sábado, 21 de junho de 2014

Chineses compram construtoras insolventes


Investidores querem assegurar todo o processo de reabilitação dos edifícios que estão a adquirir. Os investidores chineses estão a entrar numa nova fase da sua aposta no imobiliário português: estão a adquirir empresas de construção portuguesas à beira da insolvência para as reconverter e assegurar os projetos de reabilitação de edifícios que eles têm vindo a adquirir nos últimos meses em Lisboa. 

Tiago Mendonça de Castro, da PLMJ, sociedade de advogados que criou recentemente um departamento exclusivamente centrado nos investimentos realizados na Baixa, Avenida da Liberdade e Chiado (o Lisbon Investments & Avenida Luxury Retail projects) confirma estas movimentações no mercado: "Os vistos gold tiveram um grande ímpeto em 2013 mas agora estamos já na fase seguinte - a de comprar imóveis por inteiro e na fase de montar empresas de construção para reabilitarem esses edifícios. Nós já constituímos algumas empresas de construção para os nossos clientes chineses, quatro só neste departamento".


Segundo Tiago Castro, a lógica destes investidores é a de "comprar empresas de construção deficitárias, com alvarás e que têm já um know-how que os chineses não têm cá em Portugal, que possuem quadros técnicos que eles também não têm cá, e a partir daí alavancarem as suas operações de construção e reabilitação em Portugal". 
Manter os quadros técnicos portugueses é, aliás, "muito importante" para estes investidores chineses, diz ainda. "A lógica deste tipo de investimento em Portugal nunca será idêntica à lógica que eles seguem em países como Angola e Moçambique onde para fazer dezenas de prédios instalam lá vários contentores com centenas de trabalhadores que ficam lá dois anos a construir. Portugal não funciona assim e certamente não funcionará". 
Acrescentando que estes clientes chineses "ainda não entraram numa fase de implementação física das atividades trazendo para cá os seus responsáveis para gerirem as empresas", o advogado da PLMJ adianta que eles continuam muito atentos ao mercado "e apesar de estarem muito centrados em Lisboa poderão começar a olhar para o Porto", uma forma de dispersarem o seu investimento para zonas com muita procura. 
Construtores aplaudem

Para Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), é positiva esta movimentação que se está a verificar junto do sector, onde se inclui a aquisição por parte dos chineses de empresas portuguesas deficitárias. "Tudo o que seja dinâmica na construção é sempre bom. Também as nossas empresas quando vão para Angola compram empresas lá ou fazem parcerias para poder fazer lá obras. Tem lógica que eles comprem empresas já com alvarás. E é sempre vantajoso que eles invistam cá".
Este responsável lembra que neste que momento "não é muito difícil que os investidores chineses possam comprar empresas que estejam muito vulneráveis, injetando assim capital, o que lhes confere outra posição para renegociar com os credores". 
Números cedidos pela CPCI mostram que de 1 de janeiro a 4 de junho, o número de insolvências (estado em que o devedor tem prestações a cumprir superiores aos rendimentos que recebe) registadas na fileira da construção e do imobiliário totalizou as 576, um ritmo médio diário de três por dia. Ainda assim, este resultado, sublinha-se no relatório da CPCI, traduz um recuo de 11% face às 647 registadas no período homólogo de 2013.
Edifícios devolutos na Baixa procuram-se
Em Lisboa, as aquisições de imóveis inteiros devolutos para reabilitar por parte dos investidores chineses sucedem-se, quase sempre centrados nas zonas que asseguram maiores níveis de rentabilidade. 
Nos últimos tempos foram várias as aquisições a este nível. Esta semana, por exemplo, a consultora Aguirre Newman intermediou uma operação que envolveu a venda de três imóveis a uma "estrutura empresarial chinesa". Paulo Silva, diretor-geral da Aguirre Newman adianta que os três edifícios se localizam entre os Restauradores e o Saldanha e foram negociados no âmbito de uma operação chave na mão, o que significa que a Aguirre irá gerir toda a intervenção, inclusive os projetos de arquitetura. 
Questionado sobre a possibilidade de as empresas chinesas avançarem para outro patamar da sua atividade em Portugal através da construção dos edifícios em obra, Paulo Silva realça que não sendo o caso dos projetos que estão a ser assessorados pela Aguirre, essa é uma evolução lógica. "É natural este que haja por parte destas estruturas empresariais chinesas a vontade de verticalizarem o seu negócio".
Outro exemplo recente: a JLL, concretizou há duas semanas uma operação de investimento na zona prime de Lisboa, a quarta que realiza nesta zona este ano. O Departamento de Capital Markets vendeu o edifício Duque de Palmela 21, na rua com o mesmo nome, a um promotor de origem chinesa, que irá reabilitar o imóvel para uso habitacional. 
Fernando Ferreira, diretor do departamento de investimento da JLL, confirma a elevada procura por parte de compradores particulares chineses no âmbito do Golden Visa. "Esta medida criou condições para que investidores institucionais chineses procurassem em Lisboa projetos de promoção residencial para colocar posteriormente os apartamentos junto dos seus concidadãos", diz, acrescentando que têm mais operações em curso.

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