quarta-feira, 18 de março de 2015

Habemus Costa!



OPINIÃO
Habemus Costa!
ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO 15/03/2015 - PÚBLICO

Será que Portugal ainda existe?

Os tempos não estão fáceis para os Políticos. António Costa, depois de uma entrada triunfal preparada ao milímetro e à custa do seu companheiro, é agora confrontado com um clamor crescente que lhe exige clareza, definição e posicionamento inequívoco quanto à frescura, autenticidade e independência de ideias.

Passos Coelho, depois do seu percurso caracterizado por um empenhamento e uma obediência muito para além das exigências formais dos gestores do Protectorado, na “região” europeia anteriormente formalmente conhecida como Portugal, é considerado pelos seus próprios apoiantes como gasto e descartável.

Um sinal e uma manifestação evidente disto mesmo constituiu um artigo de “opinião” publicado muito recentemente no OBSERVADOR, da autoria de António Carrapatoso, presidente do Conselho de Administração deste “jornal” online.

Este texto, pretendo esclarecer desde já, não tem como tema a Política, mas “aquilo” a que se chama Jornalismo.

Assim, como o OBSERVADOR tratou desde logo, quando do seu lançamento, de definir, tratava-se de um projecto que pretendia ser “um órgão de comunicação social genuinamente independente, apostado em fazer um jornalismo da maior qualidade, sem outra agenda que não seja a do interesse público”.

Muito frequentemente ouvem-se comentários sobre a cacofonia saturante e caluniadora em que as redes sociais se transformaram. O cidadão céptico e desesperadamente incrédulo na possibilidade de se ver representado na classe política, invadiu esta nova Ágora / Fórum virtual onde descarrega frustrações e exige ostracismos.

Daí a importância de uma comunicação social verdadeiramente independente e capaz de informar com a tal qualidade, rigor e serviço público.

Ora, o artigo de António Carrapatoso (“Para onde vai António Costa?”, 9-3-2015, OBSERVADOR) confronta e provoca António Costa a definir a sua posição como futuro líder, perante o ideal Neo-Liberal.

Implicitamente, anuncia o fim do ciclo de Passos Coelho e pretende estimular António Costa a definir de forma explícita qual é a sua posição sobre, aquilo que classifica como a velha guarda republicana socialista, ou perante a nova geração irresponsavelmente seduzida pelo aventureiro Syriza.

Por outras palavras a pergunta directa é: Temos homem ou não temos, para o “nosso” projecto financeiro/ económico/ social para a “região” europeia, anteriormente formalmente conhecida como Portugal?

Ora ninguém põe em causa o direito à existência de um projecto privado, financiado por quem quiser, chamado Observador. Nem o direito aos seus participantes de sistematicamente exprimirem as suas opiniões definidos por um “certo” teor ideológico, no mesmo.

O que se pergunta aqui é se isto se pode continuar a apelidar de “Jornalismo”?

A publicação por António Carrapatoso de um artigo de opinião pessoal de teor político explícito, na qualidade de presidente do Conselho de Administração, no próprio “jornal” que “controla” é um erro inquestionável, perante os objectivos e ideais definidos por este órgão, quando do seu lançamento.

Para clarificar, é um erro comparável a que se fossemos confrontados, um dia, com uma artigo de opinião aqui mesmo, no PÚBLICO, da autoria de Belmiro de Azevedo sobre aquilo que ele poderia pretender para a vida Política desta “região” europeia anteriormente formalmente conhecida, como Portugal, aconselhando de forma “estimulante” este ou aquele candidato.

Muitos, que nos mais profundos arquétipos do seu Ser, transportam o sentimento e a ideia de Portugal, gostariam de votar nesse mesmo Portugal, através desses mesmos que o representassem, mas não se sentem representados por ninguém da Esquerda à Direita.

Acima de tudo porque este sentimento já de si, frustrante, é acompanhado por outro ainda mais angustiante:

Será que Portugal ainda existe?


Historiador de Arquitectura

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