terça-feira, 12 de novembro de 2013

Saídas de José Ribeiro e Maria João Seixas "são sinal de morte do cinema"



Saídas de José Ribeiro e Maria João Seixas "são sinal de morte do cinema"


O presidente do Instituto do CInema e do Audiovisual demitiu-se e a directora da Cinemateca Portuguesa não concorreu ao concurso público, que terminou no dia 6 de Novembro. Sector quer explicações da SEC
Depois dos constantes avisos, José Pedro Ribeiro demitiu-se do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA). E, no mesmo dia, Maria João Seixas, directora da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, em Lisboa, revelou que também vai abandonar o cargo. Se o sector do cinema já estava tremido, com estas saídas perde a confiança na tutela e teme uma "situação de catástrofe". Explicações são exigidas e a demissão do secretário de Estado é pedida.
José Pedro Ribeiro demitiu-se e Maria João Seixas não se candidatou ao concurso público que abriu no final do mês do Outubro para a direcção da Cinemateca. Nenhum dos dois responsáveis explicou os motivos das suas decisões (José Pedro Ribeiro esteve incontactável e Maria João Seixas limitou-se a confirmar a sua saída) mas, apesarem de abandonarem os cargos de forma diferente, as suas saídas dão um sinal negativo ao sector, que se mostra cada vez mais preocupado com estado do cinema em Portugal. "Isto é, provavelmente, um presságio de que coisas muito negras estão para acontecer nos próximos dias", diz ao PÚBLICO o produtor e distribuidor da Midas Filmes, Pedro Borges, para quem o cinema português corre o risco de ter "mais um ano zero". "Temos andado a falar do ano zero de 2012 mas a verdade é que sem fundos corremos verdadeiramente o risco de 2013 e 2014 serem também anos zeros."
Para a cineasta Margarida Gil, presidente da Associação Portuguesa de Realizadores, se José Pedro Ribeiro e Maria João Seixas decidiram abandonar os seus cargos numa altura que é tão delicada para o cinema em Portugal, que se vê limitado nos apoios estatais e que luta pela aplicação da Lei do Cinema, é "porque existem motivos muito fortes". "E não podem ser bons", atesta Margarida Gil, que não é branda nas palavras. "Como é que é possível que o secretário de Estado da Cultura continue o seu dia-a-dia como se nada se passasse?", questiona a cineasta, para quem estas saídas "são mais um sinal de morte do cinema". "É muito inquietante porque já não se espera nada de bom e isto é muito ameaçador", continua, esperando que os responsáveis políticos "parem para pensar e assumam de verdade o que querem fazer". "Querem ou não cinema? Querem ou não fechar a Cinemateca? Sejam sinceros. Querem tornar Portugal numa espécie de Film Commission para virem cá os Woody Allens filmar as nossas paisagens e usufruírem do tempo?", acrescenta Margarida Gil.
Ao PÚBLICO a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) limitou-se a explicar que "considerou-se não haver razões" para manter José Pedro Ribeiro, que entrou no ICA como assessor jurídico em 2000, tendo em 2003 assumido o lugar de vice-presidente e, dois anos depois a presidência, depois de este ter pedido a demissão na semana passada e de ter negado o pedido que lhe foi feito para que se mantivesse no cargo até à escolha de uma nova pessoa.
Foi então substituído por Filomena Serras Pereira, que ocupava, desde Setembro, o cargo de assessora do conselho directivo do ICA. Também a vice-presidente do ICA, Ema Favila Vieira, pediu a demissão ao mesmo tempo de José Pedro Ribeiro, tendo Jorge Barreto Xavier solicitado que se mantivesse no cargo durante este período de transição.
"Mas afinal o que é que aconteceu? O secretário de Estado deve-nos uma explicação sobre estas saídas", defende Margarida Gil, pedindo a demissão de Barreto Xavier, caso este não tenha nem uma resposta para o que está a acontecer nem uma alternativa. Alternativa, essa, pedida também por Pedro Borges. "Tudo isto deixa-nos ainda mais preocupados, se é que isso é possível, porque não vejo nada que me possa levar a pensar que o secretário de Estado está a tentar resolver o problema. Ele não dos dá essa confiança", diz o produtor, referindo-se à Lei do Cinema que estabelece o pagamento de uma taxa anual por parte dos operadores de televisão por subscrição - que se recusam até agora a pagar. "Há aqui o problema de empresas que não cumprem a lei e o Estado existe para fazer cumprir a lei e este é um problema do Governo todo. O Governo devia estar preocupado em encontrar um plano B", atesta, lamentando ainda que "se desperdicem pessoas que acumularam capital de experiência" como José Pedro Ribeiro e Maria João Seixas, na direcção da Cinemateca desde Janeiro de 2010. António-Pedro Vasconcelos, presidente da Associação de Realizadores de Cinema e Audiovisuais, lamenta também "verificar que há pessoas das mais qualificadas que se vêem obrigadas a sair". "Estou preocupado com a situação da Cinemateca, pela sua falta de meios e de condições que assegurem a sua missão de conservação do cinema", diz o realizador, para quem a "ameaça" ao cinema e à produção audiovisual "é séria". com S.C.A.

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