sexta-feira, 12 de abril de 2013

Este átrio é como uma praça, lugar de passagem e encontro.

“Cuypers criou um edifício inspirado nas arquitecturas tardo-gótica e renascentista. As decorações, com motivos vegetalistas e muito pormenorizadas, estavam escondidas por reboco branco, porque não agradaram aos directores do início do século XX.”


Esta passagem do texto constitui aquela que ilustra a filosofia essencial e fundamental da Intervenção Arquitectónica. A opção de reconstituir e restaurar toda a decoração original de Interiores em “Gesamtkunstwerk” de Pierre Cuypres, aqui e no resto do texto, “secundarizada” pela jornalista.

O princípio “Continue with Cuypers” guiou de forma clara e revolucionária toda a Intervenção.

Revolucionária porque representa uma ´inversão dialéctica´, de forma vanguardista, nas tendências actuais do “Star System” Arquitectónico em intervenção nos Museus ... sempre no princípio de afirmação, de reinterpretaçào “criativa” do Património e a sua subjugaçào ao “Ego” do Arquitecto interveniente. ( agravado pelo “sindroma” Ghery )

Aqui, o que é celebrado dialécticamente ... é ... curiosamente, pelo seu surpreendente “come back” ... o Triunfo do Século XIX sobre o “Modernismo” ( uma "derrota" da  perspectiva das “teses” dos pioneiros da Era Moderna como Nicolaus Pevsner e Hitchcock ) numa curiosa “inversão dialéctica”.

"Sinal dos Tempos", numa Europa em Crise Civilizacional e em busca de uma Identidade?

É importante não nos esquecermos que precisamente na época de Pierre Cuypres, os seus contemporâneos Ruskin, Pugin, Viollet –Le –Duc, transformaram a busca nostálgica do Passado Medieval e os seus Valores, dialécticamente, em Vanguardismo e Criatividade !

António Sérgio Rosa de Carvalho

P.S, De seguida, republiquei o meus “post” de há dias de novo, pois as imagens ilustram o que afirmo.


Este átrio é como uma praça, lugar de passagem e encontro

Por Lucinda Canelas, em Amesterdão in Púbico 13/04/2013

Cruz e Ortiz são os autores da renovação do museu nacional da Holanda. E para dar vida nova ao edifício do séc. XIX não precisaram de o esconder. Pelo contrário

Antonio Ortiz está sentado na biblioteca do museu à espera dos jornalistas. É um homem alto e magro, sereno e gentil. Quer ser o primeiro a fazer perguntas, quer saber como está Lisboa e o Porto. Esteve a última meia hora rodeado de críticos de arquitectura, a falar sobre os méritos e as dificuldades do projecto que o seu atelier, que partilha com Antonio Cruz, criou para a renovação do Rijksmuseum.

Um projecto difícil, reconhece, que agora chega ao fim, deixando-lhe uma sensação de "vazio" que vai ficar por uns tempos. "Foram 13 anos muito intensos, desde o primeiro projecto", diz ao PÚBLICO. "Mas acho que, também graças aos directores e à sua equipa técnica, aos restauradores e a Jean-Michel Wilmotte [designer da exposição], lhe demos uma vida nova. De tal forma que às vezes dou por mim a referir-me ao museu como se fosse uma pessoa - digo "ele"."

Não é para menos. Para chegar até aqui, Cruz e Ortiz tiveram de enfrentar muitas dificuldades, como empresas de construção falidas, lentidão nos pagamentos e até a perda do anterior director, Ronald de Leeuw. Mas a maior terá sido uma forte campanha da Fietsersbond, a união dos ciclistas holandesa, que se opôs ao projecto inicial que eliminava uma passagem de bicicletas que separa as alas este e oeste, dividindo o edifício.

Mas este problema - em parte o grande responsável pelo facto de a obra ter custado 375 milhões de euros e de a sua conclusão, prevista para 2006, se ter prolongado até 2012 (terminou em Julho) - acabou por ser um importante motor criativo. Ortiz explica: "Como não podíamos unir os dois corpos do museu eliminando o caminho das bicicletas, tivemos de pensar noutra solução. E essa solução é o grande Átrio, que é hoje uma das peças centrais do museu." Um espaço de 2330m2, construído abaixo do nível do mar, com coberturas de vidro, muita luz e o chão coberto de pedra clara, que Ortiz não se cansa de dizer que é portuguesa. "É amplo, luminoso, e muito graças à pedra. Como ela reflecte a luz, e como a luz muda ao longo do dia, temos a sensação de que nunca é o mesmo. Nos dias de sol fica cheio de sombras, o que lhe dá muito movimento."

