segunda-feira, 28 de março de 2016

The awakening conscience / Depois de Miguel e Paulo, haverá espaço para mais um Portas na política? Catarina diz nim

The awakening conscience (Holman Hunt)
Repentinamente, mas não casualmente, um bem preparado perfilamento pessoal, publicado em plataforma efectiva de divulgação mediática, surge, apresentando uma nova “Paladina Cultural” que “pretende” sintetizar e representar, num simples gesto e atitude, uma luta árdua de contestação de muitos, ao longo de sombrios e árduos anos.
Se todo este perfilamento e consciente campanha mediática servir, como instrumento de pressão sobre Salgado e respectivas políticas Urbanísticas, muito bem … mas nào esquecer que Catarina ao apoiar António Costa, e respectivamente Salgado, e ao aceitar as suas benesses, benesses essas pagas com o seu apoio à campanha de Costa, (ver vídeo, em baixo) contribuiu para o processo que ela agora critíca.
Pois é Catarina , as coisas não são assim tão simples, e as opções políticas e suas consequências para as cidades , não são tão simples como opções “gourmet” …
Catarina ainda terá que evoluir muito para poder sequer “falar” de Ada Colau ...

OVOODOCORVO

Depois de Miguel e Paulo, haverá espaço para mais um Portas na política? Catarina diz nim

CARLOS VAZ MARQUES (Entrevista)
27/03/2016 – PÚBLICO

Preocupada com o rumo da situação a nível autárquico, Catarina Portas admite que tem havido quem lhe fale na possibilidade de uma candidatura à Câmara de Lisboa. Encolhe os ombros e diz que “só se o panorama fosse absolutamente assustador”.

( … ) A possibilidade de dar um passo em frente já lhe ocorreu?
Não sei. Tenho muito que fazer n’A Vida Portuguesa.

Isso é um não?
Há quem brinque comigo – pessoas que conheço e pessoas que não conheço – e me fale dessa possibilidade. Não é um objectivo meu, de todo. Agora, não sei quem vão ser os candidatos à câmara, e preocupa-me quem serão. Há outro aspecto: a eleição do Rui Moreira, no Porto, veio provar que os presidentes de câmara das grandes cidades podem ser independentes. Isso é uma coisa extremamente positiva.

Já se percebeu que uma candidatura autárquica não é uma prioridade sua, mas é uma possibilidade?
Só se o panorama fosse absolutamente assustador é que eu podia considerar essa hipótese.

Descreva-me o que seria para si um panorama absolutamente assustador.
A cidade está num momento muito crítico, e espero que o próximo executivo da Câmara siga um caminho mais interessante do que aquele que está a ser seguido.

Está desiludida com Fernando Medina?
Estou muito desiludida, estou. Fui apoiante de António Costa no primeiro mandato e acho que foi um bom mandato. Assisti de perto a duas coisas: uma foram os quiosques, com o vereador Sá Fernandes. Por outro lado, abri uma loja no Intendente, renovado pela câmara. A câmara não é a minha senhoria, mas abri ali uma loja e assisti de perto a um processo que estava a ser muitíssimo bem conduzido. Tenho alguma pena de que no dia a seguir às eleições tudo isso tenha sido abandonado.

Refere-se às eleições que deram o segundo mandato a António Costa?
Sim. Quando o António Costa deixou de estar no seu gabinete no Intendente e passou para a câmara. O que é natural, tinha de o fazer. Mas de alguma forma a atenção da câmara esmoreceu muito. Foi imediatamente desfeito o GABIP (Grupo de Apoio ao Bairro de Intervenção Prioritária), o gabinete que tinha sido criado para aquela renovação. Quando se faz um investimento público tão grande como o que se fez no Intendente, depois tem de se continuar. A gestão de uma câmara não é só macro: é uma gestão macro e uma gestão micro. E é preciso que as duas avancem em simultâneo, senão geram-se desequilíbrios grandes.

O que é que mudou desde que Fernando Medina substituiu António Costa?
Mudaram várias coisas que não têm a ver com Fernando Medina. O turismo em Lisboa não tem a ver com o Fernando Medina. Tem a ver com vários factores, como as low cost. E tem a ver com todo um trabalho feito pelo anterior Governo e pelo secretário de Estado do Turismo, que foi bastante hábil e inteligente.

O secretário de Estado Adolfo Mesquita Nunes.
Sim, ele fez um bom lugar. E tem a ver obviamente com uma cidade que António Costa tornou muito atractiva. Não tenho nenhuma dúvida sobre isso. É uma cidade que agora sai à rua. Há dez anos, Lisboa quase não tinha esplanadas. Quando tive a ideia dos quiosques, tinha essa vontade. Como não tenho carro e não guio, ando muito a pé. Estava sempre a esbarrar com aqueles quiosques fechados. Às tantas pus-me a investigar porque é que estavam fechados, de onde é que vinham. Fui desvendando toda uma história. Fui à procura do tipo de coisas que vendiam, e fiz um exercício: ok, como é que se podia trazer isto para os dias de hoje em vez de mandar tudo para o ferro-velho? O espaço público melhorou imenso com o António Costa.

