sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O Ressurgimento do Anti-semitismo em França.O caso Dieudonné. (2)

"At the beginning of the 21st century, antisemitism found new sources in the drifting of a certain type of leftism and in the identification of a significant proportion of the Muslim immigrant population with the Palestinian cause on the one hand and with radical Islamism on the other. A critical debate on the nature, as well as the denunciation of antisemitism linked to the situation in the Middle East (for example, the break out of the Second Intifada) and to Islam, led to divisions between anti-racist groups."

“Dieudonné, who admits to being "anti-Zionist", has always argued the gesture is anti-establishment, but dozens of pictures have emerged of members of the public doing the quenelle outside synagogues, Holocaust memorials and Jewish schools.

Valls said of the Conseil's decision: "We cannot tolerate antisemitism, historical revisionism and racism, and the highest juridiction in our country has agreed. It's a victory for the republic." (Guardian)

"Dieudonné, que se defende com o direito à liberdade de expressão, é filho de um camaronês e de uma francesa. Foi condenado várias vezes por incitação ao ódio racial e está habituado a provocar polémica com declarações sobre os judeus, Israel e os Estados Unidos. Mas a polémica nunca foi tão grande como agora, alimentada pela popularidade que ganhou a quenelle, que organizações judaicas interpretam como uma saudação nazi invertida." ( Público )

Conselho de Estado francês proíbe espectáculo de Dieudonné em Nantes
PÚBLICO 09/01/2014 – in Público
O humorista está dentro de um teatro em cuja entrada está um cordão policial.

Um cordão policial cerca o teatro de Nantes, em França, onde deveria realizar-se esta quinta-feira um espectáculo do humorista Dieudonné M'bala M'bala que foi proibido pelo Conselho de Estado. Um tribunal local tinha autorizado a realização da performance, depois de as autoridades da cidade a terem proibido.

Dieudonné, revelam as agência noticiosas, está no interior do teatro onde deveria actuar perante cinco mil pessoas. Após a deliberação do tribunal de Nates, o ministro do Interior, Manuel Vals, dissera que ia pedir a uma alta instância para reverter a decisão.

Dieudonné abriu a polémica com um discurso anti-semita nos seus espectáculos que acompanha com um gesto, o quenelle (semelhante a um manguito) - há acusações de racismo e incitamento ao ódio contra o humorista. Os protestos sucederam-se e Vals anunciou que iria procurar uma solução na lei que impedisse Dieudonné de actuar. Algumas cidades, entre elas Nantes, fizeram o mesmo.

O espectáculo que Dieudonné tem em digressão chama-se O Muro - que osmedia franceses dizem ter uma série de referências discriminatórias para os judeus - e o tribunal de Nantes considerou que não consistia "um ataque à dignidade humana". O veredicto foi considerado uma vitória para Dieudonné (que se expressou nas redes sociais com uma frase, "Ganhámos"), e a principal organização judaica francesa disse que a decisão do tribunal foi "lamentável".

Associações judaicas francesas tinham anunciado a intenção de se manifestar à porta do Zénith de Nantes, dando argumentos aos que anteviam a possibilidade de confrontos antes ou depois do espectáculo.

A questão neste momento é saber se o humorista vai tentar realizar o espectáculo ou aceitar a decisão do Conselho de Estado. À porta do Zénith, momentos antes de se saber da decisão, já havia uma fila de gente, com algumas pessoas a procurarem ainda bilhetes.


Dieudonné, que se defende com o direito à liberdade de expressão, é filho de um camaronês e de uma francesa. Foi condenado várias vezes por incitação ao ódio racial e está habituado a provocar polémica com declarações sobre os judeus, Israel e os Estados Unidos. Mas a polémica nunca foi tão grande como agora, alimentada pela popularidade que ganhou a quenelle, que organizações judaicas interpretam como uma saudação nazi invertida.

As judiarias de Dieudonné M'bala M'bala
Por Sara Sanz Pinto
publicado em 11 Jan 2014 in (jornal) i online

O espectáculo do humorista agendado para quinta-feira foi cancelado por intervenção do governo francês pouco antes de subir ao palco em Nantes
"Quando ouço o Patrick Cohen [jornalista judeu] falar... penso para mim mesmo... câmaras de gás... que pena!" Foram piadas deste tipo que fizeram com que Dieudonné M'bala M'bala não pudesse actuar na quinta-feira à noite em Nantes. O espectáculo que iria inaugurar a sua Tour de France foi cancelado poucas horas antes de começar, no mesmo dia em que um tribunal local tinha anulado a decisão que o proibia de continuar com as suas controversas actuações.

