segunda-feira, 30 de junho de 2014

Pânico sobre saúde de bancos búlgaros leva a cinco prisões. Corrida aos depósitos força UE a abrir linha de crédito à Bulgária.


Pânico sobre saúde de bancos búlgaros leva a cinco prisões
Presidente tenta tranquilizar população, numa altura em que foram convocadas eleições antecipadas
30 jun 2014 / PÚBLICO

 As autoridades búlgaras prenderam ontem três pessoas suspeitas de conspiração para desestabilizar o sistema bancário. No total, são agora cinco os detidos, acusados de difundirem falsas informações sobre a situação financeira dos principais bancos comerciais, que já levaram a uma corrida dos clientes às agências.
O persistentes rumores de insolvência do sistema bancário búlgaro levaram o banco central a informar que houve uma tentativa orquestrada para minar a credibilidade do sistema bancário.
O Presidente da República viu-se obrigado a tranquilizar os depositantes, procurando evitar corridas aos bancos na segunda-feira. “O dinheiro dos cidadãos e das empresas [guardado] nas instituições financeiras está seguro e garantido. Os bancos vão continuar a funcionar com normalidade”, disse Rosen Plevneliev, após reuniões com líderes políticos, com o ministro das Finanças e com a chefia do banco central.
Na sexta-feira, após meses de crise política, o Presidente da República anunciou a dissolução do Parlamento, a nomeação de um Governo interino a partir de 6 de Agosto e a convocação de eleições a 5 de Outubro.
Houve uma corrida aos depósitos na sexta-feira, que fez com que os clientes do First Investment Bank, o terceiro maior do país, levantassem mais de 408 mihões de euros. Apesar das garantias da administração e dos analistas sobre a saúde financeira da instituição, as acções caíram 23% e o banco teve de encerrar.
O banco central teve de assumir o controlo do Corporate Commercial Bank, quarta maior instituição de crédito do país mais pobre (e um dos mais corruptos) da União Europeia, que não integra o euro.
A repetição de “rumores falsos e mal-intencionados” sobre a alegada falta de liquidez do sistema bancário levou as autoridades a abrir uma investigação criminal. As primeiras detenções aconteceram menos de 24 horas depois: a polícia da cidade de Ruse confirmou que um indivíduo envolvido em acções contra instituições monetárias estava a ser interrogado pela agência de segurança nacional. Os outros quatro indivíduos foram detidos na capital, Sofia.
Segundo a Bloomberg, alguns dos indivíduos detidos deviam largas somas ao banco — o que poderá ter motivado a sua acção. De acordo com as autoridades, os cinco distribuíram rumores que levaram as pessoas a levantar os seus depósitos através de mensagens por SMS, emails e nas redes sociais.
Um responsável do Institute for Market Economics, Petar Ganev, garantiu à BBC que a situação financeira do país é estável, que “a liquidez dos bancos búlgaros até é superior à dos europeus” e que o rating do país se mantém elevado, “apesar do pânico”. Como notava a Reuters, a Bulgária é um dos países da UE com um menor endividamento público e um dos menos expostos à turbulência dos mercados internacionais.

Mas o país atravessa um período de instabilidade, com manifestações de rua contra o Governo, a braços com acusações de angariações ilícitas.

Corrida aos depósitos força UE a abrir linha de crédito à Bulgária
SÉRGIO ANÍBAL 30/06/2014 - PÚBLICO
Depois de Chipre, mais um país da UE é palco de filas às portas dos bancos. Mas autoridades búlgaras garantem que o sistema financeiro é saudável.

Pânico injustificado provocado intencionalmente por um pequeno grupo de pessoas ou sinal de debilidades graves no sistema financeiro do país? A dúvida colocou-se nesta segunda-feira, na Bulgária, que viu a União Europeia conceder-lhe um empréstimo de emergência de 1680 milhões de euros para travar o clima de instabilidade lançado pela corrida aos depósitos que se registou, no espaço de apenas uma semana, em dois dos principais bancos do país.

Tudo começou na semana passada com o Corporate Commercial Bank, conhecido como Corpbank. Depois de uma série de notícias que colocavam em causa a fiabilidade do banco, os seus clientes começaram a retirar dinheiro dos depósitos. O fenómeno intensificou-se de tal forma que o banco central se viu forçado a suspender o funcionamento da instituição financeira.

Na passada sexta-feira, foi a vez do First Investment Bank. Começaram a circular mensagens de telemóvel a aconselhar os clientes do banco a retirar o seu dinheiro e estes, já assustados com o que tinha acontecido no Corpbank, iniciaram mais uma corrida aos depósitos, formando filas extensas à porta da instituição financeira. Antes de o banco fechar as suas portas, foram levantados cerca de 800 milhões de lev (um valor ligeiramente acima de 400 milhões de euros).

Para tentar estabilizar a situação, a Comissão Europeia aprovou nesta segunda-feira o pedido feito pelas autoridades búlgaras para uma linha de crédito de 1680 milhões de euros. Bruxelas garante em comunicado que o dinheiro é entregue apenas “razões de precaução”, defendendo que o sistema financeiro búlgaro está “bem capitalizado e tem elevados níveis de liquidez quando comparado com os seus pares de outros países da União Europeia”.

Para já, apesar de as imagens de filas intermináveis às portas dos bancos poderem ter um impacto imprevisível na confiança das pessoas no sistema bancário, a maior parte dos analistas internacionais continua a defender que o sector financeiro na Bulgária é bastante sólido, não existindo razões para que os problemas se agravem e espalhem por mais bancos. Em particular, dá-se destaque ao facto de os bancos com problemas representarem 18,5% do mercado do país, sendo que 68,7% é dominado por bancos estrangeiros, em relação aos quais não há para já qualquer problema detectado.

As agências de rating internacionais não realizaram qualquer alteração às classificações atribuídas ao país e defendem que tem reservas suficientes para fazer face a uma eventual pressão que seja feita sobre a divisa búlgara, que até agora mantém um valor relativamente estável.


A intervenção europeia parece também estar a ser recebida positivamente pelos mercados. Depois de, na semana passada, as acções do sector bancário terem registado quedas fortes,n esta segunda-feira voltaram a subir, valorizando-se mais de 4% nas horas a seguir ao anúncio do apoio financeiro europeu.

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