domingo, 28 de julho de 2013

Consultora defende Trafaria, mas só com aposta nas ligações rodoviárias.

"Ontem, cerca de uma centena de surfistas organizou-se num círculo no mar, na Costa da Caparica, como forma de protesto contra o que consideram "um crime ambiental" e uma "ameaça" para as praias da zona. Além das questões ambientais, a contestação tem surgido muito da margem sul do Tejo, com os autarcas a queixarem-se que a ideia do executivo contraria os planos aprovados para aquela zona. E há também muitas vozes críticas da ideia de um novo porto de águas profundas, por existir já em Sines uma infra-estrutura deste tipo."

AT Kearney prevê que, em 2048, o novo terminal gere 35 milhões de euros para o PIB e 340 postos de trabalho directos

Consultora defende Trafaria, mas só com aposta nas ligações rodoviárias.

Estudo da AT Kearney encomendado pelo Governo alerta para esgotamento do actual porto de Lisboa entre 2023 e 2026 e garante viabilidade económica da transferência dos contentores para a margem sul do Tejo
O projecto foi anunciado em Fevereiro pelo Governo, mas só em Junho ficou concluído o relatório encomendado à AT Kearney para avaliar a viabilidade da transferência de contentores para a Trafaria. A consultora defende a ideia do Governo, prevendo que o porto de Lisboa atinja o esgotamento entre 2023 e 2026, mas só com investimento em ligações rodoviárias.
O estudo recebido sexta-feira no Parlamento, a que o PÚBLICO teve acesso, mostra que a capacidade dos três terminais de contentores que hoje existem na margem norte do Tejo não será suficiente dentro de uma década, já que se prevê que nessa altura o tráfego alcance 1,7 milhões de TEU (a medida padrão de um contentor com seis metros).
O relatório refere, tal como o executivo tinha já anunciado no início do ano, que o novo terminal da Trafaria (a concessionar a privados) tenha capacidade efectiva para receber 2,1 milhões de TEU quando se chegar à fase final do projecto. O arranque da operação está previsto para 2019, com uma capacidade inicial para cerca de um milhão. Em Fevereiro, o Governo assumiu a intenção de lançar o concurso para seleccionar um investidor ainda este ano.
A AT Kearney baseia a análise numa previsão de crescimento exponencial da procura, que culminará na movimentação de 34 a 40 milhões de toneladas de mercadorias em contentores nos portos nacionais em 2048. A concretizar-se, o tráfego será três vezes maior do que o que se regista neste momento. A manter-se a quota de mercado actual, Lisboa terá uma fatia de 36% das toneladas movimentadas.
A consultora concluiu que, entre 2023 e 2026, "é previsível o esgotamento da capacidade actual" no porto da capital, já que se prevê que atinja entre 1,5 e 1,7 milhões de TEU até essa data. E o relatório alerta para o facto de poderem "antecipar-se problemas de capacidade mais imediatos", fazendo referência ao facto de o terminal de Alcântara estar já com 70% da capacidade ocupada.
Em termos de retorno, o relatório também alinha com as garantias do Governo, referindo que o projecto "deverá ser viável economicamente, quer para o concedente [o Estado], quer para o concessionário".
Só rodovia é competitiva
Num prazo de 30 anos, a AT Kearney prevê que os cofres públicos garantam uma contrapartida de 213 milhões de euros em valor actualizado líquido (VAL), já descontando os 74 milhões que se perderão com o desaparecimento dos terminais na margem norte. O relatório diz que, em 2048, a Trafaria poderá contribuir directamente para o produto interno bruto (PIB) com 35 milhões de euros e gerar 340 postos de trabalho directos. Acrescenta ainda que a inexistência desta infra-estrutura ou de capacidade em Lisboa "poderá onerar a economia regional em 50 a 80 milhões por ano".
No entanto, a consultora deixa alertas para o caso de a ideia do executivo, que tem sido muito contestada, avançar. Tendo em conta que cerca de 70% da carga movimentada em contentores no porto de Lisboa tem origem ou destino na margem norte do Tejo, o documento refere que o modo intermodal de e para a Trafaria "mais interessante para os agentes económicos" é a rodovia, "não se apresentando outras soluções economicamente competitivas".
A AT Kearney diz mesmo que, "a não serem criadas as acessibilidades rodoviárias", o projecto "perderá significativamente competitividade a favor de portos alternativos". No relatório escreve-se que o escoamento de contentores por rodovia seria feito através de uma nova ligação directa entre o novo terminal e o IC20, numa extensão de um quilómetro e com um custo de dois milhões de euros.
Até aqui, a alternativa mais falada, e que também consta do estudo, é a ferrovia, numa linha de oito quilómetros que ligará o terminal ao Poceirão (continuando para o Setil) e cujo investimento rondará os 160 milhões. Além do relatório da AT Kearney, os deputados da Comissão parlamentar de Economia e Obras Públicas receberam todos os estudos feitos nos últimos anos sobre esta matéria.
Ontem, cerca de uma centena de surfistas organizou-se num círculo no mar, na Costa da Caparica, como forma de protesto contra o que consideram "um crime ambiental" e uma "ameaça" para as praias da zona. Além das questões ambientais, a contestação tem surgido muito da margem sul do Tejo, com os autarcas a queixarem-se que a ideia do executivo contraria os planos aprovados para aquela zona. E há também muitas vozes críticas da ideia de um novo porto de águas profundas, por existir já em Sines uma infra-estrutura deste tipo.

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