terça-feira, 24 de dezembro de 2013

“Porque não vêm até cá?”

Bucareste é uma cidade cada vez mais cosmopolita

A resposta da Bulgária e Roménia à “histeria” de uma certa Europa: “Porque não vêm até cá?”
AFP 23/12/2013 – in Público

Cada vez mais estrangeiros escolhem estes dois países do Leste para viver as suas vidas e realizar os seus sonhos. E não percebem porque há europeus que temem uma “invasão” de romenos e búlgaros a partir do próximo ano.
Empurrados pela crise, seduzidos pelos preços baixos das terras ou por pura paixão, milhares de europeus instalaram-se na Bulgária e na Roménia, aproveitando as oportunidades da Europa emergente.

Numa altura em que países como o Reino Unido temem uma “invasão” de romenos e búlgaros depois da abertura do seu mercado de trabalho no dia 1 de Janeiro – um debate “histérico”, segundo o comissário europeu Lazlo Andor –, a Roménia e a Bulgária acolhem também cada vez mais estrangeiros.

São 145 mil, dos quais pelo menos 52 mil são cidadãos da União Europeia, segundo os dados do Eurostat e das estatísticas nacionais.

Depois de terem trabalhado em Bruxelas e no Brasil, os espanhóis Rafaela e Ricardo Alcaine criaram uma sociedade de consultoria em Bucareste e ajudam os seus compatriotas a instalar-se.

Enquanto a Espanha está timidamente a sair de dois anos de recessão, a Roménia registou um crescimento de 2,7% nos primeiros nove meses do ano e a economia deverá crescer 2,2% em 2014 (na zona euro prevê-se um crescimento de 1,1%).

“Depois do início da crise, o número de espanhóis que se instalaram na Roménia não parou de aumentar”, explica Rafaela Alcaine, evocando milhares de recém-chegados, “talvez tantos como os franceses”. Segundo ela, os espanhóis “trabalham em tudo: infra-estruturas, engenharia, energias renováveis, imobiliário”, numa país que beneficia de fundos europeus para combater o seu atraso de desenvolvimento.

“Transportes fáceis para Espanha, a tradição industrial e mão-de-obra qualificada”, bem como uma língua de origem latina são também vantagens, diz Alcaine. O fluxo faz-se me dois sentidos, já que Espanha acolheu há vários anos cerca de um milhão de romenos “que estão muito bem integrados”.

Instalado em Bucareste depois da queda do regime comunista no final de 1989, o advogado britânico Nicholas Hammond tem uma mensagem clara para os seus compatriotas: “Se têm ideias, venham para a Roménia, é um país onde as podem concretizar, aqui há imensas oportunidades.”

Matthew Willis, também britânico, licenciado em Literatura, escolheu Sófia, na Bulgária, para realizar um sonho impossível no seu país: abrir uma livraria de livros em segunda mão. “Em Inglaterra, nunca poderia ter feito isto, porque a Amazon matou o comércio de livros usados e as livrarias independentes”, explica.

A Roménia, quinto país da União Europeia em superfícies agrícolas, também seduziu muitos agricultores franceses, holandeses ou italianos. “Eles vêm por causa do preço baixo das terras, da sua qualidade e do preço baixo da mão-de-obra”, explica Tudor Dorobantu, secretário-geral do sindicato Agrostar.

O preço das terras oscila entre 2000 a 4000 euros/hectare, dez vezes menos que na Holanda ou na Dinamarca, segundo a associação EcoRuralis.

Seduzidos pela “beleza” de um país onde muitas terras ainda não foram contaminadas por pesticidas, o escocês Doug McFarlane e a sua mulher, Sara Meaker, antigos professores, optaram pela agricultura biológica desde 2006, perto de Cluj, na Transilvânia.

Nesta região, onde o príncipe Carlos de Inglaterra transformou uma casa numa pousada, “cada vez mais europeus querem fazer agroturismo”, nota a Fundação Adept, que promove o respeito pelo ambiente e as tradições.

São nove os países da União Europeia que se preparam para levantar no dia 1 de Janeiro as últimas restrições relativas ao acesso de romenos e búlgaros aos seus mercados de trabalho. Mas Nicholas Hammond não teme um êxodo como foi o caso para os polacos em 2007. “Aqueles que queriam partir já partiram”, diz.

“Por mim, se búlgaros e romenos quiseram ir trabalhar para Londres, eles seriam bem-vindos”, diz Richard Fox, um britânico que abriu uma loja de vinhos em Bucareste.

Empenhado em acabar com as ideias feitas, o jornal digital Gandul lançou uma campanha convidando os britânicos a instalarem-se na Roménia. No site Why don’t You Come over? (Porque não vêm até cá?), o jornal propõe-lhes empregos de bancários, informáticos ou engenheiros.

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