sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Um sabor a vitória na praça. E uma sensação de fim de alguma coisa.At stake in Ukraine's drama is the future of Putin, Russia and Europe.Ukraine stands on the brink – and Europe must bring it back.


“Alexander, 58 anos, ex-membro das forças especiais soviéticas, e Oleg, 54 anos, treinador de luta greco-romana, militam num partido de extrema-direita, o Svoboda, e simpatizam com a Organização Nacionalista Ucraniana (UNO), um velho movimento conhecido pela sua entusiástica colaboração com os nazis, na Segunda Guerra Mundial.
( … )Os grupos nacionalistas, que outrora faziam gáudio do seu anti-semitismo, mostram-se agora grandes teóricos do conspiracionismo. Uma cabala orquestrada pelos americanos e judeus para destruir a Ucrânia está em curso e joga-se aqui, sob os nossos olhos, na própria revolução da Maidan, explicam Alexander e Oleg. Cabala essa que é no entanto liderada, de forma algo incompatível, pela Rússia de Putin, “o homem mais perigoso do mundo”.
( …) “Tudo indica que as teorias da conspiração são espalhadas pelos grupos de extrema-direita. Mas acabam por contagiar toda a gente na Maidan. Até inocentes manifestantes como Olga, que apenas lutam pela democracia, cedem a visões esotéricas (ou simplesmente lúcidas?): “A Europa só está a defender a Ucrânia porque quer roubar-nos à influência da Rússia. Mas nunca nos permitirá pertencer à União Europeia, porque nós somos bárbaros”.
Interrogada sobre o eventual perigo da infiltração dos grupos de extrema-direita no movimento pró-democracia, Olga desdramatiza: “Eu não concordo com eles, mas compreendo que queiram defender a Ucrânia. Que significa, afinal, ser nacionalista? Amar o seu país”.

REPORTAGEM
Um sabor a vitória na praça. E uma sensação de fim de alguma coisa
PAULO MOURA (em Kiev) 21/02/2014 - 23:04 / PÚBLICO

As pessoas vieram para celebrar uma vitória, ainda incerta, mas real. Dizem que querem viver num país normal, europeu. A Ucrânia é um país com cultura e com orgulho em si próprio.
Foi o dia de reforçar barricadas. Apesar de ter sido fechado um acordo, durante a noite, entre o Presidente, Viktor Ianukovich, e a oposição, muito favorável a esta, ninguém pensou em abandonar a Praça da Independência. Talvez nunca tenha estado tanta gente na Maidan, a palavra que quer dizer Praça, mas já alargou muito o seu significado, tanto no conceito como que diz respeito ao espaço: Maidan é a revolução e Maidan é todo o centro de Kiev.

Por todos os acessos, de todas as direcções, muitos milhares de pessoas afluíram ao coração da Maidan, ali onde há menos de 24 horas mais de 100 pessoas morreram, nos confrontos entre manifestantes e forças policiais.

As pessoas vieram para celebrar uma vitória, incerta, mas real. Talvez o Presidente volte atrás nas suas promessas de realizar eleições antecipadas, repor a Constituição de 2004 que atribuía mais poderes ao Parlamento, formar um Governo de Unidade Nacional. Mas a derrota não tem recuo. A humilhação de ter matado e a seguir perdido.

E talvez os manifestantes acabem por não se sentir satisfeitos com a promessas do Presidente, principalmente porque não confiam nele, e decidam prosseguir a luta. Alguns grupos e porta-vozes já o disseram - não vão retirar-se e planeiam novos ataques, talvez deitando a perder o que foi conseguido. Mas ninguém lhes pode tirar este sabor de vitória. O sentir que a acção tem consequências.

“Temos de exigir que todos os responsáveis pela violência sejam investigados e julgados”, disse Olga, 35 anos, professora. “A Ucrânia tem de mostrar ao mundo que é um estado de direito, uma democracia. Que as pessoas são responsáveis pelos seus actos, mesmo os governantes. Sobretudo eles. Eu quero voltar a ter orgulho de ser ucraniana”.

