segunda-feira, 14 de julho de 2014

Situação (do BES) abala melhoria da confiança no setor bancário português – Moody’s / Banco de Portugal exigiu reunião urgente no BES para entrada imediata de novos gestores / Tragédias antigas e modernas / A deriva do grupo BES / Ex-ministro Manuel Pinho negoceia reforma de 3,5 milhões do BES.

Situação (do BES) abala melhoria da confiança no setor bancário português – Moody’s
A Moody's considera que os problemas que estão a afetar o BES abalam os progressos que se estavam a fazer na melhoria da confiança no setor bancário e a capacidade dos outros bancos se financiarem.
Situação no BES coloca em causa capacidade de outros bancos se financiarem

A agência de ‘rating’ Moody’s considera que os problemas que estão a afetar o BES abalam os progressos que se estavam a fazer na melhoria da confiança no setor bancário e a capacidade dos outros bancos se financiarem.

Em comunicado hoje divulgado, a empresa de notação financeira desvaloriza o impacto da situação do Grupo Espírito Santo na nota soberana de Portugal, mas diz que, apesar de a situação ser específica do BES, põe em causa a melhoria crescente que se sentia na “confiança no sector bancário em Portugal”, assim como na capacidade dos outros bancos portugueses se financiarem, pelo menos enquanto esta questão agitar os mercados.
OBSERVADOR


Banco de Portugal exigiu reunião urgente no BES para entrada imediata de novos gestores
13 Julho 2014, 19:12 por Jornal de Negócios | jng@negocios.pt

O Banco de Portugal determinou que o conselho de administração do BES teria de se reunir com urgência para concretizar as alterações ao nível da gestão do banco. A reunião decorrerá ainda hoje, revela o supervisor em comunicado. .
"O Banco de Portugal determinou a convocação urgente de reunião extraordinária do Conselho de Administração do BES, a realizar hoje, para deliberar" as alterações já anunciadas na gestão do banco, revela o regulador em comunicado emitido este domingo, 13 de Julho.

Em causa está "a cooptação, na sequência das renúncias entretanto apresentadas pelos membros do Conselho de Administração do BES, dos seguintes membros propostos pela ESFG e apoiados pelo Crédit Agricole: Vítor Augusto Brinquete Bento; João de Almada Moreira Rato; e José Alfredo de Almeida Honório."

Além de serem cooptados para o conselho de administração, o Banco de Portugal exigiu também que na reunião deste domingo estes responsáveis fossem designados para os cargos que vão ocupar na comissão executiva.

Tal como já tinha sido anunciado, Vítor Bento substituirá Ricardo Salgado à frente do banco, Moreira Rato ficará com o pelouro financeiro. Já José Honório, cujo nome foi anunciado na sexta-feira, através de uma proposta apresentada pela Espírito Santo Financial Group (ESFG), holding que detém 25% do BES, vai ocupar o cargo de vice-presidente da comissão executiva. Contudo, José Honório só passará a desempenhar estas funções "logo que aprovada a alteração do contrato de sociedade do BES conforme proposta pela ESFG no dia 11 de Julho", adianta a mesma fonte.

Estes responsáveis serão assim cooptados, com efeitos imediatos, contudo, os accionistas terão de aprovar esta decisão na assembleia-geral que está agendada para dia 31 de Julho.

A equipa, que será liderada por Vítor Bento, assumirá funções já amanhã, sabe o Negócios.

Ainda este fim-de-semana, José maria Ricciardi emitiu um comunicado onde revela que seu o pedido de demissão do cargo da comissão executiva tem "efeitos imediatos", com o objectivo de acelerar a entrada de Vítor Bento e novos gestores no BES.

O Banco de Portugal reitera que ainda não deu o seu aval aos nomes indicados para o novo órgão, ou seja, para o conselho estratégico, que será liderado por Paulo Mota Pinto. E, tal como afirmou no dia 20 de Junho, só o fará após a aprovação dos nomes pelos accionistas.

"O Banco de Portugal informa ainda que, tal como referido no comunicado divulgado a 20 de Junho, aguarda que lhe seja submetido, para avaliação, o modelo de governo interno que venha a ser aprovado em Assembleia Geral Extraordinária. De modo a permitir uma avaliação positiva pelo Banco de Portugal, a Assembleia Geral deve assegurar que os membros a designar para o novo órgão societário são adequados tendo, designadamente, por referência os requisitos exigidos na lei para o exercício de funções de administração e fiscalização em instituição de crédito", acrescenta a mesma fonte.


