quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

PARA ALÉM DO DESAFIO DA ENVOLVENTE DO JARDIM BOTÂNICO E DO PP DO PARQUE MAYER ... por António Sérgio Rosa de Carvalho. 15/11/2010


Galeria central interior dos Banhos de São Paulo, [1953]


Banhos de S. Paulo depois da conclusão do Projecto para Sede da Ordem dos Arquitectos



Heron Castilho


Muito Brevemente vai iniciar-se a "batalha" pela preservação da envolvente do Jardim Botânico (agora Monumento nacional) onde é fundamental que o conceito e a filosofia do Plano de Pormenor do parque Mayer seja revista de forma critica ... e que este processo leve a um novo Plano, incluindo na envolvente, a revisão da tendência para o aumento de volumetrias, nivelamento de cérceas, betonização de logradouros, alteração do sistema de vistas e skyline, criação de barreiras à volta do Jardim Botânico que vão alterar o próprio eco-sistema do Jardim ao alterar o sistema de circulação de ar, brisas e vento ...
Mas todo este processo, está essencialmente e na sua origem, ligado às mentes arquitectónicas e à maneira de como a sua 'lente de visão mental e criativa' perspectiva a relação com o Património.
Basta visitarmos o edifício dos Antigos Banhos de S.Paulo, agora simbólicamente sede da Ordem dos Arquitectos, para termos uma ilustração clara de como uma 'certa' geração de Arquitectos, encara uma intervenção num edifício com Valor patrimonial e Memória Histórico-Cultural ...
Ela simboliza também, em Portugal, uma ausência de uma cultura de Restauro com Arquitectos especializados, e uma impotência, incapacidade e incompetência ( a que os técnicos dependentes das chefias nomeadas pela Partidocracia muitas vezes são alheios) por parte das Instituições estatais que deveriam garantir um equilíbrio entre a defesa do Património e o 'síndrome' criativo dos Arquitectos, que tende para reinterpretar, alterar, demolir, depurar, minimalizar, deixando uma assinatura irreversível e definitiva ...
Claro que a Génesis deste próprio fenómeno reside no ensino mesmo da Arquitectura ...Nos Países do Norte da Europa a História da Arquitectura, precisamente para garantir um equilíbrio de consciência Cultural e um sentido de responsabilidade perante o Património, é leccionada por Historiadores de Arquitectura formados numa perspectiva das Letras e Humanidades ...
Os resultados são visíveis por toda a Lisboa Romântica ... onde o Heron Castilho foi um dos primeiros exemplos ... mas onde esta tendência está instalada ... e tem sido ilustrada neste 'blog' ... num fenómeno 'freak', que eu classifiquei como "Intervenções Cyborg" nas páginas do Público ...
Portanto aos discutirmos as questões do Jardim Botânico ou do PP do Parque mayer ... não as podemos separar das questões da própria revisão do PDM e da 'Filosofia' e das 'Tendências' a ele adjacentes ...
Mas voltemos aos Banhos de S. Paulo ... este edificio constituia um dos raros exemplos de interiores onde uma simbiose indivisivel era conseguida entre uma Arquitectura de Ferro na herança da escola de Engenharia Françesa 'na linha' de Durand e uma erudição Neo-Clássica ... concebido e construido pelo Engenheiro Françês Pièrre Auguste Pézerat (1800-1872)
Depois de várias peripécias ..."Em Setembro de 1978, um artigo do professor
José-Augusto França, publicado no Diário de
Lisboa, alerta para o perigo de venda do imóvel
e sua demolição, propondo a classificação patrimonial.
Ainda nesse ano, o edifício foi colocado
à venda pela Companhia, mas desencadeando-se
sensivelmente ao mesmo tempo o processo de
classificação como Imóvel de Interesse Público,
já depois de se dar a sua aquisição pela Câmara
Municipal de Lisboa, em 1980, inicialmente previsto
para transformá-lo em Museu da República,
sendo provisoriamente cedido, em 1983, à Junta
de Freguesia de São Paulo, como espaço recreativo
e ginásio infantil."
Apesar disto o projecto para a instalação da Ordem dos Arquitectos foi submetido a um 'concurso de ideias' e o resultado está à vista tanto no exterior como nos interiores ... como é ilustrado, nestas duas imagens comparativas dos interiores que vos ofereço ...
Lisboa, 15 de Novembro de 2010. António Sérgio Rosa de Carvalho.
Historiador de Arquitectura

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