quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Meco: apatia oficial


Meco: apatia oficial
Por Eduardo Oliveira Silva
publicado em 24 Jan 2014 in (jornal) i online

A passividade do Estado e o manto de silêncio académico são inaceitáveis
Foi preciso passar mais de um mês sobre a tragédia do Meco para o Estado procurar esclarecer as efectivas circunstâncias do sucedido.

Tirando as operações de salvamento, desencadeadas desde logo, as entidades oficiais praticamente nada fizeram para que se soubesse o que verdadeiramente se passou, apesar da enorme comoção que o facto criou na opinião pública, do sofrimento das famílias, e certamente do sobrevivente.

A bem dizer, foi a persistência das famílias na procura da verdade e no recurso à exposição mediática das suas dores que obrigou as entidades oficiais a mexerem-se a sério, mas só nos últimos dois dias.

Até ali o assunto foi tratado com uma exasperante lentidão burocrática e uma absoluta insensibilidade.

Não se trata aqui de procurar responsabilizar especificamente uma entidade, mas sim todo o colectivo.

No entanto, há que apurar como foi possível que nem o governo, através dos ministérios da Justiça, da Educação ou da Administração Interna, por exemplo, tivesse actuado politicamente para impor o esclarecimento, mesmo que tivesse de chamar a atenção aos órgãos de justiça pela respectiva e absurda passividade.

Como foi possível tanta delonga no Ministério Público quando seis jovens morreram em circunstâncias que, desde logo, pareceram estranhas e como é entendível que não haja da parte das entidades oficiais e das próprias universidades a vontade inequívoca de encontrar explicações para um drama que não tem precedentes?

Desde o princípio percebeu-se que houve uma menorização do sucedido por parte de todas as entidades, começando pela universidade e passando pelo Estado, que não apresentou sequer condolências às famílias, quando o fez por exemplo no acidente da LAM.

Num caso como este importa esclarecer e tirar ilações para prevenir a repetição de situações semelhantes.

Até hoje só através da imprensa se foi sabendo qualquer coisa do que terá sucedido, mas é evidente que não se pode considerar que tudo o que se escreve são factos incontroversos.

O que se pretende, e o que as famílias reclamam repetidamente, é a coisa mais legítima do mundo: saber minimamente como as coisas se passaram, através de entidades oficiais.

Percebe-se, por exemplo, que para o jovem sobrevivo não seja fácil falar do assunto, mas há-de ser possível contar com ele para relatar aquilo de que se lembre, e já era tempo de o ter ouvido.

E também deve ser possível que alguma entidade (seja ela qual for, das dezenas que existem em Portugal) investigue se há de facto praxes recorrentemente perigosas e quem as promove, começando por aqueles que, mesmo jovens, nelas participam de livre vontade e acabam por ser também culpados de desideratos fatais que a eles próprios vitimizam.


Tecnicamente, a tragédia do Meco pode não ser um caso de justiça ou de crime de qualquer espécie, mas é um assunto do qual o Estado não se pode alhear, até porque dispõe de instituições de toda a espécie em campos políticos, judiciais, policiais e até militares, no caso das praias. Afinal com o que contribuíram até agora para que se saiba alguma coisa? Nada. A verdade é que doravante o que vier a ser apurado terá resultado da pressão das famílias e do alarde dos media.

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