segunda-feira, 19 de maio de 2014

Mercado da Ribeira. Quem quer um croquete de choco fresquinho?


Mercado da Ribeira. Quem quer um croquete de choco fresquinho?
Por Miguel Branco
publicado em 19 Maio 2014 in (jornal) i online

Domingo é sempre um bom dia para ir à praça. O jornal i marcou presença no primeiro dia do renovado espaço, projecto da revista "Time Out"
Fim-de-semana solarengo, fim-de-semana abençoado. Desculpem-nos a inversão do ditado mas serve no ponto à ocasião. As tentações são muitas, a praia puxa de um lado, o Jamor puxa de outro, tudo para impedir a queda fácil pelo sofá e um filme em que já sabemos as falas de cor. Porém, há um novo íman de atracção, que faz dos aromas variados a sua força electromagnética. Parece que toda a gente saiu à rua. É a excursão de famílias sem grande vontade de cozinhar em dia de descanso, dos casais enamorados pela gastronomia gourmet e dos idosos a ver o que esta juventude anda a tramar. Todos ao molho e fé nas iguarias, no novo Mercado da Ribeira, em Lisboa, projecto que a revista "Time Out" tem vindo a preparar há três anos. Não há gritos de chamamento dos fregueses, mas nem por isso se sai mal aviado. Do sushi ao prego e aos hambúrgueres, unidos pelo gosto de dificultar a escolha da ementa...só não vale sair com fome.

A lógica urbana de renovação dos mercados começou a ganhar adeptos com o famoso Mercado de Campo de Ourique. Aqui, a mudança mais evidente prende- -se com o facto de esta ser a nova casa da "Time Out", todos as bancas gastronómicas aqui presentes foram escolhidas a dedo pela revista, que pensa ter seleccionado os melhores de cada área. Mas atenção, porque isto não acaba aqui. "Falta um bar, um restaurante, uma loja, uma sala de espectáculos, uma sala de exposições, um ponto grande de informação, salas com espaço e lugar para todas as secções da revista, basicamente, faltam dois terços da totalidade", garante João Cepeda, director da revista.

Antes de enchermos o bandulho, fomos ver que curiosos percorrem estes terrenos. Demos de caras com um casal na casa dos trinta anos e duas filhas bebés. Helena Rodrigues e Rui Mota quiserem conhecer o espaço. "Já tínhamos pensado passar por aqui neste primeiro dia, viemos à procura de coisas novas, até me parece que têm coisas conhecidas em excesso, podiam ter explorado nomes e restaurantes menos famosos", confessa Rui que depressa acrescenta que ainda não escolheram a ementa mas que estão a ponderar dar a provar sushi às duas pequenas.

Um passo para a esquerda e chocámos, literalmente, com Fernando Brito, coleccionador de 85 anos que foi apanhado de surpresa. "Nem sabia que hoje isto já estava aberto. Vim ver umas moedas para a minha colecção e depois espreitei", diz enquanto ajeita o boné no alto da cabeça e sacode quase por tique a camisa antiga. "Criaram muitos postos de trabalho, isso é sempre bom. Não fico para almoçar porque sei que tenho umas ameijoas e uns caracóis em casa à minha espera, isso ninguém me tira", garante.

A barriga começa a dar horas e sugerem-nos uma passagem pela Croqueteria, ideia de três amigos com olho para o negócio. "Achámos que nesta onda das 'ias', hamburguerias e tudo o mais, faria sentido aparecer uma croqueteria. É um produto que os portugueses sempre gostaram", conta Miguel Santos, um dos responsáveis que confessa ter passado muitas tardes a comer croquetes e a beber imperiais para se convencer que teriam sucesso. "A nossa ideia foi agarrar na essência do croquete e alterá-lo com receitas tradicionais portuguesas. Temos o tradicional de carne, que é o normal, mas que achamos ser o melhor dos melhores. Depois temos alheira e grelos, choco com tinta, bacalhau com chouriço, frango e farinheira, atum com tomate seco." Cada um por 1,5€ e também pode levar para casa - este é um segredo só nosso: o de choco é muito bom e o de alheira e grelos também, mas siga o conselho e escolha o de carne.

Se pensarmos nisto como uma refeição já arrumámos a entrada - só não trouxemos nenhum no bolso, pode fazer falta mais tarde. O balcão do Prego da Peixaria; o do chefe Henrique Sá Pessoa, e o do Pizza a Pezzi são os três vencedores da manhã no que às filas diz respeito. Fazemos uma finta para chegar a outro porto e metemos conversa com três amigas de 70 anos, que se proclamam as marias e que passeiam à boleia do cheiro a marisco. "Já temos uma sedução natural por mercados, e escolhemos passar aqui para completar uma parte do domingo, à tarde vamos aos museus, que hoje é o dia deles", explica uma delas. Os petiscos portugueses definiram o resto do seu percurso.

Enfim, chegámos à Tartar-Ia, projecto de Dieter Koschina, chefe do Vila Joya, que nos traz comida tártara de todo o mundo. "Pensámos nos tártaros porque se pode fazer de tudo, do peixe à carne, salada, tudo", conta Gebhard Schachermayer, que lidera o projecto em Lisboa. À falta de pratos - como podem ver na fotografia 4 já que a inauguração de sábado foi um sucesso - vai na mão e assim o tártaro de salmão até sabe melhor.


Para terminar, há que ir em busca de uma sobremesa, coisa que encontrámos na banca Nós é Mais Bolos, projecto de Helena Coelho e Carla Contige, manequins conhecidas e gulosas. Entre outras coisas dizem ter o Melhor Pão-de-Ló do Universo - é assim que se chama - daí que seja legítimo ao jornalista perguntar em que se baseiam para o afirmar. "Tens que provar para perceber", diz Helena. Gente bem comportada cumpre as ordens com prontidão. A resposta só a daremos depois de ir aos renovados Mercado de Saturno e Júpiter. Por enquanto, ficamo-nos pelo da Ribeira...e bem.

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