Esta é uma das sensibilidades da manifestação. Uma percentagem dos que protestam fá-lo porque quer mais liberdade política, mais direitos, mais dignidade. “A minha geração experimentou a liberdade”, diz Olga. “Antes de Ianukovich chegar ao poder, houve um período de total liberdade neste país. Foram criados mais de 100 partidos políticos, surgiram jornais e revistas de todas as tendências, era permitido dizer e escrever tudo. Entretanto chegámos a este ponto, em que uma pessoa pode ser assassinada a tiro por vir para a rua manifestar-se. As pessoas da minha geração não se conformam com isso. Querem viver num país normal, europeu. A Ucrânia é um país com cultura, com civismo, com humanidade, com orgulho em si próprio. Recusamo-nos a viver em ditadura. Nunca mais, nunca mais”.

De repente há a sensação de que isso foi conseguido, e que o foi de um modo sólido e irreversível, tão natural parece agora este mundo de liberdade que é Maidan. Um mundo recente e precário, vulnerável como o sangue ainda vermelho e húmido de algumas das vítimas de ontem, derramado no chão e cercado de flores.

Mas agora que a zona controlada pelos manifestantes se estende por todas as grandes avenidas do centro, com as suas barricadas de mais de três metros de altura, antes construídas com neve comprimida e agora fortificadas com pedregulhos, com as suas bancas de distribuição de armas - pedras, bastões e cocktails molotov - os seus checkpoints de segurança, as suas tendas de comida e bebidas, as suas brigadas de limpeza, agora que não é possível avistar nenhum polícia, militar ou qualquer outro agente de autoridade, a vertigem é ainda maior.

Sobraram seres esquisitos
Sobraram seres esquisitos. Uma senhora elegante, de casaco de peles e uma tranca debaixo do braço. Um jovem hippie com uma barra de ferro na mão. Uma rapariga magra, de olhos azuis, protegendo o peito com um escudo de ferro.

Outros, infinitamente mais aberrantes, revelam-se esteticamente mais coerentes, porém - homens musculados, com capacetes de guerra, coletes à prova de bala, máscaras negras, escudos e bastões, e bandeiras de partidos fascistas. Movimentam-se no seu elemento: um cenário de campo de batalha, com os seus montes de detritos, pneus, pirâmides de lixo, pontos de armamento, munições e extintores, tendas de lona verde e uma fuligem negra cobrindo tudo e pairando sobre as carcaças de contentores e carros incendiados.

Alexander, 58 anos, ex-membro das forças especiais soviéticas, e Oleg, 54 anos, treinador de luta greco-romana, militam num partido de extrema-direita, o Svoboda, e simpatizam com a Organização Nacionalista Ucraniana (UNO), um velho movimento conhecido pela sua entusiástica colaboração com os nazis, na Segunda Guerra Mundial.

“Os polícias são animais, porque atacaram uma tenda onde havia figuras e vários objectos religiosos”, disse o surpreendentemente pio Alexander, antes de explicar, com pormenores de profissional, como é que mais de 70 pessoas foram mortas por snipers da polícia estrategicamente colocados nos edifícios circundantes. “Ianukovich é um fascista”, disse Oleg. “Anunciou um dia de luto pelos mortos, fez hastear por todo o lado as bandeiras a meia-haste, e depois lançou a polícia contra o povo, para provocar ainda mais mortos”.

Retratos dos mártires
Alexander e Oleg passaram a noite na praça junto a uma banca com velas em memória dos mártires do movimento nacionalista ucraniano. Por trás da banca com os retratos dos mártires, a bandeira vermelha e negra do UNO, que, segundo os dois amigos, vai agora ressuscitar como partido legal. “A Ucrânia deve ser para os ucranianos”, explica Alexander com o tom enfático de quem formulasse uma ideia original. “Estamos cansados de ser subjugados pela Rússia e outras potências”, continua Alexander. “Eu fui obrigado a ir viver para a Rússia, para servir numa unidade especial do Exército Vermelho. Muitos outros ucranianos foram forçados a combater no Afeganistão e no Cáucaso. Milhões de pessoas foram deslocadas. O nosso país foi invadido e ocupado muitas vezes por potências estrangeiras. Nós amamos a Ucrânia, queremos que o mundo respeite a Ucrânia”.