O limbo judicial fez com que a confusão se instalasse à porta do teatro Zenith, com a polícia a bloquear a entrada do edifício e as pessoas que tinham comprado os ingressos (segundo o "Independent", cerca de 6 mil, ao preço de até 43€, já tinham sido vendidos para a sua performance na cidade no oeste de França) a protestarem.

Condenado várias vezes por incitar ao ódio racial ou ao anti-semitismo durante os seus espectáculos, o comediante de 47 anos também popularizou o gesto conhecido por "quenelle", que segundo o ministro francês do Interior, Manuel Valls, é uma "saudação nazi invertida". A tensão criada no país com as provocações de Dieudonné tem dominado a comunicação social francesa, levantando questões polémicas em torno da liberdade de expressão e do anti-semitismo no país. O dia de quinta-feira é uma boa prova disso: a proibição da actuação envolveu várias autoridades, que vão desde o Conselho de Estado (o mais alto órgão administrativo do país), passam por Nantes e um tribunal da cidade e chegam a Valls, que quer que o cómico seja afastado de todos os palcos de França, denunciando o que classifica de "mecanismos de ódio" transmitidos ao público.

Na quinta-feira à tarde, apoiando-se no "risco para a segurança pública" e depois de o ministro do Interior ter pedido "firmeza e determinação" face à polémica, o Conselho de Estado decidiu cancelar o espectáculo que iria ser mais um "ataque grave" aos valores fundamentais franceses. Por seu turno, Dieudonné - que horas antes, quando conhecida a decisão do tribunal em Nantes de não proibir a sua actuação, escreveu na sua página de Facebook "Ganhámos!" - não se pronunciou e apenas pediu aos fãs para evitarem confrontos e irem para casa a cantar a Marselhesa, o hino nacional francês. Ontem interpôs um recurso após a proibição do executivo.

Segundo a Constituição francesa, o governo não pode (pelo menos em teoria) proibir performances teatrais. Esse tipo de questões é da responsabilidade das câmaras municipais e as decisões são tomadas com base em considerações locais. Além da passagem por Nantes, vários espectáculos estavam agendados para outras cidades do país. No entanto, uma circular emitida na segunda-feira pelo ministro do Interior deixou os autarcas com pouca margem de manobra e, no dia seguinte, o espaço que restava foi ocupado pelo presidente francês, François Hollande, que pediu a todos os responsáveis para serem "vigilantes e inflexíveis" na implementação das directrizes.

Para Valls, as actuações de Dieudonné, que ridicularizam o Holocausto e acusam os judeus de controlarem o mundo, deixaram de ser artísticas e cómicas e passaram a representar uma manifestação política de extremismo.

UM NOVO ANTI-SEMITISMO A virada de Dieudonné, que começou cedo a sua carreira com piadas sobre o declínio moral e a alienação social da sociedade francesa, ao lado de Elie Semoun, um amigo de infância judeu, aconteceu no início de 2002, em duas entrevistas separadas, quando comentou que preferia "o carisma de Bin Laden ao de George W. Bush" e que o judaísmo era "uma farsa".

Inicialmente, os seus comentários foram tidos como uma sátira bizarra, mas gradualmente foi-se tornando claro que Dieudonné queria dizer o que dizia. Ninguém sabe por que desenvolveu esta obsessão. Muitos dos seus críticos especulam que usou o anti-semitismo como uma forma de aumentar a sua riqueza e fama, mas isso é pouco provável, uma vez que já estava no auge da carreira antes da sua revelação política e das posições extremas que lhe custaram muitos papéis convencionais em cinema e televisão.

"Penso que o Dieudonné tem uma intuição bastante aguçada para os movimentos de opinião pública e procurou de imediato instrumentalizar este anti-semitismo repugnante na opinião pública ao trazê-lo para os seus espectáculos, como uma provocação popular e um meio de se conectar com as pessoas a nível visceral. O Dieudonné é um provocador, ele existe através da provocação", explicou à "New Yorker" Pierre-André Taguieff, especialista francês em racismo.

