domingo, 17 de fevereiro de 2013

Fratricida ...António Costa só avança se Seguro não conseguir unir os socialistas ...



( ...) "Acusou ainda os promotores da aceleração dos calendários de "hipocrisia e cinismo". "Não admito que nenhum combate político seja condicionado por agendas pessoais, pela mera ambição pessoal e o regresso ao passado", afirmou na reunião."

(...)  "É uma deslealdade nunca vista. Costumávamos assistir a isto no PSD, mas no PS não havia registo histórico", atirava João Ribeiro. Miguel Laranjeiro diria o mesmo por outras palavras. "Trata-se de uma deslealdade em relação à direcção do partido e em relação ao secretário-geral. Há milhares de militantes a darem o seu melhor e não mereciam isso".



António Costa só avança se Seguro não conseguir unir os socialistas
Por Nuno Sá Lourenço in Público

Reunião da Comissão Política do PS não foi clarificadora. Não foram definidas datas para uma eventual disputa interna. O secretário-geral dos socialistas não poupou os críticos da actual direcção



Mantém-se o tabu de António Costa: o presidente da Câmara de Lisboa só avança para a liderança do partido se António José Seguro não conseguir unir o PS. E disse-o preto no branco na reunião de ontem à noite da Comissão Política dos socialistas.
O ambiente que se pressentia ontem ao longo do dia nas hostes socialistas assemelhava-se ao de uma calmaria antes da tempestade. Depois de dias de declarações públicas, desafios e acusações entre dirigentes, a manhã e tarde seguiam silenciosas. Algo estava para acontecer sem que ninguém o quisesse assumir. "Já bebi meio copo de whisky que é coisa que nem costumo fazer", desabafava um socialista a meio da tarde, reconhecendo a "ansiedade" sobre o que estava para vir. A calmaria dissipou-se quando se soube que o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, convocara uma reunião de urgência com os seus vereadores para as 19 horas. Aparentemente para lhes dar a conhecer a sua disponibilidade de avançar para a liderança do partido.
O momento determinante era a comissão política que decorria à hora do fecho desta edição. António Costa está preparado para se candidatar a secretário-geral se António José Seguro não conseguir unir o partido. E poderá acumular essa eventual candidatura com a próxima luta autárquica em Lisboa.
Numa visita à inauguração de um centro de dia em Belém, onde esteve com o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Santana Lopes, o socialista manteve o mistério: "Eu estarei logo na Comissão Política do PS para ouvir o que o secretário-geral do PS tem para nos dizer. Em função do que o secretário-geral disser eu direi o tiver para dizer. Mas compreenderão que direi primeiro aos meus camaradas". À noite, repetiu exactamente a mesma frase à entrada da sede do PS, no Largo do Rato, onde chegou acompanhado de Francisco Assis, que se candidatou contra Seguro no último congresso dos socialistas.
A decisão de desafiar Seguro também se explicava com os novos estatutos do PS, alterados já durante a liderança do actual secretário-geral. No ano passado, Seguro fez aprovar uma revisão que fazia emparelhar as eleições para secretário-geral e o congresso às eleições legislativas. Mais precisamente, no período pós-eleitoral.
Essas novas normas entrariam em vigor apenas após o congresso seguinte à revisão. O que significava que quem ganhar as directas que se aproximam será o futuro candidato do PS às legislativas.
Mesmo havendo possibilidade de tornear esse calendário de forma extraordinária, essa hipótese era remota. Isto porque os estatutos que um congresso à margem da norma definida teria sempre de passar pelo secretário-geral, ou pela sua aprovação da Comissão Nacional ou pela vontade expressa da maioria das federações do PS.
Na reunião de ontem, Seguro antecipou-se aos críticos partindo logo para o ataque. Anunciou a sua recandidatura ao cargo na intervenção inicial da comissão política em nome de uma cultura que "nada tem que ver com a cultura do PSD", invocando os princípios do respeito, solidariedade e lealdade.
Foi um discurso duro que visou aqueles que exigiam a antecipação das eleições internas, responsáveis - nas palavras de Seguro - pelo "ambiente de facção" que se vivia há muito no interior do PS. E que o líder acusou de enfraquecerem o PS num momento em que os portugueses mais precisavam do partido. Acusou ainda os promotores da aceleração dos calendários de "hipocrisia e cinismo". "Não admito que nenhum combate político seja condicionado por agendas pessoais, pela mera ambição pessoal e o regresso ao passado", afirmou na reunião.
Os ataques ao outro campo já se faziam antes do arranque da reunião da comissão política. À porta da sede do partido, dois dirigentes falavam de traição. Sem querer nomear o alvo dos ataques, Miguel Laranjeiro e João Ribeiro não tiveram pejo em ser duros sobre o que se assistira nos últimos dias. "É uma deslealdade nunca vista. Costumávamos assistir a isto no PSD, mas no PS não havia registo histórico", atirava João Ribeiro. Miguel Laranjeiro diria o mesmo por outras palavras. "Trata-se de uma deslealdade em relação à direcção do partido e em relação ao secretário-geral. Há milhares de militantes a darem o seu melhor e não mereciam isso

O exemplo de Sampaio

Ao longo da tarde de ontem, foram-se tornando visíveis algumas movimentações, que indiciavam a decisão de contestar a liderança de António José Seguro no Largo do Rato. Por exemplo, contactos realizados, um pouco por todo o país, para aferir apoios.
Ao que o PÚBLICO apurou, apoiantes de António Costa mandaram fazer uma sondagem para perceber qual a receptividade dos militantes ao cenário de vir a acumular as funções de secretário-geral do PS e presidente da Câmara de Lisboa. Essa sondagem foi feita em meados de Janeiro, muito antes de Costa criticar António José Seguro sobre a não participação dos deputados socialistas na comissão de reforma do Estado, ou da entrevista de Pedro Silva Pereira à Renascença, onde defendeu a antecipação do congresso do PS. Para que os prazos estatutários sejam cumpridos, as eleições directas não poderiam acontecer antes do último fim-de- semana de Março. Mas como este coincide com a Páscoa, o natural é que sejam adiadas para o primeiro de Abril.
Também ontem, ensaiavam-se os argumentos para justificar a acumulação das candidaturas à liderança interna e a Lisboa. Costistas lembram que em 1989 Jorge Sampaio foi eleito secretário-geral do partido, um posto que deteve até 1991. Também em 1989, Jorge Sampaio foi eleito presidente da Câmara Municipal de Lisboa, tendo sido reeleito em 1993. E que vários primeiros-ministros, socialistas e sociais-democratas (Cavaco, Guterres, Sócrates) foram simultaneamente secretários-gerais do partido

Sem comentários: