sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Carne picada vai ser mais fiscalizada mas não proibida Governo lança plano para formar comerciantes sobre o uso de sulfitos e outros produtos / Cowspiracy: O documentário que anda a fazer veganos vai ser exibido em Lisboa / COWSPIRACY - Official Trailer - HD

“Saímos do encontro com a convicção de que vão ser reforçados os controlos sobre os produtos de carne picada”, resumiu, por sua vez, ao PÚBLICO Nuno Lima Dias, técnico da Deco e um dos responsáveis pelo estudo que chumbou 26 talhos da Grande Lisboa e Setúbal e do Grande Porto por falta de qualidade de carne de vaca picada vendida.
Deco insiste na ilegalidade da utilização de sulfitos.


Carne picada vai ser mais fiscalizada mas não proibida
Governo lança plano para formar comerciantes sobre o uso de sulfitos e outros produtos

Cláudia Bancaleiro e Ana Rute Silva/ 30-1-2015 / PÚBLICO

O Governo vai criar um plano nacional para melhorar a formação dos comerciantes sobre o uso de sulfitos e outros produtos na carne picada. Depois da reunião da Comissão de Segurança Alimentar, a Secretaria de Estado da Alimentação sentou-se à mesa com a Associação Nacional de Municípios e a Associação Nacional de Médicos Veterinários dos Municípios e acordou “intensificar todo o plano de controlo oficial”.
De acordo com Nuno Vieira e Brito, secretário de Estado da Alimentação, este plano estará concluído na primeira quinzena de Fevereiro e deverá “dotar o retalho de formação e informação, através das boas práticas necessárias para esta actividade”. Os laboratórios do Estado também terão um reforço de equipamentos e deverão aumentar a actual capacidade de fazer análises regulares à carne que é vendida nos talhos nacionais.
Nuno Vieira e Brito diz que a intenção é que os médicos veterinários municipais façam inspecções ao comércio da sua área. Admite que até agora “não havia uma articulação de meios para este sector” em concreto, nem era dada formação adequada. “A expectativa é dar mais formação e informação, evitando maus procedimentos. O que nos interessa é o cumprimento da lei”, disse ao PÚBLICO.
A par da formação, haverá mais fiscalização à carne picada que é vendida nos talhos, mas não está prevista a proibição de venda do produto. A Comissão de Segurança Alimentar foi convocada após um estudo da associação Deco ter revelado falhas na higiene e conservação de carne picada à venda em 26 estabelecimentos, que na maioria adicionavam ainda sulfitos ao produto para o tornar mais atraente.
“A carne picada pode e deve ser consumida no momento em que é picada”, afirmou o secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agro-alimentar, Nuno Vieira e Brito, no final do encontro, repetindo um conselho que tem sido partilhado tanto pela Deco como pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE). O secretário de Estado reforçou que não está em cima da mesa a “proibição da utilização de carne picada” pelo consumidor.
“Saímos do encontro com a convicção de que vão ser reforçados os controlos sobre os produtos de carne picada”, resumiu, por sua vez, ao PÚBLICO Nuno Lima Dias, técnico da Deco e um dos responsáveis pelo estudo que chumbou 26 talhos da Grande Lisboa e Setúbal e do Grande Porto por falta de qualidade de carne de vaca picada vendida.
Após a reunião, onde esteve também representado o Ministério da Economia, através do seu secretário de Estado adjunto, a ASAE, institutos, confederações, federações, associações e distribuidores, num total de 12 representações, o técnico da Deco disse que a associação “reafirma todas as conclusões da sua investigação”, nomeadamente a ilegalidade de adicionar sulfitos à carne picada. Este ponto tem sido o centro de uma polémica que se instalou entre a Deco e a ASAE, que na última terça-feira questionou a clareza e cientificidade da metodologia usada pela associação de defesa do consumidor para a realização do estudo, considerando ainda que a amostra reunida — carne de vaca picada de 26 talhos — foi “claramente insuficiente tendo em conta o universo em causa, condicionando as conclusões divulgadas”.

Na questão dos sulfitos, substâncias que evitam o desenvolvimento de microrganismos e ajudam a manter a cor original dos alimentos, a autoridade argumentou que se trata de “aditivos alimentares aprovados como conservantes que podem ser utilizados em variadíssimos géneros alimentícios”. A Deco insiste na ilegalidade da utilização de sulfitos.


Cowspiracy: O documentário que anda a fazer veganos vai ser exibido em Lisboa
5/1/2015 / OBSERVADOR
São vários os relatos pelo mundo de pessoas que viram o filme e decidiram mudar a alimentação, não para proteger animais, mas para salvar o planeta. O apresentador português João Manzarra é um deles.

Comer animais pode ser mais prejudicial para o planeta do que tomar duches longos e conduzir carros poluentes. A pegada ecológica causada pela agricultura animal, e ainda pouco conhecida, é o tema de “Cowspiracy”, cuja estreia em Portugal acontece no sábado, 10 de janeiro, às 11h00, no cinema do Saldanha Residence, em Lisboa. A sessão, que inclui debate com os realizadores e mostra de gastronomia, esgotou em poucos dias, pelo que foi adicionada uma nova data para o dia seguinte.

