segunda-feira, 22 de julho de 2013

Tudo na Mesma ... Além, da ainda mais acentuada erosão e deslegitimação da Classe Política.

Se muito da atitude de cavaco ( com letra pequena ) estava ligado à ansiedade da sua imagem na História, conseguiu o pretendido. A História a médio/longo prazo o julgará. A curto prazo será o Povo que irá julgar a classe política.
António Sérgio Rosa de Carvalho

“Cavaco quis o acordo para provar à Europa que Portugal "não é um país imprevisível". Acabou ele próprio por, na sua previsibilidade, deixar tudo na mesma. Com uma agravante: foi ele mesmo que pediu aos portugueses para tirarem "as suas ilações quanto aos políticos que os governam ou que aspiram a ser governo". Dando assim, agora que tudo falhou, mais um argumento para os cidadãos se afastarem ainda mais dos políticos.”
Editorial / Público

"Sem grandes análises sobre os efeitos no programa de ajustamento português da crise política, o espanhol El País resume desta forma os acontecimentos das últimas semanas: "depois de 20 dias de avanços e recuos institucionais, de quedas nos mercados, de dezenas de reuniões, de novos governos ignorados pelo Presidente da República e de demissões de ministros proeminentes não aceites pelo primeiro-ministro, a crise política que atola Portugal terminou de maneira surpreendente: regressando ao dia anterior ao da convulsão, com o mesmo Governo que desencadeou o terramoto, como se nada se tivesse passado".
in Diário Económico online 


Previsivelmente,tudo na mesma

Editorial/ Público
O Presidente não quer "um país imprevisível". A sua previsibilidade deixou porém tudo na mesma.
O Presidente já nos avisara. Esta crise política "é diferente de todas as outras que Portugal conheceu". Falhada a sua estratégia para um pacto de "salvação nacional", fica um estranho vazio.
A "crise diferente" acabou por resultar numa semiparalisia em que tudo fica na mesma. O Governo que conhecemos - menos Vítor Gaspar e mais a sua discípula - será reconduzido com previsíveis alterações pontuais e Paulo Portas com mais uma divisa na lapela.
Os três partidos não conseguiram um acordo que resolvesse a complexa chave do problema nacional do momento: como conseguir "manter a trajectória de consolidação orçamental" que a troika exige e, em simultâneo, "alterar a actual trajectória" do país, como até os líderes do CDS-PP querem e ainda este fim-de-semana pediram de novo.
A triste notícia é sabermos hoje que, apesar da retórica pública, houve um ponto nas negociações em que o PSD cedeu em baixar os cortes em 2000 milhões. Ficou um hiato de 2700 milhões por resolver. É muito dinheiro, que o país não tem, mas havia margem para um acordo se ambos tivessem começado por negociar com a troika antes de se sentarem a negociar entre si.
E aqui estamos, 22 dias depois da demissão de Vítor Gaspar que desencadeou esta crise em cima da crise, com a crise política longe de estar resolvida - foi apenas arrumada a um canto. Por agora. O apelo do Presidente para que haja "sintonia e harmonia" entre o PSD e o CDS é simpático, mas é utópico. Vai Portas continuar a partilhar com o país os seus estados de alma? Vai o CDS continuar a falar do "protectorado" como se Portugal não fizesse parte da União Europeia e a ajuda externa da troika não fizesse parte das regras das instituições às quais o país pertence? Vai o PS conseguir convencer os líderes da troika - e não os técnicos que vêm a Lisboa de três em três meses - a mudar as taxas de juro, as maturidades e as metas do défice? Vai o PSD manter tudo em piloto automático como se não tivesse admitido nos bastidores mudar a "trajectória"?
Depois da sua aposta arriscada, Cavaco não tinha muitas saídas possíveis. Disse há quinze dias que as eleições antecipadas significariam um retrocesso, que forçaria a um novo programa de assistência; programa esse que seria mais duro; que falharíamos compromissos internacionais; que a campanha eleitoral seria tensa e crispada, que inviabilizaria um governo "com consistência e solidez", que adiávamos as políticas de investimento. Mas hoje, solidez e nova estratégia de crescimento são coisas que o país continua a não ter. Cavaco quis o acordo para provar à Europa que Portugal "não é um país imprevisível". Acabou ele próprio por, na sua previsibilidade, deixar tudo na mesma. Com uma agravante: foi ele mesmo que pediu aos portugueses para tirarem "as suas ilações quanto aos políticos que os governam ou que aspiram a ser governo". Dando assim, agora que tudo falhou, mais um argumento para os cidadãos se afastarem ainda mais dos políticos.

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