Em Fevereiro de 2007, o humorista passou um "fim-de-semana de resistência" (resistência à conspiração sionista) em Teerão, onde disse, em entrevista à televisão iraniana, apoiar o programa nuclear e a oposição do então presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad, à hegemonia americana. As suas posições políticas têm sido motivo de desilusão para muitos dos seus colegas que não entendem a razão de tanta polémica. "Não sei explicar o que aconteceu com Dieudo a não ser problemas psicológicos profundos combinados com o facto de que, uma vez tendo escolhido ir por este caminho, é impossível voltar atrás", explicou Ariel Wizman, um DJ francês, acrescentado que, quando o conheceu, era uma pessoa "muito engraçada, irónica e inteligente".

O aparecimento do novo Dieudonné coincidiu com o maior aumento da violência anti-semita em França desde a Segunda Guerra Mundial, país que conta com a maior comunidade judaica (cerca de meio milhão) depois de Israel e dos Estados Unidos. Paris teve primeiros-ministros judaicos como Léon Blum e Pierre Mendès-France e grandes figuras da política francesa incluem judeus como Dominique Strauss-Kahn, o antigo ministro das finanças, Laurent Fabius, antigo chefe de governo, ou Nicolas Sarkozy (cujo avô era judeu), antecessor de Hollande.

"Dieudonné é o porta-voz, o padrinho, o ícone de um novo tipo de anti-semitismo", defende Alain Finkielkraut, filósofo que se debruça sobre a identidade judaica. "É um anti-semitismo explicitamente anti-racista, que inverte o anti-semitismo tradicional ao argumentar que os nazis de hoje em dia são os judeus. O idioma do anti-semitismo já não é o racismo, é agora o anti-racismo. Os seguidores do Dieudonné dizem que não odeiam os judeus, odeiam o racismo dos judeus. Dizem que Israel é como o nazismo, como o Apartheid", conclui.

Em Dezembro de 2003, o cómico que ataca sobretudo o capitalismo judeu apareceu no talk-show sobre política "You Can't Please Everyone", com um casaco camuflado, uma máscara de ski preta e um chapéu judeu ortodoxo com os dois cachos de cabelos (falsos) laterais característicos da facção religiosa e convidou a audiência a juntar-se "ao eixo américo-sionista, o único que oferece felicidade e o único onde há a hipótese de viver um pouco mais". Concluiu o discurso levantando o braço e gritando "Isra-heil".

CONTAS COM O PASSADO "Olá palhaço! Aqui é o pequeno judeu", escreveu o seu colega Elie Semoun numa carta aberta publicada no "Libération" em Fevereiro de 2004. "Escrevo-te para te dizer que gosto de ti e que estás a magoar-me. Não és mais a pessoa que conhecia e com quem me ria mais do que com qualquer outra pessoa. Tu e eu brincávamos com toda a gente, as pessoas adoravam... por isso é que me sinto tão traído, não és o mesmo Dieudo", concluiu.

Dois meses depois, começou um espectáculo intitulado "Mes Excuses" cujo propósito era tudo menos redimir-se. Já em 2005 e com o mesmo show na Argélia, Dieudonné deu uma conferência de imprensa onde afirmou que os que estavam no poder em França (aqui referia-se em particular ao então primeiro-ministro, Jean-Pierre Rafarrin) eram forçados a "lamber o cu" da CRFI, a maior organização judaica francesa e chamou ao grupo "a máfia que controla a república". Também afirmou que "o lobby sionista cultiva a ideia de sofrimento único" e, segundo um site já extinto, ProcheOrient.info, referiu-se à Shoah (Holocausto) como "pornografia fúnebre", o que armou uma confusão.

Dominique Perben, o então ministro francês da Justiça, ordenou a abertura de um inquérito às declarações do humorista e, quando regressou a casa, Dieudonné explicou que tinha sido mal interpretado. "Nunca fiz essa afirmação, que é um insulto para a memória do Shoah e contra a lei", disse, sublinhando que se referia às comemorações do Holocausto e não ao Holocausto em si.

