terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Fecho de hospitais e Maria Matos motivam protestos de cidadãos


Fecho de hospitais e Maria Matos motivam protestos de cidadãos

O encerramento de hospitais no centro da cidade e a concessão do Maria Matos a privados levou cidadãos indignados à Assembleia Municipal

JOÃO PEDRO PINCHA 23 de Janeiro de 2018, 20:11

Não é muito frequente haver um público numeroso nas bancadas da Assembleia Municipal de Lisboa. Menos frequente é haver manifestações desse público. Acontecimento extraordinário é haver duas manifestações no mesmo dia. Foi o que aconteceu esta terça-feira, depois de duas intervenções inflamadas de cidadãos logo no início da reunião.

A primeira foi de Fátima Amaral, que se apresentou em nome da Plataforma Lisboa em Defesa do Serviço Nacional de Saúde para pedir aos deputados que “sensibilizem os órgãos de soberania, designadamente a Assembleia da República e o Governo, para a necessidade de anular o processo de encerramento dos hospitais do Centro Hospitalar de Lisboa Central”.

A construção do novo Hospital de Lisboa Oriental, em Chelas, vai levar ao encerramento ou à modificação de uso dos hospitais de São José, Santa Marta, Curry Cabral, Capuchos, Dona Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa. A Plataforma, composta por comissões de utentes e sindicatos, está contra. “Para nós, a construção do novo hospital não pode servir de desculpa para destruir seis hospitais públicos”, disse Fátima Amaral, que alegou estar prevista uma “redução de 400 camas, de 40% dos blocos operatórios e gabinetes de consulta médica e eliminação de cerca de dois mil postos de trabalho” com a abertura do futuro hospital.

A Plataforma quer que o novo equipamento seja construído e posto a funcionar (exclusivamente com dinheiro público e não através de uma PPP, como está previsto), mas diz que os seis hospitais do centro “garantem, dada a sua boa localização geográfica, o melhor acesso dos utentes destas zonas da cidade, tendo em atenção o progressivo aumento do envelhecimento da população”.

Ainda Fátima Amaral não tinha acabado de falar e já uma parte do público se levantava em protesto, gritando “A saúde é um direito, não é um negócio!”. Rui Paulo Figueiredo, deputado do PS que presidiu aos trabalhos desta terça, esperou que o clamor abrandasse para advertir que teria de mandar esvaziar a bancada caso a manifestação se prolongasse.

Logo de seguida interveio o munícipe Rui Mourão, que acusou a câmara de querer fazer “uma negociata” com “a privatização do Maria Matos”. Para ele, a concessão que a autarquia idealizou, focada num teatro para o grande público, é uma manobra de “travestismo político”. “A estupidificação geral da cultura não tem espaço suficiente na televisão, ainda é preciso ir tomar um dos únicos espaços nobres da cidade”, ironizou. “Dizem que é para diversificar a oferta, mas acabam com a diversidade”, disse ainda.


Mais uma vez se ouviram vozes de contestação da bancada do público, desta vez a gritar “Negociatas não, não passarão!” repetidas vezes. Rui Paulo Figueiredo ameaçou pedir à polícia que interviesse, o protesto parou pouco depois. E os trabalhos continuaram.

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