terça-feira, 28 de maio de 2013

Duarte Lima foi confrontado em tribunal com negócios entre o filho e Isaltino Morais.

No primeiro dia do seu julgamento por burla qualificada e branquemento de capitais, Duarte Lima tentou ilibar o filho dos crimes de que este também é acusado no processo relativo a transacções de terrenos em Oeiras financiadas pelo BPN. Mas viu-se confrontado com alegados negócios entre Pedro Lima, seu único filho, e Isaltino Morais.

Duarte Lima foi confrontado em tribunal com negócios entre o filho e Isaltino Morais

Por Ana Henriques
29/05/2013

Começou julgamento do antigo líder de bancada do PSD por causa de terrenos comprados em Oeiras com financiamento do BPN

No primeiro dia do seu julgamento por burla qualificada e branquemento de capitais, Duarte Lima tentou ilibar o filho dos crimes de que este também é acusado no processo relativo a transacções de terrenos em Oeiras financiadas pelo BPN. Mas viu-se confrontado com alegados negócios entre Pedro Lima, seu único filho, e Isaltino Morais.
Sobre as características desses negócios pouco se ficou ontem a saber: o antigo líder da bancada parlamentar do PSD recorreu à prerrogativa dos arguidos de se remeterem ao silêncio durante o julgamento e, depois de ter feito uma declaração inicial a desresponsabilizar o filho, de 28 anos, resolveu, à terceira ou quarta pergunta, pôr fim ao interrogatório a que o procurador José Nisa o submeteu. Declarações "mais extensivas", como disse, só as fará depois de ouvidas as testemunhas de acusação indicadas pelo Ministério Público.
Em causa está a compra, em 2007, de terrenos no concelho de Barcarena por Duarte Lima e pelo seu sócio e amigo Vítor Raposo. Para uma área contígua aos 44 hectares que adquiriram a particulares estava prevista a transferência do Instituto Português de Oncologia, o que valorizaria significativamente a compra de Duarte Lima. Mas unidade de tratamento de doentes cancerígenos nunca veio afinal a sair de Lisboa. Para levar a cabo a transacção imobiliária os dois sócios socorreram-se de empréstimos do BPN - banco que o Ministério Público considera terem burlado - no valor de mais de 44 milhões de euros.
"Cordeiro sacrificado"

Neste e noutros negócios, Duarte Lima disse ontem aos juízes ter-se servido do nome do filho para subscrever participações em empresas, movimentar contas bancárias e assinar papelada. Porquê? O social-democrata invocou duas ordens de razões: por um lado temia que o facto de ser uma personalidade pública lhe trouxesse desvantagens nos negócios; por outro, depois do problema oncológico que teve resolvera ir passando aos poucos o seu património para o nome de Pedro Lima. Só que o rapaz mostrava-se um tanto aselha para os negócios, dos quais, pelo menos na versão do pai, nunca percebeu coisa alguma, limitando-se a seguir as suas instruções.
Foi depois de ouvir estas declarações que o procurador da República resolveu inquirir Duarte Lima sobre as várias empresas de que o filho fez parte. Manteve-se até hoje gerente de pelo menos uma delas, a Ediandar. Foi através desta firma que Pedro Lima e um sócio seu compraram terrenos para urbanizar na zona de Caxias. O que José Nisa quis saber foi se o pai Lima tinha conhecimento de que a Ediandar havia comprado os terrenos ao presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, e respectivo filho. "Nunca tive conhecimento de quem eram os detentores originais dos terrenos", respondeu o arguido, pouco antes de se remeter ao silêncio.
Já fora da sala de audiências, um dos advogados do social-democrata, Rogério Alves, comparou o arguido a um "cordeiro oferecido para sacrifício".
"Duarte Lima está a fazer a expiação do antagonismo que se criou em altura de crise entre o cidadão e a classe política", disse também o ex-bastonário dos advogados, aludindo às fraudes, ao dinheiro mal gasto e ao crédito mal concedido que servem à opinião pública para caracterizar deputados, banqueiros e governantes. Quanto a Pedro Lima, acusado dos mesmos crimes do pai, o advogado apenas compreende que esteja a responder em tribunal por crimes idênticos aos do progenitor "como filho do bode expiatório do país em que o seu pai se tornou".



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