“O ‘Cowspiracy’ pode ser o mais importante filme feito para inspirar a salvação do planeta“. O elogio é forte, mais ainda porque veio de Louie Psihoyos, realizador de “The Cove” (“A Baía da Vergonha” é o título em português), documentário norte-americano sobre a caça de golfinhos no Japão e que venceu o Óscar de melhor documentário em 2010.

O título do filme realizado por Kip Andersen e Keegan Kuhn é um trocadilho entre as palavras vaca (cow) e conspiração (conspiracy), mas “Cowspiracy” tem mais a ver com factos do que com teorias da conspiração, factos que mostram a existência de um problema maior do que todas as vacas que habitam a terra: a pegada ecológica causada pela criação de animais para alimentação. A partir daí, os realizadores questionaram várias Organizações Não Governamentais (ONG) ambientalistas, como a Greenpeace, sobre porque é que a questão não está a ter a atenção que merece. As reações compiladas no filme surpreendem.

Os vários casos de pessoas por todo o mundo que deixaram de comer carne, ou que renunciaram aos produtos de origem animal, podem fazer com que “Cowspiracy” pareça mais uma ação para proteger os direitos dos animais, mas não, não restem dúvidas: este é um filme ambientalista. Se não sabia que 51% das emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa são causadas pela pecuária e atividades relacionadas (dados do Worldwatch Institute), eis a razão por que os realizadores decidiram avançar com as filmagens.

“Fiquei chocado por aos 29 anos de idade estar completamente deslocado do problema principal de insustentabilidade do planeta”, disse o apresentador João Manzarra ao Observador. “O documentário é muito factual, trata de problemas reais e devastadores que não são tratados nem pela maioria das ONG, e que são ignorados pela maioria das pessoas”. Em Portugal, João Manzarra é o exemplo mais mediático da influência de “Cowspiracy”. “Vi-o no dia 19 de novembro e fui confrontado com toda a sua informação no voo entre Amesterdão e Lisboa”, contou. “Quando terminou comprometi-me a não alimentar mais a criação de gado até surgir um contraditório convincente para os problemas expostos no filme, o que não aconteceu até hoje”.

Desde então que o apresentador se tornou vegano, ou seja, não consume nenhum produto de origem animal, seja carne, peixe, laticínios ou ovos. O adeus ao sushi foi difícil, mas a derradeira prova foi a venda da sociedade na Petisqueira Matateu, que abriu em 2013, no Estádio do Restelo. Terminou assim o confronto de consciência. Mas começou também o julgamento público. “Jamais esperei o tamanho do impacto que esta decisão pessoal causou. Recebi os maiores elogios e as maiores ofensas de toda a minha vida, as pessoas têm uma ligação emocional muito forte ou com os animais ou com o sabor deles”, disse.

O passo seguinte foi contactar os realizadores, no sentido de transmitir que o esforço e o trabalho colocados na realização da narrativa tinha atravessado o Atlântico até Portugal e que tinha “mudado consciências”. Rita Silva, presidente da ONG portuguesa ANIMAL, também já tinha mostrado interesse em exibir o filme em Portugal, por isso os realizadores puseram os dois em contacto e assim foi possível organizar os dois visionamentos em Lisboa.

“Enquanto profissional da área senti que o documentário estava muito bem conseguido, é inteligente e factual. Acho que eles são heróis”, disse ao Observador Rita Silva, que já conhecia Kip Andersen e Keegan Kuhn. Dedicada à causa animal há 11 anos e vegana há uma década, Rita Silva acreditou sempre que “Cowspiracy” teria uma boa adesão do público português, mas confessou que não imaginava que “fosse tão grande”. A visibilidade que João Manzarra tem dado nas redes sociais ajudou. “O facto de ele ter partilhado uma coisa que mexeu com ele, sem impor nada, fez com que as pessoas ficassem muito mais ligadas a isto. É importante que as pessoas vejam o filme pelo filme e que quaisquer mudanças que façam seja pelas razões certas”, defendeu.

Mudanças. Depois do visionamento, Rita Silva quer ver resultados e, para isso, organizou um debate, no qual os realizadores do filme, Kip Andersen e Keegan Kuhn, vão participar por videoconferência. “Que seja esclarecedor e imparcial, que se encontrem soluções e que se explique como agir localmente” são os frutos que João Manzarra espera que nasçam da conversa. No espaço do cinema vão estar também algumas bancas de comida “para desmistificar o que as pessoas têm como uma coisa complicadíssima, que é não comer animais”, adiantou.

Os bilhetes para a primeira sessão já esgotada custavam 6,50 euros cada. Para a sessão extra de dia 11 de janeiro, também às 11h00, custam 4 euros, valor menor que se justifica pela ausência de debate e de degustação de produtos de origem vegetal que vai ter lugar no dia 10. Todo o dinheiro dos bilhetes reverte a favor da causa: 25% da receita será entregue à Animals United Moviment Films & Media e 75% à ANIMAL.

Para quem não conseguir ir ao cinema, o documentário também pode ser visto no site oficial por menos de 10 dólares (cerca de 8 euros, à taxa de conversão atual).

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