IDEOLOGIAS Filho de um pai natural dos Camarões e de mãe francesa, Dieudonné (nascido em 1966 nos arredores de Paris) começou a sua carreira a lutar contra a Frente Nacional, partido de extrema-direita anti-imigração. Mais tarde mudou de ideias e tornou-se próximo de Jean-Marie Le Pen, fundador do partido, pai de Marine Le Pen, actual líder da FN, e padrinho de uma das quatro filhas do humorista. "As liberdades dos franceses estão constantemente a ser atacadas por este governo socialista", comentou Le Pen esta semana. "Já nem rir nos deixam."

Em declarações à "New Yorker", Philippe Val, herói da esquerda francesa e editor do semanário satírico "Charlie Hebdo", disse que Dieudonné "nos leva a transgredir a grande base da nossa cultura e política - o conhecimento que construímos sobre as ruínas de Auschwitz. Fomos construídos sobre isso. A democracia moderna europeia começou a partir daí. Se quiser deitar tudo abaixo, o gesto destrutivo anarquista máximo, não há melhor sítio por onde começar".

Em Fevereiro de 2006, Ilan Halimi, um rapaz de 23 anos que vendia telemóveis, foi encontrado nu e algemado, perto de uma estação de comboios em Paris. O seu corpo apresentava queimaduras e sinais de tortura e morreu a caminho do hospital. Segundo a polícia, os responsáveis pelo crime eram membros de um grupo conhecido por "gangue de bárbaros", que atacou Halimi por ser judeu e que, como disse um deles na hora do interrogatório, os "judeus têm dinheiro".


Grupos que monitorizam o anti-semitismo disseram que as palavras "de um alegado comediante" tinham influenciado os homicidas e um porta-voz do partido socialista francês e fundador do S.O.S. Racisme afirmou que a morte de Halimi resultou do "efeito Dieudonné". Num comunicado divulgado pouco depois, o humorista responsabilizou o neoliberalismo "que estabelece o culto do lucro como valor da sociedade" e à "influência americana".
French appeal court upholds ban on 'antisemitic' comic Dieudonné's show
Top French judges overturn lower court's verdict hours before Dieudonné M'bala M'bala takes stage at start of national tour
Kim Willsher in Paris

The on-off-on-off row over shows by the controversial French comedian Dieudonné M'Bala M'Bala ended with a decision by the country's top judges to uphold a ban on the first performance of his 22-date national tour hours before he was to go on stage on Thursday evening.

Earlier in the day a judge in Nantes had supported the star's appeal against the forced cancellation of the event by local authorities, allowing the show to go on.

However, France's interior minister, Manuel Valls, immediately appealed to the Conseil d'État (Council of State), the highest administrative authority in the country, which upheld the ban on the grounds that there was a risk to public order.

Judge Bernard Stim said the decision had taken into account "the reality and the seriousness of the risk of public order problems".

Outside the Zénith hall, near the town of Nantes, where Dieudonné was to kick off his tour on Thursday, fans turned up – on the advice of the comedian – to sing La Marseillaise in support of "freedom of expression". They also chanted "Valls resign" and "Dieudonné, Dieudonné".

The show was reportedly a sell-out of all 6,000 tickets, costing up to €43 (£35).

At the beginning of the week, Valls sent out a circular to local authorities suggesting they were within their rights to cancel Dieudonné's planned appearances in their towns on the grounds of public order.

Valls has said that in mocking the Holocaust and painting a stereotypical portrait of Jews, the performer is no longer artistic or comic but the "mechanics of hate". The minister's missive immediately sparked a legal and political row over free speech and censorship.

Dieudonné has several convictions for inciting racial hatred through antisemitic jokes and comments, and claims to have invented the "quenelle", a gesture that has been described as an inverted Nazi salute.

Most people in Britain had never heard of it until the French footballer Nicolas Anelka performed a quenelle after scoring a goal for his team, West Bromwich Albion, two weeks ago.

Dieudonné, who admits to being "anti-Zionist", has always argued the gesture is anti-establishment, but dozens of pictures have emerged of members of the public doing the quenelle outside synagogues, Holocaust memorials and Jewish schools.

Valls said of the Conseil's decision: "We cannot tolerate antisemitism, historical revisionism and racism, and the highest juridiction in our country has agreed. It's a victory for the republic."


However, the bans on Dieudonné performances have been criticised by civil liberties groups which believe it will rally support for "those who consider themselves oppressed".

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