quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

É imperativo criar o Grupo de Salvaguarda da Baixa Pombalina e fundar uma Frente Cultural de Resistência, por António Sérgio Rosa de Carvalho.

06/01/2011



Agora que, depois de várias críticas, o vago, generalista, impreciso e precisamente “utilizável’ de forma multifacetada, Plano de Salvaguarda da Baixa Pombalina foi aprovado pela Assembleia Municipal ... urge reunir energias, e orientar e organizar esforços de resistência ... e de vigilância permanente.
Acima de tudo é preciso também eleger um local simultaneamente concreto e simbólico que apresente as características arquétipas do Pombalino ... afim de que ele se possa tornar numa referência de resistência e um exemplo para outras intervenções ...
Que local melhor e mais emblemático, mais ilustrativo do que o Largo de S. Paulo? ... ainda intacto e detentor das mansardas arquétipas de Mardel e da tipologia inicial de Eugénio dos Santos...
Além disso ele forma um conjunto arquitectónico com o seu monumento e fonte central, a sua Igreja e o vizinho Mercado da Ribeira e actividades comerciais inerentes,ideal para constituir um Local- Referência, capaz de desenvolver um exemplo estimulante e contangiante do enquadramento perfeito para a vivência quotidiana de um verdadeiro Bairro.
Ora nós sabemos que existe um projecto para o Mercado da Ribeira ... percebem-se as intenções mas desconhecem-se os detalhes ... e entretanto o exemplo já dado por mim de uma intervenção na Rua do Arsenal,( mansarda na primeira imagem) exemplo total daquilo que pode acontecer no futuro, quando o IGESPAR deasaparecer definitivamente das intervenções na Baixa, faz adivinhar o pior ...
É portanto fundamental criar uma Frente de Resistência e Vigilância, capaz de exigir uma intervenção exemplar no ponto de vista Patrimonial e que leve , através do seu sucesso a um Grupo de Salvaguarda da Baixa Pombalina, onde Académicos, Jornalistas, gente da Cultura, técnicos, artesãos ... enfim... todos os Cidadãos preocupados e interessados ... possam agir.
Já várias vezes, quando me referindo ao Largo de S. Paulo, destaquei o exemplo Londrino de Convent Garden ... mas existe um exemplo mais ilustrativo ... o de Spitalfields, bairro Londrino no East End, sobre o qual vale a pena nos debruçarmos e aproximarmos como “caso” comparativo ...




Mercado da Ribeira


Spitalfields. Mercado

O Mercado de Spitalfields criado no reinado de Carlos I (1638)conheceu diferente periodos de importância e decadência, servindo diversas comunidades através dos séculos ...tendo sido o mais importante precisamente o periodo em que toda a área se afirma como zona de comerciantes e centro de tecelagem das sedas, a partir do início do Sec. XVIII com a vinda de uma importante comunidade de Hugenotes ( Protestantes Franceses fugindo da intolerância determinada com a revogação do édito de Nantes por Luis XIV ) o que levou por sua vez ao desenvolvimento urbano num estilo "Georgian" que caracteriza a área ...
Curiosamente, a intervenção recente por Norman Foster em parte importante do Mercado, que causou resistência e polémica, só tomou lugar como ponto culminante e posterior ( como elemento consolidador, e não como início `dinamizador´ à priori, como pretende ser a intervênção na Ribeira ) a todo um processo de luta pela Conservação e Restauro exemplar das suas ruas e conjunto de casas, em todas as suas características `Georgian` exteriores e interiores, como passo a ilustrar, tendo esta área se tornado num símbolo de Resistência e Salvaguarda e exemplo de uma vitória exemplar Conservacionista.






A seguir ao periodo Georgian caracterizado pela intensa actividade do Comércio e Tecelagem de sedas, a área entrou num processo de decadência e empobrecimento progressivo ao longo do SécXIX e da época Vitoriana.
Assim esta era uma das áreas menos recomendáveis de Londres, dominada pela miséria e crime ... era aqui, na zona de Brick Lane que o famoso Jack the Ripper actuava e este processo foi se acentuando através do Séc. XX , tendo toda a área se transformado em zona de `sweat shops`de imigrantes asiáticos ... no entanto e miraculosamente, as características arquitectónicas das casas e o seus interiores mantiveram-se intactas, embora em profundo estado de degradação ( tal como no Largo de S.Paulo e em muitas outras zonas da Baixa)







No presente depois de uma batalha iniciada a partir dos finais dos anos 60 num Movimento Conservacionista de Resistência criado por um Historiador de Arquitectura, hoje famoso, e interveniente assiduo em séries da BBC dedicadas ä História da Arquitectura, esta zona completamente restaurada, tornou-se numa das zonas mais apeteciveis e apreciadas de Londres.






O herói e aglutinador de energias e iniciativas, desta gloriosa e bem-sucedida batalha conservacionista, o Historiador de Arquitectura Dan Cruickshank ainda habita na zona numa casa paradigmática ...


No entanto, na epoca em que ele os seus companheiros de luta, chegaram a dormir em casas, acampados para impedir a sua demolição, os seus interiores apresentavam este ambiente ...



Esta é a casa de Dan Cruickshank no presente ... fruto de de uma dedicação onde a sensibilidade estética sintoniza-se com um grande rigor histórico, produzindo um ambiente único


Tudo isto foi conseguido por um grupo de pessoas que através de grande determinação, preseverança e teimosia conseguiram fundar a Spitafields Trust, que num processo de contágio e reconhecimento, conseguiu desenvolver peritagem e fundos para restaurar 60 casas ao longo destes anos...


Esta casa-Museu fantasista e interpretativa ...a casa Dennis Severs em Folgate Street, ficou como um simbolo a visitar







Vários artesãos e habitantes, tais como este, Jim Howet, especialista no restauro de Lojas e suas fachadas , carpinteiro e escultor , são os heróis deste processo glorioso ... em baixo vários exemplo de antes e depois ...










Várias pessoas, entretanto famosas, como a escritora Jeanete Winterson, optaram por viver nesta área e participarem, depois do Restauro das suas casas, na vida quotidiana da Comunidade e do Bairro , com diversas iniciativas ... neste caso um estabelecimento “green” de mercearia fina e “delicatesses”gastronómicas, apropriadamente chamado “Verde”...







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