Os grupos nacionalistas, que outrora faziam gáudio do seu anti-semitismo, mostram-se agora grandes teóricos do conspiracionismo. Uma cabala orquestrada pelos americanos e judeus para destruir a Ucrânia está em curso e joga-se aqui, sob os nossos olhos, na própria revolução da Maidan, explicam Alexander e Oleg. Cabala essa que é no entanto liderada, de forma algo incompatível, pela Rússia de Putin, “o homem mais perigoso do mundo”.

Uma conspiração?
Leo, um georgiano de 27 anos que desistiu de combater o poder russo no seu país, veio aproveitar o momento mais propício de Kiev. “Há uma conspiração da maçonaria e dos milionários americanos para destruir a Ucrânia”, disse ele, de onde concluiu que a situação apenas tende a complicar-se: “Isto é o princípio de uma grande guerra entre a Ucrânia e a Rússia”.

Leo casou com uma rapariga de Ternopil, uma cidade do Oeste da Ucrânia onde o partido direitista Svoboda detém o poder local. Vivem lá os dois, com dois filhos, e vieram para Kiev num dos cinco autocarros fretados para trazer manifestantes à capital. Se o actual conflito degenerasse numa guerra civil, como alguns auguram, Ternopil e Lviv seriam os centros da facção anti-Rússia e anti- Ianukovich.

Sveta, a mulher de Leo, admite que está cheia de medo, mas considera a sua presença no protesto “uma obrigação”. Tem também uma teoria secreta: “Ninguém sabe, neste país, mas eu tenho a certeza de que há muitos russos misturados com a Berkut (a força especial da polícia ucraniana)”.

Tudo indica que as teorias da conspiração são espalhadas pelos grupos de extrema-direita. Mas acabam por contagiar toda a gente na Maidan. Até inocentes manifestantes como Olga, que apenas lutam pela democracia, cedem a visões esotéricas (ou simplesmente lúcidas?): “A Europa só está a defender a Ucrânia porque quer roubar-nos à influência da Rússia. Mas nunca nos permitirá pertencer à União Europeia, porque nós somos bárbaros”.

Interrogada sobre o eventual perigo da infiltração dos grupos de extrema-direita no movimento pró-democracia, Olga desdramatiza: “Eu não concordo com eles, mas compreendo que queiram defender a Ucrânia. Que significa, afinal, ser nacionalista? Amar o seu país”.

As várias sensibilidades podem ser antagónicas, mas não deixam de ser também transversais. A outra, estranhamente ubíqua pela geografia de Maidan, é a religião. No palco onde os activistas proferem os seus discursos, num ciclo ininterrupto que inclui também poemas patrióticos e canções de cossacos, há uma estátua da Virgem com um manto branco, velas e pinturas do rosto de Jesus Cristo.

Além disso, depois de cada discurso, padres ortodoxos e católicos irrompem em cânticos intermináveis. A certas horas, constituem completos ofícios religiosos que ocupam o tempo do palco da revolução.

Os muitos milhares de pessoas ouvem os cânticos polifónicos em silêncio, algumas com lágrimas nos olhos, outras sem disfarçar algum enfado. Por toda a Praça da Independência e territórios adjacentes os sacerdotes passeiam-se nas suas vestes rigorosas, pregam sermões a grupos restritos, cantam em palcos dispersos. Ninguém os ignora, a sua autoridade é indiscutível e unânime, ao contrário do que sucedia com os controversos imãs na Praça Tahrir, durante a revolução egípcia. Em comparação com essa, ou com a de Taksim, em Istambul, esta Primavera é mais confusa, mais violenta, mais silenciosa e mais sombria.


Aqui, os guerreiros parecem mais velhos, mais pobres, mais tristes. Enquanto ouviam os trinados límpidos e comoventes dos padres, uma forte explosão fazia-se sentir ao longe, de vez em quando. Todos sabiam tratar-se apenas da rebentação, pelos rebeldes, das bombas que sobraram, como brinquedos de triunfo e bazófia. Mas mesmo assim estremeciam, entreolhavam-se cheios de medo. Como se soubessem, ou esperassem, que a festa que viviam não fosse o fim de alguma coisa, mas o princípio.

