terça-feira, 16 de setembro de 2014

Horta Osório é o novo rei, por Luís Osório.

A morte do BES deixou um espaço livre. Que acaba de ser preenchido por um protagonista que é o primeiro rei desta nova dinastia: ao banqueiro bem-nascido e ao banqueiro profissional acaba de suceder o banqueiro estrangeirado. António Horta Osório ocupou o lugar vago de grande senhor de um novo tempo. Bem-nascido, gestor profissional e filho legítimo da globalização. De um arranha-céus em Londres ou Nova Iorque, longe da pátria, mas a influenciar o destino do que por cá se vai decidindo. No Novo Banco, com a escolha de Eduardo Stock da Cunha, seu homem de confiança no Lloyds. No BCP, com a ascensão de Nuno Amado, seu anterior braço-direito no Santander-Totta. Um novo paradigma que veio para ficar. E que terá seguidores, veremos quem mais.
Luís Osório

Horta Osório é o novo rei
De Londres ou Nova Iorque, o banqueiro influencia os destinos do país Horta Osório é o novo rei
Por Luís Osório
publicado em 16 Set 2014 in (jornal) i online

Para o poder, qualquer que seja, o mais terrível é o espaço vazio, o vácuo.

Por isso, na política, nas empresas, nas igrejas ou nos enredos de novelas televisivas, a um líder tem de suceder outro. O país, os países, precisam de novas estrelas e protagonistas; as sociedades fortemente mediatizadas dependem disso, são sustentadas a partir desse pressuposto.

No rescaldo do complexo caso BES, e da brutal queda de Ricardo Salgado, assistimos a uma terceira revolução do sistema financeiro português. Aos velhos banqueiros, sentados em poltronas Estado Novo, bem-nascidos e auto-suficientes, sucedeu um poder alicerçado numa gestão e em gestores profissionais. A oligarquia, corporizada em velhas famílias, passava à história com o advento (potenciado pelo marcelismo e mais tarde pela democracia) de figuras como Cupertino de Miranda, Câmara Pestana e Jorge Jardim Gonçalves. No final da década de 1980, a família Espírito Santo regressou de longo exílio e Ricardo Salgado foi apresentado como o melhor de dois mundos: legitimado pelos genes e filho de um novo tempo. Um velho banqueiro comprometido com a modernidade. Tinha tudo para dar certo.

O BCP de Jardim tornou-se maior que o país. E Ricardo Salgado julgou, ele próprio, ser um homem providencial; a um homem assim as coisas não podem correr mal. Engano pueril que toca a todos: acaba sempre por correr mal, fatal como o destino.

A morte do BES deixou um espaço livre. Que acaba de ser preenchido por um protagonista que é o primeiro rei desta nova dinastia: ao banqueiro bem-nascido e ao banqueiro profissional acaba de suceder o banqueiro estrangeirado. António Horta Osório ocupou o lugar vago de grande senhor de um novo tempo. Bem-nascido, gestor profissional e filho legítimo da globalização. De um arranha-céus em Londres ou Nova Iorque, longe da pátria, mas a influenciar o destino do que por cá se vai decidindo. No Novo Banco, com a escolha de Eduardo Stock da Cunha, seu homem de confiança no Lloyds. No BCP, com a ascensão de Nuno Amado, seu anterior braço-direito no Santander-Totta. Um novo paradigma que veio para ficar. E que terá seguidores, veremos quem mais.


Um poder construído a partir de fora, de um exterior à distância de uma tecla num mundo que, sendo virtual e feito de informação, é o que sempre foi: um espaço onde homens e mulheres lutam pelos melhores lugares à mesa. Veremos como acaba. E veremos também das consequências práticas. Para já, um prognóstico arriscado. Ao contrário do que alguns dizem, o Novo Banco não será comprado pelo Santander. Não creio que Stock da Cunha, com tantos holofotes apontados, e tendo passado pela gestão do banco espanhol em Portugal, aceitasse ser acusado de facilitador. Talvez vá para Espanha, não para o Santander. Isto se Artur Santos Silva e Fernando Ulrich perderem outra vez a hipótese de serem maiores. Veremos.

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