sábado, 24 de agosto de 2013

A Grécia precisa de um Plano Marshall financiado pela União Europeia.



A Grécia precisa de um Plano Marshall financiado pela União Europeia


Na reunião recente que teve na Casa Branca, o Presidente Barack Obama garantiu ao primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, o seu apoio numa altura em que a Grécia, com a mais elevada taxa de desemprego de sempre, se prepara para negociações com os seus credores.
Os Estados Unidos deverão também aprovar um novo projecto de recuperação baseado num dos mais bem-sucedidos programas económicos de apoio dos tempos modernos: o Plano Marshall.
Nesta altura é já mais do que evidente que as políticas da União Europeia na Grécia falharam. As projecções de que os cortes na despesa pública deteriam a queda livre da economia provaram ser tremendamente optimistas. O resgate de 240 mil milhões de euros provenientes da zona euro e do Fundo Monetário Internacional mostrou poucos indícios de sucesso e a Grécia encontra-se actualmente no seu sexto ano de recessão.
Os cortes na despesa e o aumento de impostos, juntamente com a enorme quantidade de despedimentos no sector público exigida como condição dos empréstimos, só serviram para agravar a situação económica.
Todavia, em vez de mudarem de rumo, os economistas da zona euro responderam às más notícias revendo as suas previsões de molde a reflectirem expectativas mais baixas. São números que documentam um espantoso recorde de suposições erradas que conduziram à actual situação.
Em Dezembro de 2010, a chamada troika - a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional - esperava que as suas medidas por volta de 2014 tivessem levado a taxa de desemprego da Grécia a descer até 15%. Um ano mais tarde mudou a sua previsão para 20%.
Este mês, a Autoridade Estatística Helénica reportou que o desemprego atingiu novo recorde em Maio, com uma taxa de desemprego sazonalmente ajustada de 27,6%. No que se refere a jovens entre os 15 e os 24 anos, essa taxa é de 64,9%.
As veementes declarações de que o apertar do cinto levaria ao crescimento foram também diminuindo. Desde 2010 que a troika tem vindo gradualmente a descer as suas previsões para o Produto Interno Bruto (em termos de dinheiro) em quase 40%. O FMI reportou que o PIB desceu 6,4% em 2012 e irá descer cerca de 4,2% este ano antes de registar uma ligeira subida em 2014.
No entanto, apesar da admissão de que foram certamente cometidos erros, não parece haver qualquer intenção em acabar com as medidas de austeridade. Também não tem havido nenhum esforço para conjecturar uma nova agenda para a Grécia. O Plano Marshall é um modelo extraordinariamente bem-sucedido que podia facilmente ser adoptado.
A última vez que a Grécia enfrentou a ruína económica foi logo a seguir à Segunda Guerra Mundial. Em 1949, o país estava em falência, praticamente sem indústria; as redes de transporte, terras de cultivo e aldeias tinham sido devastadas e cerca de um quarto da população não tinha casa.
Os fundos do Plano Marshall permitiram à Grécia reconstruir-se, construir empresas de energia eléctrica, financiar empresas e ajudar os pobres. E como o caos social tinha aberto as portas a partidos comunistas e extremistas, os Estados Unidos esperavam que a ajuda estabilizasse a democracia, ainda que tenha criado riqueza.
Tal como outras nações que beneficiaram do Plano Marshall, a Grécia teve um crescimento que nunca antes experimentara. A espantosa transformação foi largamente aclamada como um "milagre económico," e a nação continuou a crescer mais de 20 anos após o fim da ajuda.
Com esse grande feito em mente, o Instituto de Economia de Levy elaborou um modelo macroeconómico do que um plano de recuperação do tipo Marshall poderia hoje fazer pela economia da Grécia. Partimos de uma modesta ajuda das instituições da UE de 30 mil milhões de euros entre 2013 e 2016 direccionada para o consumo público, para o investimento e principalmente para a criação de emprego.
Eis como um plano para a recuperação financiado pela EU poderia ser bem-sucedido. Embora os anteriores resgates financeiros tenham beneficiado bancos e instituições financeiras, tendo uma grande parte sido utilizada para pagamento de juros a credores, o novo programa centrar-se-á no perdão da dívida, e depois em projectos de reconstrução de infra-estruturas nacionais e na criação de projectos a nível local.
Um plano de reconstrução poderia servir a enorme necessidade da Grécia de renovar escolas, hospitais, bibliotecas, parques, estradas e pontes. Tem de haver reflorestação: as florestas foram destruídas por fogos catastróficos. O turismo foi em tempos responsável por mais de 25% da economia; para atrair visitantes, as praias precisam desesperadamente de ser limpas.
Os licenciados, depois de se terem formado a expensas do Estado, têm de procurar emprego fora da Grécia. Poderiam dar um valioso contributo introduzindo tecnologia de informação e outro know-how no Governo, na saúde e na educação.
Estes esforços poderiam encaminhar uma mão-de-obra desocupada, mas disponível e qualificada, para a construção, para a educação, para o serviço social e para a tecnologia. Mais emprego aumentaria uma procura agregada, actualmente muito reduzida. Por sua vez, o efeito multiplicador destas despesas faria com que o PIB aumentasse exponencialmente.
Em vez disso, a Grécia aplica crescente austeridade. A ideia assenta numa teoria contestada, e os resultados da sua aplicação no mundo real foram um desastre humanitário. Estas políticas estão a fazer diminuir a procura, reduzindo os rendimentos, o que faz baixar as receitas dos impostos. O resultado é um défice e rácios da dívida face ao PIB mais elevados.
Por comparação, esboçámos o que esperamos que aconteça nos próximos anos se a Grécia mantiver a sua prevista dieta fiscal. O Governo tem-se mantido incapaz de cumprir as metas de redução do défice exigidas pela troika, e os credores têm consistentemente exigido mais cortes.
Os resultados deste nosso exercício foram claros: com as actuais políticas, o desemprego continuaria a aumentar atingindo quase os 34% nos finais de 2016. Num cenário de Plano Marshall, a taxa cairia para cerca de 20%.
Do mesmo modo, se a Grécia instaurasse as medidas de austeridade actualmente planeadas, calculamos que o seu PIB atingiria cerca de 158 mil milhões de euros para o final de 2016, comparados com os 162 mil milhões projectados para 2013. Ficaria mais de 15 mil milhões de euros abaixo da meta imposta pela troika.
Se, em alternativa, o Governo agravar ainda mais essas medidas, o resultado será ainda pior: uma população pobre com cada vez mais desempregados, entre outros factores, empurrará o PIB para cerca de 148 mil milhões de euros, mais de 30% abaixo do máximo de 2008. Num cenário de Plano Marshall, o PIB ficaria um pouco acima da meta imposta pela troika.
O primeiro Plano Marshall não foi um acto de caridade nem um resgate: foi uma eficaz estratégia de investimento para criar um mercado económico europeu dinâmico e evitar a desintegração política. Para se poder aplicar uma nova versão há que rever teorias de austeridade desacreditadas - ou as instituições da zona euro que as promovem.
Presidente do Levy Economics Institute - Nova Iorque Bloomberg News

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