(Notícia actualizada às 19h34 com mais informação)

Tragédias antigas e modernas
por VIRIATO SOROMENHO MARQUES in DN online

Para Aristóteles, a tragédia deveria representar a violência do choque da condição humana com o seu destino. O Estagirita defendia que ela, como obra literária, deveria revestir-se de duas facetas fundamentais. Primeiro, a tragédia envolveria sempre a acção de personagens nobres, para mostrar que mesmo os mais poderosos de entre os homens não conseguem fugir à autodestruição. Segundo, a trama ocorreria no espaço público (o incesto de Édipo com a sua mãe, Jocasta, foi um acto político), de modo a provocar um efeito de revelação e catarse (purificação das "paixões da alma") nos espectadores mais humildemente anónimos. Se Aristóteles contemplasse a moderna tragédia sistémica do mundo financeiro, do Lehman Brothers ao GES/BES, ficaria emudecido. Os personagens que causam a catástrofe não são nobres. São, na verdade, gente grotescamente banal. No lugar de uma consciência moral, muitos possuem uma vertigem narcísica que tudo absorve (por exemplo, o "livro" de João Rendeiro, do falido BPP, tem a profundidade de uma tábua rasa). Depois, os seus actos de mentira, logro, ocultação, são mera predação desprovida de grandeza, causando dano apenas aos outros. Indivíduos e povos inteiros. Desde 2008, foram afectadas centenas de milhões de pessoas, pela desmesura de algumas centenas de figurões do sistema financeiro mundial. Dezenas de milhões perderam os seus empregos, e viram a sua integridade física e psicológica molestada. Por último, não houve qualquer catarse. Estas criaturas menores compraram imunidade total, porque têm entre os seus activos as leis e os governos que os poderiam levar a juízo. Assistem, no conforto protegido das suas "salas de pânico", ao puro terror que semearam pelo mundo, como Nero assistiu ao incêndio de Roma. É uma tragédia moderna. Um espectáculo vil. Uma miséria sem conceito

A deriva do grupo BES
Manuel Villaverde Cabral
14-7-2014 / OBSERVADOR
À mulher de César não basta ser séria; tem de ser transparente. Ora ter pessoal político indicado pela família à frente do BES só prejudica a imagem do banco e custa votos aos partidos que o aceitaram

Quando o Governador do Banco de Portugal (BdP) proclama que “o BES está seguro”, o natural é acorrer-nos uma dúvida ao espírito. Antes de o governador ter falado nisso, a ideia nunca nos tinha passado pela cabeça. Quando alguém do Governo vem reafirmar a mesma coisa, nós voltamos a duvidar. Por outras palavras, o mau é termos chegado ao ponto de ser preciso as autoridades terem de nos dizer isso. Quando o secretário-geral do PS acrescenta que “os fundos públicos não devem ser usados para cobrir falhas dos privados”, só pode fazer-nos pensar no que temos pago pela falência do BPN com o argumento de Sócrates de que “o risco era sistémico”. E agora não é? Basta ver o que sucedeu nas bolsas e nos jornais económicos internacionais na semana passada. Interrogo-me ao fechar este artigo no domingo à noite com medo do que acontecerá segunda-feira quando a bolsa abrir.

O risco é um novo resgate. Só um irresponsável das oposições ao actual Governo é que não está seriamente apreensivo. Para as oposições, a palavra de ordem é: quanto pior, melhor! Ora, se algo mostra que o mal vem de longe, tal como a notória incapacidade de crescer economicamente que o país tem demonstrado desde o início do século XX, foi o alastramento imediato dos alegados problemas do “grupo BES” à Portugal Telecom, cujo presidente-executivo terá feito nada mais, nada menos, do que um recente empréstimo aparentemente incobrável de perto de mil milhões de euros ao “grupo BES”…

Não era a PT uma das jóias da coroa desse novo sistema económico que sucedera às desnacionalizações? O senão é que essas empresas – a que chamo “majestáticas” em recordação das concessões económicas nas antigas colónias africanas – só passaram a ser privadas na medida em que permaneceram sob o olhar controlador do Estado e, ficamos agora a saber, do seu grande accionista, o “grupo BES”. Segundo a imprensa especializada, o controle sobre a PT por parte de Ricardo Salgado e do governo Sócrates (com a sua “golden share”) ter-se-ia apertado quando Belmiro de Azevedo – outro nome do novo capitalismo – lançou uma OPA sobre a empresa, como aliás já tentara pôr o pé na televisão mas o Estado não deixara…

