sábado, 16 de fevereiro de 2013

“Público” anuncia greve contra despedimento colectivo de 48 trabalhadores.11/10/2012



“Público” anuncia greve contra despedimento colectivo de 48 trabalhadores
Por Marta F. Reis, publicado em 11 Out 2012 - 03:10 in (jornal) i online
Moção da Comissão de Trabalhadores e do Conselho de Redacção aprovada após plenário onde foi pedida a demissão da direcçãoOs trabalhadores do jornal “Público” decidiram ontem avançar com uma greve contra o despedimento colectivo anunciado pela administração do diário detido pelo grupo de Belmiro de Azevedo. Em causa está o despedimento de 48 colaboradores do jornal, dos quais 36 na redacção, onde a saída destes funcionários representa um corte de cerca de 20% na estrutura que elabora o jornal diariamente.

A decisão foi tomada após um plenário dos trabalhadores numa moção conjunta da comissão de trabalhadores e do conselho de redacção do jornal aprovada por maioria. Durante o plenário, alguns jornalistas pediram a demissão da direcção que assumiu ter começado a trabalhar neste despedimento em Março.

Os jornalistas classificam o processo de pouco transparente, na execução, nos objectivos, mas também nos critérios usados para a escolha dos jornalistas que deverão agora abandonar o jornal. Segundo o i apurou, quatro jornalistas que integram o conselho de redacção – que contestou as posições da direcção do diário aquando do caso das alegadas pressões do ministro Miguel Relvas a uma jornalista do diário – foram despedidos. Por outro lado, o despedimento colectivo não abrange nenhum elemento da secção de cultura – ao único jornalista desta secção abrangido na reestruturação do jornal, Vítor Belanciano, assim como a António Cerejo e José Augusto Moreira terão sido propostas rescisões dos actuais vínculos contratuais para continuarem a colaborar com o jornal no regime de avença. O facto de o objectivo ser reduzir os custos com pessoal em 2 milhões de euros anuais, mas de se manterem posições como a de correspondente em Washington é outro critério contestado.

Na moção aprovada ontem após o plenário, os trabalhadores do diário manifestam o “total repúdio” pelo despedimento acordado entre a administração e a direcção editorial e consideram que esta decisão “inviabiliza a continuidade do “Público” enquanto órgão de comunicação social de referência, viola o espírito do acordo celebrado com os trabalhadores a 29 de Dezembro de 2011, e compromete gravemente a responsabilidade social do accionista”.

Maria do Céu Lopes, da comissão de trabalhadores do diário, disse ontem ao i que não há data para o pré-aviso de greve nem para a greve em si. Esta é a segunda intenção de greve tornada pública esta semana nos órgãos de comunicação social, depois de os trabalhadores da agência Lusa terem aprovado uma greve de quatro dias contra cortes orçamentais de 30% previstos para 2013. A paralisação da Lusa terá lugar entre dia 18 e 21.

No plenário realizado ontem no “Público”, a direcção do jornal, liderada por Bárbara Reis, justificou este despedimento como forma de preservar o diário, tendo assumido que a alternativa era o encerramento em Março. Em comunicado, a Sonaecom, proprietária do jornal, disse que a reestruturação – com a “previsível saída de 48 colaboradores” – visa assegurar a sustentabilidade do jornal, “comprometer o seu papel como referência independente de informação.” Além do despedimento colectivo, e depois de os colaboradores já terem aceite reduções salariais nos últimos meses, a Sonaecom adiantou que o plano passa por nova diminuição de custos de funcionamento mas também o reforço da “aposta estratégica no digital”. A reestruturação do jornal deverá permitir uma redução de custos em 3,5 milhões de euros, onde estão incluídos cerca de 2 milhões conseguidos no despedimento.

Segundo dados da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação, e embora tenha havido uma recuperação no segundo trimestre, o “Público” vendeu em banca nos primeiros seis meses do ano uma média de 21 938 jornais, menos 3700 que a venda média mensal do ano passado. Não terá sido contudo a quebra na circulação paga a motivar a redução de custos operacionais para a qual a Sonaecom mandatou a direcção do jornal. Nos últimos relatórios financeiros da empresa é referida uma redução considerável nas receitas de publicidade do diário, “fruto da deterioração do ambiente macroeconómico”. Os trabalhadores do segmento de online e media da Sonaecom – onde entram os cerca de 240 funcionários do “Público”, dos quais 190 jornalistas, mas também colaboradores do site Miau.pt – representam 12% dos funcionários da Sonaecom. Este segmento tem prejuízos operacionais (EBIDTA negativo) de 1,3 milhões. No relatório financeiro do grupo referente ao segundo trimestre, o último disponível, lê-se que este foi o décimo sexto trimestre consecutivo com crescimento anual da rentabilidade, “evidenciando a consistência do sólido desempenho financeiro da Sonaecom.” No final do primeiro semestre, os resultados líquidos da Sonaecom, que tem como principal activo a operadora Optimus, melhoraram 19,9% em relação ao mesmo período em 2011, atingindo os 38,1 milhões de euros.

Neste mesmo relatório é referido, relativamente ao “Público”, que apesar de o jornal ser líder nas redes sociais, com mais de 250 mil seguidores, e das receitas digitais estarem a aumentar, “não foram ainda suficientes para travar a tendência negativa do mercado publicitário e das receitas de circulação da edição em papel.”

Ontem o Sindicato dos Jornalistas acusou o grupo Sonae e a Sonaecom – que tem como administradora executiva mais operacional no diário Cláudia de Azevedo, membro do Conselho Geral do “Público” – de sacrificarem quase 50 pessoas para não diminuírem os seus lucros e classificou o processo de “inaceitável”.

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