sábado, 24 de agosto de 2013

Floresta, o retrato de um falhanço colectivo

Editorial / Público
Portugal só se comove com a devastação da floresta quando os fogos lhe entram casa dentro
O drama dos incêndios florestais regressou em força na última semana para pôr outra vez a nu um dos principais fracassos colectivos do Portugal contemporâneo: a sua incapacidade de preservar e gerir o seu mais importante recurso natural renovável. A devastação causada por fogos que duram dias e percorrem milhares de hectares de espaços florestais, a destruição de campos agrícolas ou de casas e a morte de bombeiros são afinal um testemunho evidente de negligência e de inépcia próprias de um país que apenas presta atenção à sua floresta quando esta arde. Há dez anos, após a destruição de quase meio milhão de hectares, ou 5% da área do Continente, o Governo e a sociedade deram finalmente sinais de que muita coisa teria de mudar. Que seria impossível assistir sem sobressalto à destruição da floresta. E, de facto, verificaram-se muitas melhorias ao nível do sistema operacional de combate aos fogos. Mas pouco, ou nada, se fez sobre o essencial. Sobre a gestão da floresta e a criação de condições para se evitarem incêndios indomáveis até pelo mais eficaz dos dispositivos de combate. Na floresta, como em muitas outras coisas, fez-se o fácil à custa de dinheiro e deixou-se esquecido ou que exige determinação, perseverança, planeamento e tempo. Após o silêncio e o desinteresse sobre a floresta num ano em que se aprovaram leis de extrema sensibilidade como a que determina as regras para a arborização e rearborização, em que se soube que o eucalipto ultrapassou a área do pinheiro bravo, Portugal inteiro indigna-se com os fogos que lhe entram em casa pela televisão. Mas lá para Outubro, a floresta, que vale 10% das exportações nacionais, cairá de novo no esquecimento. Se houver provas da incapacidade do país para aproveitar as suas riquezas, procurem-se neste ciclo vicioso que dura desde o tempo em que o êxodo rural deixou as florestas à sua sorte. 

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