terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O PSD no seu labirinto / Rui Rio ganhou… a pensar na derrota de 2019

O PSD no seu labirinto
José Miguel Júdice
Há semanas, perguntei para que serve o PSD. Há duas respostas claras e simples:

Serve para ser o líder de um bloco alternativo de direita ao PS (sendo este último o líder do bloco de esquerda).
Serve para ser o partido da coligação natural com o PS (ora liderando um, ora liderando o outro).

Pelo menos desde 1978, para Sá Carneiro o PSD passou a ser o líder de um bloco alternativo (apesar de, taticamente, antes da AD em 1979, ter retoricamente feito propostas ao PS), sei do que falo porque vivi tudo isso muito próximo dele.

O contrário era defendido pelo chamado grupo das “Opções Inadiáveis”, que abandonou com estrondo o PSD, dividindo a meio o seu grupo parlamentar em Junho de 1978. Os Inadiáveis falavam (como Rui Rio) na matriz social-democrata, e queriam a filiação na Internacional Socialista.

O PSD, esse, tem oscilado sem se definir. Como com a ASAE na loja da Ginginha – uma grande exigência teórica de ideologia social-democrata (por vezes indo até ao “patrulheirismo”). Como em Tondela, “facilitando” – um total laxismo prático -, adesão à Internacional de Direita moderada onde coabita com o CDS. Com posições políticas de direita em matérias como o aborto e outras causas fraturantes, pendor estatizante de matriz “salazarista” (“na base finanças sãs”).

Estou à vontade no que digo, porque não me revejo na visão direitista do PSD, mas desde há mais de 40 anos que defendo a bipolarização liderada pelos partidos moderados de cada um dos lados. Por isso me felicitei com a opção de António Costa.

E agora, a habitual pergunta: Porque é que Rui Rio ganhou? Não digo que não haja muitos fatores (como por exemplo o receio de que Santana Lopes não conseguisse nos debates futuros libertar-se de 2004), mas há um que foi decisivo: Os ‘laranjinhas’ acham que o PS vai ganhar em 2019 e não querem ficar mais quatro anos na oposição. Marques Mendes, bom conhecedor da casa, falou com sinceridade, o que é sempre de louvar quando acontece.

Por isso é que estas eleições repetem de novo os temas de 1978, desta vez os Inadiáveis não sairiam do PSD. Desta vez, quem sairia era Sá Carneiro, que, aliás, nos meses antes de morrer pensava seriamente nisso.

Rui Rio, afinal, conhecia melhor o partido do que Santana Lopes. Esteve sempre a dizer que apoiaria um governo minoritário do PS, se necessário. Ele sabia que era isso que o novo PSD, afinal, deseja, desde logo porque todos acham que vão perder as eleições de 2019 e não querem ficar de fora do Estado tanto tempo. E Rui Rio recebeu um claro mandato para viabilizar um governo do PS, com o sonho de matar a bipolarização rumo ao bloco central. Isso é um importante facto que o distingue do meu querido amigo e professor Mota Pinto, que criou o bloco central com o PS, apenas por achar que assim deveria e tinha de ser.

Que tudo isto seja agora uma ilusão, pouco importa. Realmente, o mais provável é até que o PS ganhe com maioria absoluta, e o PS já percebeu (veremos a esse propósito o que se passa na Alemanha, de que falarei após o Congresso do SPD do próximo fim de semana) que aliar-se à direita será deixar de ser o grande partido central do sistema político português (o mais próximo que podemos ter de um partido hegemónico).

O problema é que um PSD esquizofrénico num Estado esquizofrénico é demais. A desagregação do PSD é mais provável do que muitos pensam. Sobretudo se, todo contentinho…, conseguir “vender a alma ao diabo”… Vamos esperar para ver.
José Miguel Júdice


Rui Rio ganhou… a pensar na derrota de 2019

Por mais ideias que Rio tenha para o futuro do país e do seu partido, ele precisa de permanecer na liderança para as implementar. A sua prioridade até ao final de 2019 será só uma: sobreviver.

João Miguel Tavares 
16 de Janeiro de 2018, 6:23

Há muita gente espantada com o facto de Rui Rio ter anunciado durante a campanha para a liderança do PSD a sua disponibilidade para se aliar com António Costa em caso de derrota nas eleições de 2019. Nos debates com Santana Lopes, Rio não recorreu às habituais evasivas sobre o tema – “não é o momento para discutir esse assunto”, “não admito à partida a hipótese de derrota”, e outras banalidades –, preferindo assumir a possibilidade de perder as próximas legislativas e a abertura para formar um novo Bloco Central. Muita gente não percebeu esta opção e achou mesmo que ela iria beneficiar Santana – e pode, de facto, ter reduzido a margem da sua vitória. Mas, se pensarmos um bocadinho, o que Rui Rio fez é perfeitamente compreensível, e até avisado: o novo presidente do PSD tem menos de dois anos para se preparar para a derrota nas próximas legislativas, e por isso começou em Janeiro de 2018 a construir o caminho para a sua sobrevivência política após Outubro de 2019.

A não ser que o desacreditado diabo sempre acabe por aparecer, o que nesta altura ninguém prevê, António Costa vai ganhar as próximas eleições com facilidade, por mais intervenções vistosas que Rui Rio faça. A razão é simples: os governos caem por demérito próprio ou cansaço dos eleitores, e não pelo brilhantismo da oposição. Ora, o país não está cansado de Costa e do seu Governo. E Rio não esteve tanto tempo à espera de chegar à liderança do PSD para o seu mandato durar um ano e nove meses, e de seguida ser corrido por um qualquer Montenegro. A sua estratégia não pode, portanto, passar por imitar Santana Lopes, com um discurso exageradamente optimista e um voluntarismo inversamente proporcional à sua eficácia, mas sim de cautelosamente gizar uma estratégia que lhe dê alternativas para se aguentar na São Caetano à Lapa após uma vitória por maioria relativa do PS.

Claro que se Costa ganhar por maioria absoluta Rui Rio está condenado. Mas se o PSD encurtar distâncias para o PS e conseguir uma derrota honrosa, ele pode ter hipóteses de se manter no lugar. Se o PS aceitar a criação de um novo Bloco Central com o argumento das reformas de que o país precisa, o PSD acabará por regressar ao poder. E se o PS não aceitar – como, no fundo, penso que Rio pretenderá –, ele poderá então argumentar que o PS se encostou, por vontade própria, à extrema-esquerda, solidificando a posição do PSD como alternativa moderada a uma segunda “geringonça”, que certamente não terá a estâmina da primeira.


Não vale a pena estar aqui a argumentar com a imprevisibilidade da política. Sim, tudo isto pode correr mal. Mas, em cada momento, é necessário ter um plano para o futuro, e, se este for o de Rui Rio, não me parece mal construído – até porque Rio terá em Marcelo um aliado, por mais desentendimentos que possam ter tido no passado. Marcelo é pragmático e está pouco interessado em que os portugueses ofereçam uma maioria absoluta ao PS, desde logo porque isso iria diminuir o seu próprio poder. Visto desta perspectiva, a ideia de assumir à partida a possibilidade de um Bloco Central é a estratégia mais interessante para Rui Rio não ser um simples líder a dois anos. É evidente que aquilo que é bom para Rui Rio não é necessariamente bom para o PSD. Mas essa é uma outra conversa. Por mais ideias que Rio tenha para o futuro do país e do seu partido, ele precisa de permanecer na liderança para as implementar. A sua prioridade até ao final de 2019 será só uma: sobreviver.

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