Quem tramou Viktor Ianukovich?
DIRECÇÃO EDITORIAL 22/02/2014 - 11:13 / PÚBLICO
Sem o apoio dos oligarcas, o Presidente recuou e irritou Moscovo.
A imprevisibilidade é uma característica da política ucraniana. Os acontecimentos dos últimos dias têm sido a prova disso mesmo.

O acordo entre a oposição e o Presidente Viktor Ianukovich, patrocinado pela União Europeia, chegou no dia seguinte à jornada mais sangrenta desde que os protestos começaram, há três meses. Surgiu num momento em que a violência parecia ir engolir tudo. Mas ainda é cedo para medir quanto vale esse acordo.

Em primeiro lugar, porque Viktor Ianukovich é um homem de assinar compromissos, mais do que respeitá-los. Mas sobretudo porque a rua, a Maidan, onde se instalou a fronteira entre a liberdade e a ditadura, não esquece os mortos e exige a demissão do Presidente – a única saída aceitável para um chefe de Estado que deixou a sua capital transformar-se num teatro de guerra.

Que motivos levaram Ianukovich a recuar? Mais do que a pressão, tímida, dos ministros da UE, foi a evidência de que a rua não ia ceder. E, sobretudo, porque os oligarcas que patrocinam o Presidente e do qual ele depende deram sinais de que iriam deixar de o apoiar. Compreender os oligarcas é compreender o essencial da política ucraniana. A maioria dos actores políticos depende dos oligarcas, que construíram as suas enormes fortunas com a desagregação do aparelho produtivo soviético. Os oligarcas ucranianos, mesmo os que são culturalmente russófonos, não gostam da Rússia, por terem medo de serem engolidos pelos oligarcas russos. Gostam da União Europeia, mas preferiam não ter de respeitar as regras e o código de conduta comunitário. E têm medo de vir a ser atingidos pelas sanções.

Pressionado pela rua e sem o apoio dos oligarcas, Ianukovich cedeu e irritou os seus aliados russos. Moscovo não se revê no acordo e cortou os financiamentos que tinha acordado com o Presidente e dos quais a Ucrânia depende para não entrar em bancarrota. No imediato, alguém terá que pagar essa factura. A crise ucraniana está longe do desfecho. Abriu-se uma porta à mudança, mas esta ainda está longe da consolidação.


At stake in Ukraine's drama is the future of Putin, Russia and Europe
Ukraine may yet show us that the default model of revolution has changed to one of negotiated transition
Timothy Garton Ash

Beyond the burning barricades and the corpses in the streets, here are five big things that are at stake in Ukraine's insurrectionary drama. They mean that what happens in Ukraine will affect not just the Ukrainians, but also Russia, Europe and our sense of what makes a revolution.

1. The future of Ukraine as an independent state-nation

Intense violence inside a state, still falling short of civil war, can go two sharply different ways. It can tear the state apart, as in Syria and former Yugoslavia, or, if people join hands to retreat from the brink, it can weld a state-nation together – as in South Africa. (A state-nation is one in which a shared civic national identity is created by the state, rather than a single ethnic national identity being embodied in it.)

One reason that recent months in Ukraine have been so chaotic is that Ukraine, despite being an independent country for more than two decades, is neither a properly functioning state nor a fully formed nation. President Viktor Yanukovych is a thug, but he is also an ineffective thug. Effective, disciplined security forces would not be shooting demonstrators dead almost at random one minute, but abandoning the same streets to them the next. Similarly, Ukraine's administration, parliament and economy are nothing like those of a normal European state. They are infiltrated and manipulated to an extraordinary degree by oligarchs, camarillas and the president's family, aka the Family.

This is what many Ukrainians are so angry about, and what some have now given their lives to change. But if yesterday's proposed deal – for a coalition government, constitutional reform to give parliament back more powers, and a presidential election before the end of the year – can be made to stick, then these bloody days could yet go down in history as a decisive chapter on the path to independent state-nationhood. If not, further disintegration looms.