Como se não bastasse aquilo que se passou nos bastidores do “grupo BES” até os escândalos saltarem para os cabeçalhos da imprensa internacional, com o seu efeito fatal sobre a “confiança dos mercados”, os acontecimentos presentes desdobram agora perante nós toda a impudência e todos os riscos associados a uma pequena economia onde coabitam, se interpenetram e se apoiam mutuamente os interesses privados mais egoístas e os interesses políticos mais descarados. Em suma, uma economia que nem é verdadeiramente privada nem exclusivamente estatal, pagando contudo os custos de ambas as coisas, desde os oligopólios económicos aos agrupamentos partidários, com o apoio tácito dos partidos da extrema-esquerda sob o pretexto da defesa do “estado social” e do “emprego para todos”. Numa palavra, a oligarquia inconfessada que tem presidido ao nosso regime.

Com os enormes custos que isto está a representar e que constituem uma realidade difícil de imaginar, o país tem estado apesar de tudo a mudar sob a pressão do ajustamento financeiro. Faço ao primeiro-ministro a justiça de acreditar que ele deseja ardentemente não ter de envolver o Estado mais do que já está neste caso sórdido do “grupo BES”, mas não é certo que o consiga. Oxalá que entre ele e o governador do BdP consigam prosseguir a mudança que, contra ventos e marés, se tem processado neste campo, introduzindo uma linha de demarcação minimamente clara entre o público e o privado.

Se é certo que os “cortes” no funcionalismo e nas pensões, assim como as limitadas privatizações efectuadas, o aumento da produção de bens transacionáveis e sobretudo das exportações, permitiram reduzir o peso do Estado na economia, é absolutamente necessário que este processo continue e se alargue não só no plano das contas nacionais, mas também no das relações espúrias e corruptoras que se têm mantido entre os interesses económicos e o pessoal político, desde as grandes empresas às encomendas estatais do género “Magalhães”.

Nesse sentido, ao mesmo tempo que se exige a máxima rapidez na instalação de novos dirigentes à frente do BES, a fim de limitar o enorme desgaste que o caso está a causar, é preciso escrutinar de forma exemplar que as distâncias entre o público e o privado serão rigorosamente respeitadas, o que ainda não se está a verificar plenamente, longe disso, apesar das exigências expressas pela opinião pública. À mulher de César não basta ser séria; tem de ser transparente. Ora, a permanência de pessoal político indicado pela própria família Salgado à frente do BES só pode prejudicar a imagem do banco e custar votos aos partidos que assim se deixarem envolver na teia. Restam poucos dias ao governador do BdP e ao próprio governo para garantir que haverá essa transparência. Se não, isso será contado contra eles na primeira ocasião e o país pagará por isso.

Ah !!!! Valente !!!

Ex-ministro Manuel Pinho negoceia reforma de 3,5 milhões do BES
O antigo ministro da Economia de José Sócrates estará a preparar a sua reforma antecipada e segundo revela o Público esta pode chegar a cerca de 3,5 milhões de euros de compensações.
ECONOMIA
10 de Junho de 2014 | Por Notícias Ao Minuto

Manuel Pinho, antigo responsável pela pasta de Economia no Governo de José Sócrates, prepara a sua reforma antecipada e, segundo avança o Público, o ex-ministro, atualmente com 60 anos, estará negociar com o grupo BES a sua reforma, que pode chegar aos 3,5 milhões de euros.

Uma fonte oficial ligada ao ex-ministro terá explicado ao jornal diário que “o dr. Manuel Pinho está a contemplar, efetivamente, pedir a reforma a que tem direito desde os 55 anos, não como administrador do BES África, mas como administrador executivo que foi, durante cerca de 10 anos, no BES”.

Atualmente, Manuel Pinho leciona na School of International and Public Affairs, na Universidade de Columbia, numa cátedra sobre energias renováveis patrocinada pela EDP. Paralelamente, mantém-se vice-presidente do BES África.

Ainda segundo o Público, o antigo ministro estará a negociar com Ricardo Salgado a sua reforma antecipada.

Este sábado o semanário Expresso fez manchete sobre o BES desconhecer beneficiários de 80% da carteira de crédito do banco. Segundo o Expresso, o BES Angola terá perdido o rasto a 5,7 mil milhões de euros

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