domingo, 29 de novembro de 2015

UE dá três mil milhões à Turquia para conter fluxo de refugiados / Europe goes hot Turkey

UE dá três mil milhões à Turquia para conter fluxo de refugiados
ALEXANDRE MARTINS 29/11/2015 - PÚBLICO

Acordo fechado em Bruxelas na esperança de que o Governo turco reforce o controlo das suas fronteiras e melhore as condições de vida dos dois milhões de sírios que vivem no seu território. Processo de adesão foi relançado.

A urgência em encontrar uma resposta para a chegada de milhares de refugiados e migrantes à Europa, em números a que os países da União Europeia (UE) não estavam habituados, empurrou os líderes europeus para a mesa de negociações com o Governo turco. Este domingo, em Bruxelas, ouviram-se promessas de um acordo abrangente e de um novo fôlego para o moribundo processo de adesão da Turquia, mas o principal objectivo é de curto prazo – dar três mil milhões de euros ao Governo de Ahmet Davutoglu em troca de um plano que possa manter os refugiados em território turco e reforçar o controlo das fronteiras do país com a Grécia e com a Bulgária.

A intervenção inicial do primeiro-ministro turco perante os chefes de Estado e de Governo da UE marcou a diferença sobre os objectivos políticos de cada uma das partes – e vincou a vantagem negocial da Turquia, provocada pela reacção europeia à chegada de refugiados e migrantes –, ao dedicar a esmagadora maioria das suas palavras ao novo impulso dado ao processo de adesão da Turquia, que foi aberto oficialmente em finais de 2004 mas que nunca esteve sequer perto de ficar fechado.

"Esta reunião não serve apenas para falar sobre o tema da migração, que é muito importante para todos nós, de uma perspectiva humanitária e estratégica, mas também sobre a 'reenergização' deste grande ideal de unir a UE ao potencial turco, para responder a crises económicas e a problemas geopolíticos", disse Ahmet Davutoglu, que falou num "dia histórico". "Trago uma mensagem clara de Ancara: somos uma nação europeia."



Do lado da UE, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, também mencionou a reabertura do processo de adesão, mas foi notório que o plano para deixar refugiados e migrantes na Turquia – e para lá dela – é um ficheiro que passa por cima de todos os outros.

"Convoquei esta cimeira para decidirmos, em primeiro lugar, o que é que a UE e a Turquia devem fazer em conjunto para lidar com a crise migratória. O nosso principal objectivo é estancar o fluxo de migrantes para a Europa", deixou claro Donald Tusk.

As questões dos direitos humanos e das críticas à falta de liberdade de expressão e de imprensa na Turquia ficaram para segundo plano, numa altura em que dois responsáveis do jornal Cumhuriyet foram detidos e acusados de espionagem por terem escrito que os serviços secretos turcos enviaram armas para rebeldes islamistas na Síria, e que o advogado curdo Tahir Elçi foi assassinado a tiro em plena luz do dia, na rua, quando estava a ser julgado por ter defendido que o Partido dos Trabalhadores do Curdistão não é uma organização terrorista.

No final da cimeira, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, salientou que o reinício do processo de adesão da Turquia "não significa que a política de alargamento esteja a ser reescrita", sublinhando que os países europeus mantêm inalteradas todas as exigências de respeito pelos direitos humanos. Também o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, frisou que esta reaproximação não resolve as diferenças em termos de direitos humanos e de liberdade de expressão.

O primeiro-ministro turco anunciou que "delegações ao mais alto nível" da UE e da Turquia vão reunir-se duas vezes por ano, e que o reinício do processo de adesão estará concluído, e pronto a avançar em todos os aspectos, em 2016. Para Ahmet Davutoglu, a crise migratória só será resolvida com a solução da guerra na Síria, e os três mil milhões de euros – "que não se destinam à Turquia, mas sim aos sírios" – servem apenas para aliviar o esforço financeiro que o seu país já está a fazer desde 2011.

Na prática, segundo o plano de acção conjunto, a UE oferece à Turquia dinheiro, o reinício do processo de adesão e a facilitação de vistos para cidadãos turcos, e espera em troca que o Governo de Ancara passe a controlar melhor as suas fronteiras e, idealmente, que proporcione melhores condições de vida aos mais de dois milhões de refugiados sírios que vivem no seu território – apesar de a crise migratória ter passado a ser um dos temas mais discutidos na Europa nos últimos meses, a Turquia, a Jordânia, o Líbano, o Iraque e o Egipto acolhem 95% dos mais de quatro milhões de refugiados sírios.

Os países da UE vão dar três mil milhões de euros ao longo dos próximos dois anos, mas o Governo da Turquia gastou mais de sete mil milhões desde 2011. Para manter os actuais 25 campos de refugiados, muitos sem as condições ideais ou sequer mínimas, a Turquia gasta quase dois milhões de euros por mês.

Dos mais de dois milhões de sírios que estão na Turquia, apenas 263.000 vivem em campos para refugiados. Os restantes estão espalhados pelo país, a maioria a viver em condições miseráveis perto das maiores cidades, como Istambul. Um desses refugiados, que não quis revelar a identidade, disse à BBC que nada o impedirá de tentar chegar à Alemanha, onde a sua mulher e os dois filhos chegaram há cinco meses, depois de uma travessia de barco até à Grécia: "Nunca aceitarei ficar aqui, independentemente do que me oferecerem. Os seres humanos sentem-se como animais na Turquia. Quando tiver dinheiro suficiente, irei ter com a minha família na Alemanha."