2. The future of Russia as a state-nation – or an empire

With Ukraine, Russia is still an empire; without Ukraine, Russia itself has a chance to become a state-nation. The future of Ukraine is more central to Russia's national identity than that of Scotland is to England's. Centuries ago, people who lived in the territory that is now Ukraine were the original Russians. In this century, the people who call themselves Ukrainians will shape the future of what is now Russia.

3. The future of Vladimir Putin

An independent Russian journalist has observed that the most important event in Russian politics during the last decade happened not in Russia but in Ukraine. It was the Orange Revolution of 2004. So, with considerable skill, Putin's "political technologists" developed techniques to counter such developments. When the Kremlin trumped the EU's rule-rich but cash-poor association offer to Ukraine with a cool $15bn, one well-known Russian political technologist, Marat Gelman, tweeted: 'Maidan installation sold for 15 billion – most expensive art object ever.' (The Maidan is Kiev's Independence Square.)

But it didn't quite go according to plan. So last Monday Russia released another tranche of the $15bn, and on Tuesday Yanukovych's militia started using live ammunition against increasingly desperate and sometimes violent protesters. The fact that Putin was prepared to risk international blowback during his treasured Sochi Olympics shows how vital Ukraine is to him. Now he has retreated tactically, faced with the facts on the ground – but have no illusions that he will stop intervening.

4. The future of Europe as a strategic power

Just as Ukraine is not simply split between east and west, so the geopolitical issue here is not whether Ukraine joins Europe or Russia. It is whether Ukraine becomes increasingly integrated into the political and economic community of Europe, as well as having a very close relationship with Russia. It is also whether the EU will stand up for basic European values on its own front doorstep, as it failed to do in Bosnia.

The EU miscalculated by delivering an "us or them" ultimatum last autumn, without offering Ukraine desperately needed ready cash or a clear perspective of EU membership. As the Ukraine expert Andrew Wilson notes, the EU took a baguette to a knife fight. In recent weeks, it has done better. Friday's proposed compromise is a tribute to the personal engagement of the German, Polish and French foreign ministers. But does a Europe weakened by the eurozone crisis have the resolve and strategic imagination for the long term?

5. The future of revolution

I have argued that, in our time, 1989 has supplanted 1789 as the default model of revolution: rather than progressive radicalisation, violence and the guillotine, we look for peaceful mass protest followed by negotiated transition. That model has taken a battering of late, not only in Ukraine but also in the violent fall that followed the Arab spring. If this fragile deal holds, however, and the fury on the streets can be contained, Europe might again show that we can occasionally learn from history.

Twitter: @FromTGA


 Ukraine stands on the brink – and Europe must bring it back
This is no velvet revolution, but nor is it an uprising of fascist Cossacks or a zero-sum game with Russia. Europe must intervene on the side of democracy and human rights
Timothy Garton Ash

Ukraine has not yet died – as the country's anthem observes. But the face of Ukraine today is that of the bloodied, scarred opposition activist Dmytro Bulatov. Comparisons with Bosnia are still far-fetched, but think of this as a political Chernobyl.

I have no idea what will happen in Ukraine tomorrow, let alone next week. But I know what all Europeans should want to happen over the next year and the next decades. In February 2015, on the 70th anniversary of the Yalta agreement, Ukraine should again be a halfway functioning state. A corrupt and rackety one, but still the kind of state that, in the long run, forges a nation. It should have signed an association agreement with the EU, but also have close ties with Russia. In February 2045, on the 100th anniversary of the Yalta agreement, it should be a liberal democratic, rule-of-law state that is a member of the EU, but has a special relationship with a democratic Russia. "Pie in the sky!" you may say. But if you don't know where you want to go, all roads are equally good. This is where we should want to go.

That outcome would obviously be good for Ukraine. Less obviously, it would be good for Europe. Look at the shifting balance of world power, and look at the demographic projections for western Europe's ageing population. We'll need those young Ukrainians sooner than you think, if we are to pay our pensions, maintain economic growth and defend our way of life in a post-western world. Less obviously still, it would good for Russia. Russia has lost an empire but not yet found a role. Its uncertain sense of itself is inextricably bound up with its deep-seated confusion about Ukraine, a cradle of Russian history that many Russians still regard as belonging back in Russia's nursery.