Tirar, antes de acrescentar

Os arquitectos quiseram que o Átrio, que a partir de hoje está aberto mesmo aos que não têm bilhete para o museu, funcionasse como qualquer outra praça da cidade, como um lugar de encontro. É lá que está a loja, a cafetaria e o auditório.

Quando chegou ao museu, em 2000, Ortiz encontrou um edifício muito desvirtuado, escuro, triste e labiríntico, incapaz de dar resposta a um número crescente de visitantes (foi desenhado para 20 mil/ano e quando fechou, em 2003, tinha perto de 1,5 milhões). Tornou-se claro logo aí que, sem ignorar as exigências de conforto de um museu do século XXI, a solução passaria por o devolver o mais possível à configuração original de Pierre Cuypers (1827-1921), inaugurada em 1885.

Hoje, o museu, que tem 44.500m2, 14.500 dos quais expositivos, já não tem as galerias que lhe foram acrescentadas nas décadas de 1950 e 1960. O primeiro andar é reservado à Idade Média e ao Renascimento, com salas mais pequenas e intimistas; o segundo aos séculos XVII (época de ouro) e XVIII; e o último ao século XX.

"Devolvemos ao museu 80% da sua configuração original, mas fizemos uma actualização na acústica e na climatização", diz Ortiz. "Mas antes de acrescentar algo ao edifício, optámos por tirar, até para o compreendermos melhor." E "tirar" passou também por pôr a descoberto a decoração que cobria as paredes no antigo hall de entrada, na Galeria de Honra e na biblioteca, que agora é aberta ao público pela primeira vez. No hall, as pinturas murais com motivos históricos também voltaram a estar visíveis, assim como o chão de pedra com os quatro elementos.

Cuypers criou um edifício inspirado nas arquitecturas tardo-gótica e renascentista. As decorações, com motivos vegetalistas e muito pormenorizadas, estavam escondidas por reboco branco, porque não agradaram aos directores do início do século XX.

"Este era o momento ideal para recuperar a decoração, já que Cuypers a concebeu como um elemento estrutural, não só ornamental." As questões de gosto que fizeram com que ela desaparecesse também já não existem: "Hoje olhamos para esta arquitectura com respeito."

Ortiz reconhece, no entanto, que havia o risco de virem a competir com as obras das paredes e das vitrinas, mas acredita que a proposta expositiva de Wilmotte, com uma paleta de seis tons de cinzento que a princípio o surpreendeu, acabou por o dissipar.

"Foi difícil de início. A arquitectura de Cuypers é muito exigente, pormenorizada. É complicado encontrar um ponto de entrada, de contacto. Não nos dá descanso."

A proposta de Cruz e Ortiz, que tem vindo a ser elogiada pela crítica, sobretudo graças ao Átrio, quebra-cabeças de arquitectura e engenharia, inclui ainda um novo Pavilhão Asiático. Desenhado de raiz e revestido pela mesma pedra clara, é contíguo ao de Cuypers e corta com a superfície de tijolo do original.

Com uma forma irregular, este pavilhão de dois andares foi construído nos jardins sul do museu e está rodeado de água. É o gesto mais contrastante do projecto dos arquitectos espanhóis, que no edifício principal fizeram questão de não abusar de justaposições. "Uma das nossas maiores preocupações foi não insistir nos contrastes. Não me interessa nada que a arquitectura conte histórias, que esteja permanentemente a dizer "isto é novo, aquilo não..."."

O Átrio é um espaço "muito afirmativo", reconhece Ortiz, mas era necessário que assim fosse - "Precisávamos de uma peça unitária e o que tínhamos eram dois pátios interiores. O que fizemos? Baixámos o chão, criámos uma passagem entre os dois." E para que o visitante não ficasse sujeito a uma tamanha variação de escala entre os pátios e esta passagem, que tem um pé-direito muito mais baixo, decidiram criar uma solução que desse a sensação de que todos os tectos tinham sido descidos - duas estruturas de metal, brancas e suspensas, que dão luz e têm a vantagem de eliminar o eco. Ortiz chama-lhes lustres, palavra que a sua dimensão parece tornar inadequada. O projecto inclui ainda a renovação da Escola de Desenho; o Edifício Atelier, consagrado à conservação e restauro; a Ala Philips, que passará a receber as exposições temporárias (ainda em obras); e a renovação dos jardins.

Agora que vai ser julgado pelos visitantes, Ortiz espera que o Rijksmuseum seja "mais amado" do que o foi à data da inauguração, quando a elite protestante o viu como "uma catedral para as artes", provocação de um arquitecto católico que passou boa parte da vida a desenhar igrejas.

Sem comentários: