terça-feira, 26 de novembro de 2013

Andam a roubar carris da Linha do Tua mas a Refer vai repô-los


Sim … “Sucateiros” há muitos ….
A construção da barragem de Foz-Tua ditou o fim da circulação de comboios na Linha do Tua

Andam a roubar carris da Linha do Tua mas a Refer vai repô-los

Empresa vai recolocar os carris para manter aberta uma linha que está fechada.
O Movimento Cívico pela Linha do Tua (MCLT) denunciou esta terça-feira o roubo de carris e outros materiais ferrosos na Estação de Abreiro, tendo perguntado por carta à Refer se a empresa apresentou queixa junto das autoridades e quando será reaberto o trânsito ferroviário naquele local.
Fonte oficial da empresa confirmou ao PÚBLICO que se tratou de um furto, que já foi feito um auto de notícia e que os carris serão recolocados naquela estação.
Apesar de a Linha do Tua estar encerrada, a Refer costuma fazer passar uma dresine (veículo ferroviário destinado a acções de fiscalização de via e ao transporte de pessoal e de materiais) ao longo do seu percurso. Tecnicamente, a linha não está fechada, mas sim com a sua circulação “suspensa” devido às obras da Barragem do Tua, que cortaram a sua ligação à Linha do Douro. O acordo da EDP com o Estado previa que esta empresa encontrasse uma solução de mobilidade para substituir a ferrovia, o que não veio a acontecer.
Mas nos 37 quilómetros que estão, teoricamente, aptos para a circulação de comboios, a Refer tem vindo a cuidar dos seus activos, o que justifica a recolocação de carris em Abreiro para manter aberta uma linha que está fechada. Ou seja, para permitir que a dresine possa continuar a circular por ali.
O MLCT pergunta ainda “quando é que o troço Brunheda-Cachão reabrirá ao tráfego ferroviário, deixando que o comboio cumpra com dignidade o papel económico-social que vem a cumprir na região desde 1887”. Presentemente, a Linha do Tua só funciona entre Carvalhais, Mirandela e Cachão, mas nada impede que os comboios prossigam até Brunheda, que fica no limite da zona que será submersa pela Barragem do Tua.
O MLCT refere também que já se verificaram furtos de carril entre 2010 e 2012 na Estação de Santa Luzia e entre o Cachão e Vilarinho, concluindo que isto só acontece “devido ao vergonhoso impasse sobre a resolução da Linha do Tua, que encoraja este tipo de crime por prevaricadores que não se coíbem de saquear o material ferroso desta via-férrea”.

A Linha do Tua está encerrada à operação há mais de cinco anos, desde o último de quatro acidentes que provocaram outras tantas vítimas mortais e dezenas de feridos. O furto dos carris deverá ter ocorrido no final da semana passada, na mesma ocasião em que a GNR do distrito de Bragança teve uma participação de outro furto, mas de rails, as protecções laterais, na Estrada Nacional 215. O Comando Distrital de Bragança da GNR disse à Lusa que foram furtados “cerca de um quilómetro” de rails nesta estrada, na zona de Vila Flor, relativamente próxima do local de onde levaram os carris da Linha do Tua.

O roubo de carril nas vias-férreas transmontanas tem sido recorrente desde que estas linhas fecharam, estando na origem do processo Carril Dourado que, por sua vez, está na origem do Face Oculta. Em 2004, a empresa O2, de Manuel Godinho, levantou sem autorização da Refer várias toneladas de carril na Estação de Azibo (Macedo de Cavaleiros). Só a intervenção de moradores, que chamaram a GNR, evitou que mais quilómetros de materiais ferrosos fossem levantados, acabando o assunto em tribunal, com este a dar por provado que se tratou de um furto.
Situações idênticas ocorreram em mais linhas de Trás-os-Montes, por vezes com a cumplicidade de funcionários da Refer, o que só viria mais tarde a ser descoberto no âmbito do processo Face Oculta, que envolveu várias empresas do sucateiro Manuel Godinho.

Só nessa altura se ficou a saber a verdadeira dimensão dos negócios relacionados com as sucatas. Os roubos de carris, no entanto, têm prosseguido devido à valorização dos materiais ferrosos.

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