sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Marinho e Pinto, o oportunista, por Luís Rosa


Marinho e Pinto, o oportunista
Por Luís Rosa
publicado em 12 Set 2014 in (jornal) i online
Um homem que se alimenta apenas do descontentamento do eleitorado não é só uma ameaça para os partidos tradicionais – é acima de tudo um perigo para os portugueses



Marinho e Pinto vai ser eleito deputado da Assembleia da República. O novo partido que vai formar nas próximas semanas, revelado ontem em exclusivo no ionline por Pedro Rainho, vai dar origem a um grupo parlamentar próprio. Não é uma advinha, caro leitor – é uma antevisão do futuro. Marinho é neste momento, e assim continuará até às próximas legislativas, o único catalisador disponível para a maioria dos portugueses, que estão tremendamente insatisfeitos com a classe política.

O ex-bastonário dos advogados, contudo, é diferente de outros fenómenos eleitorais, como o PRD e o PSN, que surgiram no nosso sistema político – daí o perigo que representa e a sua popularidade. O PRD tinha a inspiração presidencial de Ramalho Eanes e o objectivo de roubar espaço ao PS de Mário Soares, o que conseguiu em 85, mas nunca foi um partido anti-sistema. Eanes, apesar de se apresentar como um homem puro, acima das negociatas dos partidos, não queria destruir o regime que ajudou a fundar a 25 de Novembro. OPartido da Solidariedade Nacional, por outro lado, vivia da figura de Manuel Sérgio e de um grupo socioeconómico: os reformados.

Marinho vai muito mais além. Luta contra o sistema e quer capitalizar o mal--estar de todos os descontentes com o regime – que são muitos mais do que eram nos anos 80 e 90. As eleições europeias provaram que o ex-bastonário dos advogados consegue roubar votos de forma quase igual ao PSD e ao PS, e também ao Bloco de Esquerda (a que conquistou dois eurodeputados) e recolhe apoios tanto na classe A como nas classes sociais mais desfavorecidas ou junto das faixas etárias 25-35 (onde existem muitos desempregados) ou dos 45 aos 64 anos. Para isso muito ajudou o seuíndice de notoriedade, que era muito semelhante aos de Nuno Melo (CDS), Paulo Rangel (PSD)e Francisco Assis (PS) e superava claramente o dos candidatos da CDU e do Bloco de Esquerda. Marinho é o inimigo público número 1 dos partidos tradicionais porque é conhecido e consegue entrar em públicos muitos diferentes. Se em eleições sem visibilidade conseguiu 7,2% dos votos, imagine--se o que conseguirá fazer com o mediatismo das legislativas. O maior reconhecimento de que foi objecto foi protagonizado recentemente por António Costa quando o candidato a líder do PS admitiu negociar com ele a viabilidade de um futuro governo do PS.


O reconhecimento da sua força, contudo, não faz de Marinho uma referência em termos de valores. Na Ordem dos Advogados foi eleito pelos advogados descamisados para lutar contra o poder dos grandes escritórios, mas mal chegou a Lisboa sentou--se à mesa com Vieira de Almeida, José Miguel Júdice ou Sérvulo Correia. Com o MPT fez algo semelhante, usando-o como barriga de aluguer para se candidatar às europeias, filiando-se depois das eleições, mas batendo agora a porta com estrondo. Aos eleitores das europeias fez bastante pior: prometeu lutar pelos portugueses em Bruxelas, jurando poucos dias depois de tomar posse que queria ser deputado em Lisboa. Um oportunista que se alimenta apenas do descontentamento do eleitorado e não olha a meios para atingir os seus fins não é só uma ameaça para os partidos tradicionais – é acima de tudo um perigo para os portugueses. Como veremos na próxima legislatura.

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