quarta-feira, 23 de abril de 2014

Polícias avisam turistas que política do Governo põe em causa segurança


Polícias avisam turistas que política do Governo põe em causa segurança
Agentes vão distribuir milhares de panfletos por todos os aeroportos do continente e ilhas. Querem alertar os turistas sobre a forma como estão a ser afectados pelos cortes nos salários e outras medidas
Pedro Sales Dias / 23-4-2014 / PÚBLICO

Os turistas estrangeiros que escolhem Portugal como destino vão ser surpreendidos por agentes da PSP numa iniciativa informativa invulgar. À sua chegada, os polícias farão questão de os avisarem de que a segurança interna poderá estar em causa com as medidas do Governo com que estão a ser afectados. A informação será dada em panfletos já a partir do próximo mês.
A decisão foi ontem tomada pelo Sindicato Nacional de Polícia (SINAPOL) numa das moções aprovadas na assembleia geral. “Os panfletos vão estar escritos em várias línguas e o que pretendemos é que os estrangeiros saibam as graves dificuldades pelas quais os polícias portugueses estão a passar. Aliás, queremos que saibam a forma como tratam por cá os polícias que é bem diferente da forma como os policias dos países deles são tratados e queremos que saibam ainda que isso, inegavelmente, poderá colocar em causa a qualidade do serviço prestado e da segurança interna”, explicou ao PÚBLICO, o vice-presidente da mesa da assembleia geral do SINAPOL, Luís Paz.
Os “milhares” de panfletos serão entregues em todos os aeroportos do continente e ilhas. Cada dia será dedicado a um aeroporto e os dirigentes sindicais irão envergar coletes reflectores devidamente identificados com a estrutura sindical representativa dos polícias.
“A luta sindical tem esmorecido nos últimos tempos depois das manifestações em frente ao Parlamento e o Ministério da Administração Interna não nos deu mais satisfações. Esta decisão da assembleia geral pareceme acertada para voltar aos protestos”, disse o presidente do SINAPOL, Armando Ferreira, quando questionado sobre a medida de protesto tomada por aquele órgão sindical.
Os polícias questionam assim precisamente a imagem que o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, tem procurado assegurar de que o país é seguro e de que isso é fundamental para o fomento do turismo. Em Junho do ano passado, Macedo disse ser “estratégico” para o turismo manter Portugal como um “país seguro”, durante a sessão de abertura do Seminário de Turismo e Segurança, que decorreu em Coimbra e foi promovido pelo Comando Distrital da PSP para assinalar o seu 135.º aniversário. Portugal “é um dos destinos mais seguros do mundo” e “esta é imagem de marca que tem valor comercial e importa valorizar”, salientou também então o ministro. Questionado pelo PÚBLICO, o MAI não quis reagir à iniciativa dos polícias.
“O MAI não nos disse mais nada. Não estamos nós a colocar a segurança do país em risco. Só queremos que os cidadãos saibam — e neste caso também os turistas — a forma como estamos a ser maltratados pelo Governo”, disse ainda Armando Ferreira.
Noutra moção, a assembleia geral do SINAPOL abriu caminho para novos protestos. “Vamos contactar os restantes sindicatos para, em conjunto, decidir o que mais fazer. Está tudo em cima da mesa: manifestações, protestos simbólicos ou até greve”, acrescentou Luís Paz. Aquele sindicato manteve um pré-aviso de greve em 2010, mas a medida foi polémica uma vez que legalmente os polícias não podem fazer qualquer paralisação. Aliás, corre actualmente no Tribunal Central Administrativo de Lisboa uma acção desta estrutura para que uma estrutura judicial decida se os agentes têm ou não direito à greve.
A última manifestação em frente à Assembleia juntou milhares de agentes da PSP, GNR, SEF, ASAE, guardas prisionais e PJ. A contestação no seio policial não esmoreceu após os protestos. Os polícias dizem-se enganados pelo MAI. Diversas reuniões com a tutela acabaram com um aumento de 25 euros no subsídio de fardamento quando a média de cortes salariais entre os agentes é de 200 euros, à semelhança do previsto para os restantes funcionários públicos.
Os polícias exigiam, por isso, alguma forma de compensação e asseguravam que era isso que estavam a negociar com o Governo. Miguel Macedo veio, porém, depois dizer que nunca pretendeu negociar formas de compensação dos cortes, o que inflamou os ânimos entre os polícias.

Os agentes reivindicam ainda subsídios de risco, integração dos familiares nos vários sistemas de saúde a que pertencem como polícias e questões relativas aos estatutos e carreiras dos profissionais de todas essas forças.

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