sexta-feira, 21 de março de 2014

Querem menos marroquinos em Haia?" Wilders promete "tratar" disso


Querem menos marroquinos em Haia?" Wilders promete "tratar" disso
ANA FONSECA PEREIRA 20/03/2014 - PÚBLICO
Partido xenófobo holandês não venceu eleições na cidade, mas a tirada centrou nele as atenções políticas.

Geert Wilders, o político xenófobo holandês para quem a polémica é a principal arma de sobrevivência, voltou a roubar protagonismo aos adversários embora os resultados das eleições municipais de quarta-feira não lhe tenham sorrido como esperava. Num comício em Haia, o líder do Partido da Liberdade (PVV) perguntou aos apoiantes: “Querem mais ou menos marroquinos na cidade?” “Menos, menos”, respondeu a assistência. “Vamos tratar disse”, prometeu, sorridente, Wilders.

A nível nacional, a vitória foi dos progressistas do D66, que conquistaram quase todas as grandes cidades da Holanda, canalizando o descontentamento dos eleitores com a coligação que une no Governo os liberais do primeiro-ministro Mark Rutte aos trabalhistas. O partido de Diederik Samsom, estrela das legislativas de 2012, foi mesmo o principal castigado pelas políticas de contenção orçamental do executivo, perdendo pela primeira vez desde o final da II Guerra Mundial o controlo da capital, Amesterdão.

O descontentamento com a subida dos impostos e o aumento de desemprego (um dos mais baixos da Europa, mas superior ao que o país estava habituado) beneficiaram também os socialistas (esquerda radical) e os partidos locais que, juntos, somaram 30% dos votos, com a formação herdeira do populista Pym Fortuyn a vencer Roterdão. 

Mas nesta quinta-feira falou-se sobretudo da tirada de Wilders, mesmo que o seu partido tenha apresentado candidatos em apenas dois dos 400 municípios que foram a votos. O PVV reconquistou Aldere, cidade dormitório de Amesterdão, mas não conseguiu a esperada vitória em Haia, com os progressistas a negarem-lhe à última hora um triunfo que seria a rampa de lançamento da campanha para as europeias – eleições que, segundo as sondagens, vão dar ao partido de extrema-direita a sua primeira vitória numa votação nacional.

“Ele foi longe de mais”, reagiu Rutte, que disse ter ficado “com um gosto amargo na boca” ao ouvir Wilders a incitar os seus apoiantes ao ódio racial. O primeiro-ministro – que no mandato anterior contou com o apoio do PVV, até que Wilders lhe tirou o tapete – disse que o importante é que “todas as pessoas que estão no país dêem uma contribuição positiva, não o lugar de onde vêem”.

A maior associação de holandeses de origem marroquina decidiu apresentar queixa por discriminação contra Wilders. “Isto vai ter um enorme impacto na comunidade e espero que haja um juiz capaz de ver isso. Ele pisou uma linha que, para ser franco, é muito assustadora”, disse à Reuters Ahmed Charifi, presidente da SMN. Em 2011, numa decisão polémica que encerrou um longa batalha para o condenar por incitação ao ódio, um tribunal ilibou Wilders, concluindo que as suas declarações incendiárias sobre o islão – chamou terrorista a Maomé e comparou o Corão ao Mein Kampf de Hitler – visavam uma religião, não um grupo étnico específico.

Já nesta campanha, Wilders tinha indignado a comunidade muçulmana ao afirmar que “a segurança nas cidades melhoraria se houvesse menos marroquinos” – um rapper de origem libanesa reagiu difundido um videoclip simulando a execução do político, um candidato trabalhista comparou-o a Hitler. “Este partido deixou de ter lugar em democracia”, reagiu nesta quinta-feira o deputado trabalhista Jan Vos, citado pelo jornal francês Le Monde.


Mas o discurso islamofóbico e anti-imigração, a que desde o início da crise se junta o repúdio por tudo o que vem da União Europeia, continua a ter eco na Holanda, um país que durante décadas se afirmou modelo da tolerância e multiculturalismo. Uma sondagem divulgada quarta-feira refere que, se as legislativas fossem agora, o PVV elegeria 25 deputados, mais 11 dos que tem actualmente, e a apenas um de diferença quer dos liberais, quer do D66. Os trabalhistas perderiam metade dos seus deputados, deixando a actual coligação com menos de um terço dos lugares no Parlamento.

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