Once upon a time, young Conservatives like David Cameron shared such a vision of a wider Europe of freedom. Inspired by the velvet revolutions of 1989, and by Margaret Thatcher, they loathed the statist, federalist and socialist Little Europe of Brussels, but loved that far horizon of liberty. Yet where is the British prime minister's voice on Ukraine today?

Back in his idealistic youth, Germans were the mealy-mouthed stability-huggers, and Brits spoke out for human rights in eastern Europe. Now, Angela Merkel tells her parliament – to applause – that the Ukrainian authorities must not ignore "many people who have shown in courageous demonstrations that they are not willing to turn away from Europe. They must be heard", while the Conservative benches of the British parliament resound with appeals to turn away from Europe, and to keep out those numberless hordes of eastern European welfare scroungers. Among the few Ukrainians welcome here are the oligarchs, who get Britain's special visas for the very rich, and buy the fanciest places in London. One of them, Rinat Akhmetov, paid £136m for a 25,000 sq ft pied-a-terre in the luxurious One Hyde Park apartment complex.

Granted, it is hard to see how we can make much difference in the short term. This is no longer a velvet revolution, as the 2004 Orange Revolution was. It started as a protest against the (freely and largely fairly elected) President Viktor Yanukovych's sudden refusal to sign an association agreement with the EU. Opinion polls show that a majority of Ukrainians favour more European integration. The heart of protest in Kiev is still nicknamed the Euromaidan (Eurosquare). What characterises a velvet revolution, however, is that non-violent discipline is largely maintained – even in the face of violent oppression by the state – and it ends in a political negotiation. Now, mainly because of the stupidity of the Yanukovych machine and the brutality of its Berkut militia thugs, but also because there are other opposition forces at work in different parts of a fractured country, the velvet is burning.

Some very nasty far-right groups have mounted the barricades. How large a role they play is disputed. A Ukrainian specialist on the European far right, Anton Shekhovtsov, who was there during the recent protests, says that while there is a real neo-Nazi and hooligan fringe, especially in a group called White Hammer, most of the so-called Right Sector activists see themselves as national revolutionaries fighting for independence from Russia. Yet even if you take a more alarmist view, to suggest that Europe should just sit on its hands because fascists and antisemitic Cossacks (recognise a stereotype anyone?) are taking over the show is even more ridiculous than it would be to pretend that this is all the sweetness and light of Václav Havel's Wenceslas Square in 1989. Abandon all meta-narratives, ye reporters who enter here.

Worse than ridiculous is the notion that the EU should not intervene in any way because this is a purely Ukrainian affair. Putin's Russia has been intervening for years, overtly and covertly, while insisting no "outsiders" should interfere. In the last decade, Russia has twice turned off the gas tap to force Ukrainian hands, and the methods Moscow uses behind the scenes to persuade Yanukovych and pivotal oligarchs can barely be described in a family newspaper.

By contrast, the EU's "imperialist" intervention has consisted in offering an association agreement, attempting to broker a negotiated settlement between the warring parties and mainly verbal support for non-violent, pro-European demonstrators. To denounce this herbivorous intervention while ignoring Russia's carnivorous ones is Orwellian doublethink.

But comrade Lenin's question remains: what is to be done? The Poles, with members of the Ukrainian opposition, call for a larger carrot. "Not martial law but a Marshall Plan," says opposition leader Arseniy Yatseniuk. In your dreams, Arseniy. Others call for targeted western sanctions against the Yanukovych clan and selected oligarchs.

I suspect all this will make only a marginal difference. History is being written hour by hour on the ground in Ukraine. But if the British prime minister does want to reconnect with the idealism of his youth, while practising the realpolitik required in his current job, I suggest he has a private word with those key swing-players in Ukraine, the oligarchs. Men like Victor Pinchuk, Dmytro Firtash (a generous donor to Cambridge University) and Akhmetov. We know where they live – in London, among other places. So to have that discreet fireside chat, the prime minister would only need to pop down the road, from Downing Street to One Hyde Park.

Twitter: @fromTGA

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