Os sírios não têm estatuto de refugiados na Turquia porque o país ainda não abdicou da cláusula de limitação geográfica inscrita na convenção de 1951 sobre refugiados, segundo a qual só cidadãos europeus podem beneficiar desse estatuto – como recebem apenas asilo temporário, estão impossibilitados de aceder ao mercado de trabalho legal, e muitos são explorados.

Europe goes hot Turkey

The migration crisis has thrown the EU and Ankara together. The next chapter will determine if the relationship can last.

By ERNEST MARAGALL 11/29/15, 7:00 AM CET Updated 11/30/15, 1:04 AM CET

Europe faces the biggest refugee crisis since World War II and has so far failed to come up with a fair and sustainable solution. Since the outbreak of the Syrian civil war in March 2011, Turkey has welcomed more than 2 million Syrian refugees fleeing for their lives, making Turkey the largest refugee-hosting country in the world.

In an effort to stem the flow of refugees trying to cross into Europe, the EU has turned to Turkey in desperation. The EU hopes to finalize a deal with Turkey at Sunday’s high-level summit which will bring together the 28 EU leaders and the Prime Minister of Turkey for the first time since 2004.

But trying to outsource Europe’s refugee crisis to Turkey is not a credible long-term solution. The final deal should not only include substantial financial support to Turkey but also a shared European responsibility in tackling the issue.

While the Syrian refugee crisis has also produced an unexpected rapprochement between Turkey and the European Union, the urgency of the humanitarian crisis should not be used as a bargaining chip by either side.

Linking any migration deal to Turkey’s EU accession negotiations risks of jeopardizing the credibility of EU’s enlargement policy. One of Jean-Claude Juncker’s priorities as Commission president was that no further enlargement would take place during his mandate. A year after Juncker took office, the EU is believed to be offering new incentives in exchange for Turkey’s cooperation on the refugee crisis. These incentives include granting visa-free travel rights to Turks by 2016 — a year earlier than envisaged in the visa liberalization roadmap — and the opening of a few negotiation chapters. Almost all of these incentives are subject to political veto.

* * *

Before the refugee crisis hit Europe, Turkey’s relations with the EU were in a state of slumber. The last time a chapter was opened for negotiation, on regional policy, was November 2013. To date, only 14 of the 33 chapters that require negotiations have been opened and only one has been closed.

Enlargement negotiations with Turkey reached a technical stalemate due to political unwillingness to move forward ever since negotiations started 10 years ago, an anniversary that has gone by largely unnoticed. The failure to resolve the Cyprus issue remains one of the major stumbling blocks in Turkey’s road to EU membership. Hopefully by next spring, renewed negotiations currently taking place between the Greek and Turkish Cypriot leaders will lead to a concrete plan to reunite the island.

As no substantial progress was achieved in the negotiations, the EU gradually lost any leverage it had to promote EU-inspired reforms that ensure respect for the rule of law, democracy and fundamental rights. In parallel, the Erdoğan-led AKP (Justice and Development Party) government has lost its appetite for reform, leaning towards a more authoritarian style of government.

Now, it seems, the tables have turned. As Europe needs Turkey to stem the flow of refugees, so Turkey is trying to assert greater influence over Brussels. The postponement of the Commission’s progress report on Turkey until after the November 1 snap elections is just one example.

Despite attempts to downgrade Turkey’s relationship with the EU, Turkey formally remains a candidate country for EU accession. In the eyes of the EU, Turkey should not solely be treated as a “strategic ally” with whom to cooperate in areas of shared interest — migration today; whatever new geostrategic challenge comes tomorrow — but as an aspiring candidate to membership who must comply with a set of rules and standards.

In recent years the Turkish government has taken measures that pushed the country away from meeting the EU’s Copenhagen accession criteria. The impartiality and independence of Turkey’s judiciary were deeply undermined, freedom of expression and the media repeatedly came under threat, the human rights situation in the country deteriorated sharply and hopes of a peaceful resolution of the Kurdish question vanished when the ceasefire broke down in July.

The EU cannot remain silent while Turkey continues to backtrack from democracy. The new rapprochement between Brussels and Ankara presents the best chance in years to bring Turkey back into the democratic fold. The EU must re-engage with Turkey constructively and regain its transformative power through active and credible accession negotiations.

After all, ensuring that Turkey remains a stable democracy is in the EU’s best interests. Had the EU done so a decade ago, Turkey would certainly look like a different country today.

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The new Turkish government also needs to prove its commitment to the EU accession process by returning to the reform agenda. Looking increasingly like its troubled neighbors, Turkey should turn to the EU as its most reliable partner in the region and strengthen its cooperation in addressing common security challenges. Turkey should act responsibly in the fight against ISIL while reaffirming its support for the efforts of the international coalition.

After regaining the majority it lost in June, Turkey’s ruling AKP should abandon its authoritarian style of government and reinstate a culture of political reconciliation between all ethnic and religious groups in the country. The process of redrafting Turkey’s current constitution, put in place after the 1980 military coup, should serve as the foundation for a renewed social contract and a consolidated democratic system.

At the same time, the EU should put pressure on Ankara to address human rights and democracy shortcomings while promoting democratization efforts by not holding the enlargement negotiations hostage to political considerations.

At present both Turkey and the EU are confronted with a choice. The EU must choose between bringing Turkey closer by demanding real reform efforts or considering the country an occasional strategic ally. In turn, Turkey must decide whether it wants to play an active role in creating a stronger and shared Europe or continue to pursue its ambition to exercise regional leadership.

Ernest Maragall is a member of the EU-Turkey Delegation, and the Group of the Greens/European Free Alliance in the European Parliament.

Authors:


Ernest Maragall  

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