Já se arrependeu de ter apoiado Costa nas primárias do PS?
Não, de todo.

Costa não teria saído da câmara se não tivesse conquistado a liderança do PS.
É um facto, mas ele também está a fazer coisas importantes pelo país. Ter juntado as esquerdas... tiro-lhe o chapéu. Agora, tenho pena que ele não tenha deixado uma herança com maior qualidade na câmara. A qualidade média desceu muito.

A qualidade da vereação?
Sim.

E a da presidência?
Do executivo. Era um executivo mais equilibrado no tempo de António Costa. Neste momento, existe uma grande preponderância do urbanismo, que é obviamente um sector crucial. Mas nesta questão do turismo, o urbanismo tem feito opções que não são as mais interessantes. Sobretudo, não são as mais inteligentes a longo prazo.

A eleição do Rui Moreira, no Porto, veio provar que os presidentes de câmara das grandes cidades podem ser independentes. Isso é uma coisa extremamente positiva.

Quando dizia há pouco que só poria a hipótese de ter uma participação política activa se o panorama fosse absolutamente desastroso, e situando-se na área do PS, posso concluir que se está a referir a quem venha a ser o candidato socialista?
Presumo que o candidato do PS seja o Fernando Medina.

E isso será desastroso, do seu ponto de vista?
Não tenho nada contra o Fernando Medina pessoalmente, mas enquanto lisboeta faz-me alguma impressão ouvir o presidente da câmara, perante a febre turística que Lisboa conhece neste momento. Ouço por exemplo donos de hotéis, associações de hotelaria portuguesa a dizerem: "Estamos a chegar a um limite.” E depois ouço o presidente da câmara: “Nunca ninguém me ouvirá dizer que é preciso pôr limites ao turismo.”

Sente isso como um erro político?
Absolutamente. Estamos todos fartos de saber o que o turismo faz hoje em dia. Hoje, o turismo não é o mesmo que há 20 anos. Veneza tinha 400 mil habitantes há dez anos, hoje tem 40 mil. É isto que se está a passar. O Airbnb é um fenómeno muito recente, mas é um fenómeno avassalador.

Vê o turismo como um fenómeno predador?
Pode não ser predador, mas é preciso ter alguns cuidados, porque neste momento ele é massificado, é extremamente agressivo. No meio disto vem um óptimo turismo, mas também vem um turismo complicado. Pergunto-me se faz sentido investir milhões num terminal de cruzeiros. Já me dei ao trabalho de passar um dia inteiro na saída de um cruzeiro a ver turistas a sair e a entrar. Até levei para lá uma banquinha.

Para tentar vender?
Sim, sim. Metade deles não sai do barco. Os que saem são metidos em camionetas que vão a Sintra e voltam. Quem lucra são as camionetas. Normalmente, esses programas são pagos dentro do barco, portanto as camionetas também só lucram uma parte. E depois vejo voltar os turistas. Muitos vêm almoçar ao barco, porque o almoço está incluído no preço, nem sequer deixam o dinheiro desse almoço na cidade. Quando muito, alguns chegam com uns sacos da Zara e da Seaside, e percebi que tinham ido para o Colombo fazer compras. Ainda para mais, os cruzeiros hoje em dia são bairros inteiros. Aquela paisagem linda de Alfama até ao rio vai passar a ter à frente um edifício permanente de oito andares. É um edifício aquático mas é um edifício. Vale a pena comprometermos isto? Justifica o dinheiro que cá fica deste tipo de turistas?

Isso requer decisões políticas; não basta deixar o mercado a funcionar?
Há muitas coisas que são decisões políticas. Uma das decisões da Câmara de Barcelona, quando este novo executivo tomou posse…

O executivo do Podemos.
A Ada Colau [presidente de Câmara de Barcelona] dirigia uma associação que era contra os despejos provocados pela falta de pagamento das prestações das casas. Neste momento, acho que na Câmara de Barcelona há uma coligação de vários partidos.

Sim, apoiada maioritariamente no Podemos.
Sim. O que eles fizeram foi suspender, renegociar com o Airbnb uma série de coisas, e tomar ali algumas decisões. O turismo é extremamente voraz hoje em dia. Há que ter algum cuidado. Não vejo a câmara [de Lisboa] a ter esse cuidado. Não estou ao corrente de todas as posições da câmara, mas acho que ela própria também devia falar um bocadinho mais sobre isso. Seria pedagógico para a cidade.

Defende um papel mais interveniente do Estado?

O Estado às vezes tem de regular algumas situações. Sou pela iniciativa privada, tenho o meu negociozito, mas em alguns casos, quando se chega a situações como aquela em que estamos hoje, acho que é preciso regulamentar algumas coisas.

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