domingo, 31 de agosto de 2014

UMA DURA REALIDADE. Europeus não reconhecem qualidade ao ensino superior nacional


Europeus não reconhecem qualidade ao ensino superior nacional
Só estudantes da Roménia, Turquia e Croácia demonstram vontade de vir estudar para Portugal, revela estudo
Samuel Silva / 1-9-2014 / PÚBLICO

Os estudantes europeus fazem uma avaliação negativa da reputação do ensino superior português e essa percepção faz diminuir a intenção de estes alunos virem a estudar numa universidade nacional.
Numa altura em que o sector aposta forte na captação de estudantes internacionais, o primeiro estudo do género feito no país, fruto de um doutoramento na Universidade do Minho (UM), não traz boas notícias: só na Roménia, Croácia e Turquia é que Portugal é bem visto.
Cerca de metade dos 15 países europeus envolvidos no estudo avaliam o ensino superior português abaixo da média. A ideia central desta investigação do professor do IADE — Creative University Alexandre Duarte é a de que “o ensino superior de Portugal não é muito reputado”. E isso condiciona todos os outros resultados. A reputação é um “factor decisivo na escolha de instituição de ensino”, o que ajuda a explicar que, entre os estudantes entrevistados, 81% revelem intenção de estudar no estrangeiro, mas apenas 45% ponderem fazê-lo em Portugal.
O segundo factor menos pontuado foi a capacidade de investigação das universidades nacionais, e o país também perde capacidade de atracção face à importância do português — língua vista como pouco relevante no espaço europeu. A representação do sistema de ensino, a percepção da qualidade das infra-estruturas e dos docentes são outros factores com nota negativa, segundo a tese Atracção da Educação: o estereótipo nacional e a escolha do destino de estudo no ensino superior — o caso português, que teve por base um inquérito aplicado junto de 464 estudantes europeus inscritos.
O estudo deixa de fora o país com maior percentagem de estudantes inscritos no ensino superior nacional, o Brasil (26,8%). Entre os parceiros continentais, pontuam os estudantes espanhóis (9,3%), seguidos dos de França (2,7%), Itália (2,4%) e Reino Unido (2,1%).
Os alunos que demonstram intenções mais fortes de vir a estudar em
Clima pode ajudar a atrair alunos Portugal são os romenos (3,5 numa escala de 5 valores). Seguem-se croatas (3,44) e turcos (3,33). Nestes três países, a competência em Portugal é avaliada como “alta”.
Estes países também aparecem nos primeiros lugares na avaliação da reputação do sistema de ensino português, uma lista que volta a ser liderada pela Roménia (3,6). A Croácia surge em quarto (3,2), seguida da Turquia (3,2). Pelo meio surgem a Bulgária (3,2) e o Reino Unido (3,2), que é, de entre os países do continente, aquele em que Portugal consegue ter avaliações mais positivas.
Estes resultados surgem numa altura em que as universidades e os politécnicos têm apostado fortemente na atracção de estudantes internacionais, depois de, no início do ano, ter sido aprovado o novo Estatuto do Estudante Internacional, que permite a fixação de propinas de valor mais alto para os estrangeiros — chegam a atingir os 7000 euros anuais em universidades como Lisboa e Coimbra.


Para Alexandre Duarte, a instituições de ensino continuam, porém, sem saber “quais são as suas vantagens competitivas”. Este estudo aponta factores valorizados pelos estudantes e em que Portugal tem um bom desempenho. Ao nível da vida social, o país é considerado seguro, barato e hospitaleiro, sendo também valorizado o clima, bem como a proximidade geográfica. Estas são, assim, características que devem ser exploradas pelas instituições nacionais na comunicação da sua oferta noutros países. Para o investigador, sem descurar a aposta nos países de onde vem o grosso dos estudantes estrangeiros (PALOP e Brasil), as instituições devem partir à procura de mercados como o romeno ou o croata.

Sem comentários: