segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Pescadores espanhóis protestam contra recife artificial em Gibraltar

Brincar com o fogo
Anovela de Verão que tem Gibraltar como argumento conheceu ontem mais um capítulo. Barcos de pesca espanhóis escoltados por lanchas da polícia tentaram entrar nas águas da possessão britânica e foram barrados pela marinha. O que aconteceu não passou de uma escaramuça. Depois da troca de insultos, cada um dos contendores regressou a casa e nada indica que a comunidade de interesses entre Gibraltar e os seus vizinhos seja alterada. O problema é que o episódio de ontem suscita riscos que não podem ser negligenciados. Em manifestações como a de ontem, basta um gesto irreflectido para provocar uma crise grave. Quando barcos de pesca chocam com barcos de guerra, a fronteira entre o simbolismo e um incidente com consequências materiais ou humanas torna-se muito ténue. Sendo uma novela, a troca de palavras sobre Gibraltar pode tornar-se perigosa. É bom que Londres e Madrid tenham em consideração que nem todos os conflitos nascem de razões profundas. Muitos resultam de episódios menores como o de ontem.
Editorial / Público

Pescadores espanhóis protestam contra recife artificial em Gibraltar
Por Diogo Vaz Pinto
publicado em 19 Ago 2013 in (jornal) i online
Impasse de duas horas nas águas de Gibraltar terminou com a frota espanhola encurralada e forçada a recuar pela armada britânica
Vários barcos de pesca espanhóis, provenientes de Algeciras e de Cádis, navegaram ontem até às águas britânicas em torno de Gibraltar onde realizaram um protesto contra o recife artificial de betão erguido pelas autoridades da pequena península para os impedir de pescar ali. Eram cerca de 38 os barcos de pesca espanhóis - acompanhados de um pequeno número de embarcações de recreio e escoltados por quatro lanchas do Serviço Marítimo da Guarda Civil espanhola - que se viram encurralados por sete barcos de patrulha da armada britânica e da Polícia Real de Gibraltar (PRG) logo que atravessaram as águas espanholas.

O recife está no centro de uma disputa entre Reino Unido e Espanha que levou Madrid a impor medidas adicionais de controlo na fronteira com Gibraltar. Encaradas como uma forma de retaliação por Londres, as rigorosas buscas que a polícia está a efectuar nos carros estão a prejudicar trabalhadores e turistas, que enfrentam filas de até cinco horas para entrar em Espanha.

O inspector-chefe da PRG, Castle Yates, explicou que o impasse entre as frotas dos dois países teve início pelas nove da manhã, com os barcos espanhóis a tentarem "várias vezes romper o cordão de isolamento". Por volta das 11 horas a frota espanhola foi demovida, informou Yates, adiantando que a polícia esperava o protesto, planeado na sexta-feira, o que lhe permitiu lidar com a situação de forma pacífica e sem fazer detenções.

Os barcos espanhóis concentraram-se na baía de Algeciras, onde, no final do mês passado, o governo de Gibraltar lançou ao mar 75 blocos de betão, supostamente por motivos ambientais, nomeadamente o de impulsionar o aumento da quantidade de peixe nas suas águas. O objectivo que se propunham os pesqueiros espanhóis antes de zarparem era removerem os blocos, mas no último minuto foram obrigados a reconhecer que não dispunham sequer de meios para isso.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, pediu ao presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que sejam assumidos como "preocupação séria" os atrasos causados na fronteira e instou-o a enviar para a área um grupo de monitorização.


Londres tinha já acusado o aperto no controlo fronteiriço como uma medida "desproporcional e politicamente motivada". Por sua vez, as autoridades espanholas insistem que os controlos nas fronteiras são essenciais para lidar com o contrabando de cigarros e a lavagem de dinheiro, tendo garantido que vão servir-se de todos os meios legais necessários para proteger os interesses nacionais. Talvez não passe de mais uma provocação, mas o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros já se lembrou de sugerir a introdução de uma taxa de 50 euros a ser cobrada a todos os carros que atravessem a fronteira com Gibraltar.

Sem comentários: