já se torna impensável marcar visitas diárias aos apartamentos, temos de fazer casas abertas.” Abrir a casa para visitas é uma prática habitual na compra e venda, mas só agora começa a ganhar força para o arrendamento. “A porta está aberta, faz-se a visita e depois envia-se a proposta. No dia em que fui, estava relativamente calmo, mas percebi que as visitas iriam continuar por dois dias antes de se analisarem as propostas”, conta Sara M., que escolheu a casa para arrendar através desta modalidade de visita. Conseguiu o imóvel T2, há pouco mais de um ano, sem uma proposta com embrulho bonito, mas assume que “com os valores praticados hoje em dia são poucos os que conseguem oferecer sequer as três rendas pedidas pelos proprietários, quanto mais avançar um ano à cabeça”. Marta C. lembra que no campeonato das ofertas “com lacinhos”, os brasileiros e franceses são os estrangeiros mais aguerridos. Os primeiros para “arrendar uma boa casa, até encontrarem o imóvel que vão comprar para viver permanentemente em Portugal”; os segundos “para testar o ambiente do país e mudarem-se, depois, com as suas famílias para um imóvel que adquirem”. Ambos optam por zonas centrais. As associações de proprietários não negam a escassez de casas para arrendar, especialmente nos grandes centros urbanos e assume que há muitos proprietários a preferir ter imóveis desocupados a arriscar o arrendamento. “Não há falta de casas em Portugal, mas há muitas casas desocupadas que, por diversas razões, não estão a entrar no mercado”, considera António Frias Marques, da Associação Nacional de Proprietários (ANP).

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