terça-feira, 12 de agosto de 2014

BES/GES um caso cada vez mais opaco, por Eduardo Oliveira Silva


BES/GES um caso cada vez mais opaco
Por Eduardo Oliveira Silva
publicado em 13 Ago 2014 in (jornal) i online

É urgente e essencial para se saber o mínimo indispensável convocar uma comissão de inquérito parlamentar
Cada dia que passa são mais perturbadoras as notícias sobre o futuro de tudo o que envolve o ex-império Espírito Santo, começando até pelo sucedâneo chamado Novo Banco, ontem mesmo já considerado lixo pela influente Moody's.

Relativamente à parte GES, ou seja, a teia empresarial montada em holdings e unidades de toda a espécie, a situação é clara. Parte das empresas quando analisadas individualmente estão falidas ou em graves dificuldades financeiras. Não sobreviverão aquelas, e não são poucas, que operavam frequentemente em circuito fechado dentro do grupo, o que as desvaloriza e lhes retira mercado.

Obviamente também haverá algumas que sobreviverão uma vez isoladas. No entanto, terão de passar por um crivo que começa na averiguação da situação económica e financeira e acaba na reconsideração dos gestores e directores de cada uma, sendo certo que até às decisões finais se assistirá ao habitual rol de traições, cortes de cabeça e saneamentos, sejam eles fundamentados ou não. Há gente sem culpa que vai pagar e culpados que vão escapar. O costume no planeta dos homens. As ocorrências serão muitas

e certamente algumas bem feias. Primos e primas não terão um cartão de acesso privilegiado ao que quer que seja, mas é preciso criar mecanismos para evitar perseguições de sentido inverso, embora essa probabilidade seja baixa.

Uma das realidades lamentáveis com que nos confrontamos todos os dias neste caso tem a ver com as revelações a conta-gotas que cada cidadão tende a analisar como uma verdade absoluta e definitiva, mas que, normalmente no dia seguinte, se configura como apenas uma minúscula parcela de uma verdade complexa que talvez nunca se deslinde, como sucedeu em casos semelhantes em Portugal ou no estrangeiro. E aqui não vale a pena citar o caso Madoff como excepção porque na realidade dele nada se sabe, a não ser que o seu alegado chefe levou mais de cem anos de cadeia porque se auto-incriminou.

Quem, por exemplo, sabia segunda-feira que o Banco de Portugal se tinha visto na contingência de injectar 3500 milhões de emergência no BES? Por que razão um dado tão significativo e que envolve responsabilidade directa dos contribuintes só foi conhecido ontem?

Como interpretar, ainda hoje, tantas declarações destinadas a tranquilizar cidadãos mais ou menos incautos a propósito da situação do BES? Isto quando na realidade teria sido altamente desejável uma atitude menos crédula para detectar as manobras que estavam em curso entre o anúncio do nome de Vítor Bento e a saída de Salgado? E já agora porque não se esclarece se efectivamente quem estava à frente do banco nesse período tinha legitimidade para assinar cartas de conforto de 800 milhões de dólares? Tinha mesmo? Venha a explicação.

Como ontem afirmava Jorge Coelho, há muito por contar sobre o assunto (BES) e também sobre a PT. Com o seu ar bonacheirão, Coelho está cheio de razão. Há realmente muito para contar, mas haja quem o faça.


Para tal era fundamental um escrutínio rápido e minimamente fiável de tudo isto. Como a via judicial não funciona ou é lenta, como os supervisores estão excessivamente envolvidos para poder ser preclaros, como os media não têm mecanismos suficientes, talvez a única solução aceitável seja aprovar rapidamente uma comissão de inquérito parlamentar, que se reúna quanto antes para fazer alguma luz sobre uma situação que diariamente se torna mais confusa e opaca.

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